Israel diz que 90 membros do Hamas foram mortos e 300 suspeitos interrogados em três dias de operação no Hospital al-Shifa

Palestinos deslocados fogem da área nas proximidades do hospital al-Shifa, em uma carroça puxada por um burro
Palestinos deslocados fogem da área nas proximidades do hospital al-Shifa, em uma carroça puxada por um burro — Foto: AFP

As Forças Armadas de Israel (FDI) afirmaram, nesta quarta-feira, que cerca de 90 homens do Hamas foram mortos no âmbito da operação contra o hospital al-Shifa, iniciada na segunda-feira. Israel justifica a operação contra o maior hospital de Gaza afirmando que houve um reagrupamento de inimigos no local. As Brigadas al-Qassam afirmaram que combatem as tropas israelenses na área.

Trezentos suspeitos de envolvimento com atividades terroristas foram interrogados e 160 foram transferidos para averiguação, ainda de acordo com os militares israelenses, que acrescentaram que armas foram localizadas dentro do hospital e que suas tropas “operaram evitando danos aos pacientes, funcionários e equipamentos”.

Além da operação no hospital al-Shifa, o balanço israelense sobre as últimas 24 horas de operações também relata ofensivas contra posições do Hamas no norte de Gaza, em Jabalya e em Khan Younis. Somadas, as ações vitimaram cerca de 100 pessoas (o número é impreciso, pois o número de alvos em al-Shifa é aproximado). A conta é similar ao divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

De acordo com a autoridade de saúde do grupo palestino, 104 pessoas morreram e 162 ficaram feridas nas últimas 24 horas. Pela contagem oficial palestina, 31.923 pessoas morreram e 74.096 ficaram feridas desde o início da guerra na Faixa de Gaza.

A situação no enclave palestino provoca cada vez mais preocupação na comunidade internacional, que tenta negociar algum tipo de alívio nas atividades militares para facilitar a entrega de insumos, sobretudo alimentos e água, em todas as regiões do território.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embarcou para mais uma missão no Oriente Médio, nesta quarta-feira, em uma nova tentativa de mediar o acordo. Ele deve chegar à Arábia Saudita nesta quarta e no Egito na quinta. A influência americana nas tratativas, no entanto, não foi decisiva até o momento e vive certo desgaste.

Em uma ida ao Knesset na terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu reafirmou a necessidade de invadir a cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, apesar de ter sido alertado por Joe Biden, em um telefonema no dia anterior, de que o movimento seria um erro.

— Deixei o mais claro possível ao presidente [dos EUA] que estamos determinados a completar a eliminação destes batalhões em Rafah, e não há forma de o fazer sem uma incursão terrestre — disse Netanyahu aos legisladores.

Embora equipes técnicas de Israel continuem no Catar para avançar com as negociações, após o Hamas moderar suas exigências e aceitar um cessar-fogo temporário, em vez de um definitivo, o tom entre representantes palestinos é crítico com relação ao avanço das hostilidades.

Ontem, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Israel de boicotar as negociações, depois que o Exército israelense informou ter eliminado dezenas de combatentes em al-Shifa.

“O ataque deliberado contra policiais e funcionários governamentais em Gaza ilustra os esforços [israelenses] de semear o caos e perpetuar a violência. [Também] revela o empenho dos dirigentes da ocupação [israelense] em sabotar as negociações atuais em Doha”, afirmou Haniyeh em nota. “As ações das forças de ocupação sionista no complexo médico de al-Shifa confirmam sua intenção de dificultar a recuperação da vida em Gaza e desmantelar aspectos essenciais para a existência humana”.

Um relatório da ONU, publicano na segunda-feira, aponta que cerca de 300 mil pessoas que vivem no norte de Gaza correm o risco de entrar na definição técnica de fome, o mais tardar em maio, se a situação não mudar. No mesmo relatório, as agências da ONU alertaram que metade da população de Gaza se encontra numa situação alimentar “catastrófica”.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volter Turk, alertou que as restrições à entrada de ajuda em Gaza “podem equivaler a usar a fome como método de guerra, o que constitui um crime de guerra”. (Com AFP e NYT)

Fonte: O Globo

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