Israel divulga vídeos de dentro do hospital al-Shifa, em Gaza, onde acusa Hamas de coordenar atividades; assista

Forças Armadas de Israel mostram maior hospital da Faixa de Gaza por dentro e dizem que local era usado por terroristas do Hamas para coordenação de atividades
Forças Armadas de Israel mostram maior hospital da Faixa de Gaza por dentro e dizem que local era usado por terroristas do Hamas para coordenação de atividades — Foto: Reprodução

O Exército de Israel invadiu o hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza e onde estão abrigados milhares de civis, na madrugada desta segunda-feira. Segundo as Forças Armadas, a operação ocorreu porque havia evidências de que integrantes do grupo terrorista Hamas utilizavam o espaço para coordenar suas atividades no enclave. Vídeos divulgados pelas Forças Armadas israelenses mostram partes da operação e exibem espaços dentro da unidade de saúde onde o grupo supostamente guardava armas e recursos financeiros. Em comunicado, o Hamas afirmou que Israel “mirou diretamente” no complexo “sem se importar com os pacientes, equipe médica e os deslocados” que se abrigavam ali.

De acordo com autoridades israelenses, mais de 200 pessoas foram detidas e 20 membros do Hamas foram mortos na ação, incluindo o chefe de segurança interna do grupo palestino, Faiq Mabhouch. O Exército de Israel disse que Mabhouch era responsável pela coordenação das atividades do Hamas em Gaza. O grupo confirmou a morte, mas declarou que ele estava encarregado de comandar a ajuda humanitária no norte do enclave e, portanto, deveria ter sido protegido pela lei internacional.

“O fracasso da comunidade internacional e das Nações Unidas em agir contra o Exército de ocupação foi um sinal verde para que continuassem com a guerra genocida e com a limpeza étnica que estão cometendo contra nosso povo, uma das bases das quais é a destruição de instalações médicas na Faixa de Gaza”, escreveu o grupo, acrescentando que solicita que “instituições internacionais cumpram suas responsabilidades e protejam as instalações médicas restantes no território”.

Em outro pronunciamento, as brigadas Qassam, braço militar do Hamas, disseram que seus integrantes estavam “envolvidos em fortes confrontos com forças inimigas” perto do hospital. O Exército israelense afirmou que os soldados revidaram com disparos quando membros do grupo terrorista atiraram de dentro do complexo. Na tentativa de corroborar suas afirmações, Israel divulgou um vídeo em que supostos integrantes do Hamas atiram contra forças israelenses. Assista abaixo:

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, as forças de Israel lançaram mísseis contra a unidade hospitalar e dispararam contra as salas de cirurgia. À AFP, testemunhas disseram que o bairro de al-Rimal, onde está localizado o hospital, foi atingido por ataques aéreos, com “mais de 45 tanques e veículos blindados de transporte de tropas israelenses” tendo entrado na área. A al-Jazeera publicou que a incursão teve início com um grupo de forças especiais de Israel entrando no hospital disfarçado de civis. Na sequência, “veículos militares, tanques, drones de vigilância e helicópteros cercaram o complexo e começaram a disparar”.

O rede catari disse ter documentado “centenas de pessoas” em deslocamento após a invasão do hospital. Moradores dos arredores foram instados pelas Forças Armadas de Israel a seguir para o sul até a área de al-Muwasi, a 30 quilômetros de distância. O Exército, porém, ressaltou que os pacientes e a equipe médica não eram obrigados a se retirar, e que intérpretes da língua árabe foram levados ao hospital para “facilitar o diálogo com os pacientes que permanecerem” em al-Shifa.

As autoridades indicaram que seus soldados foram instruídos “sobre a importância de operar com cautela, bem como sobre as medidas a serem tomadas para evitar danos aos civis, equipe médica e equipamentos médicos”. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, no entanto, atiradores israelenses dispararam contra qualquer pessoa que tentasse sair do local. O órgão disse que a incursão causou um incêndio na entrada do complexo e que houve casos de mulheres e crianças asfixiadas. A pasta afirmou que a comunicação com pessoas presas dentro das unidades de cirurgia e emergência de um dos prédios foi interrompida.

Mais tarde, as Forças Armadas anunciaram que o sargento israelense Matan Vinogradov, de 20 anos, morreu em uma troca de tiros na área do hospital. Sua morte elevou para 250 o número de soldados mortos na ofensiva terrestre do Exército de Israel contra o Hamas.

Os militares israelenses disseram que lançaram o ataque com base em novas informações de que integrantes do Hamas atuavam no hospital, quatro meses depois que as forças israelenses invadiram o complexo pela primeira vez e encontraram uma entrada para um túnel que, disseram, confirmava sua alegação de que o grupo usava o local para esconder operações militares.

Vídeos divulgados pelo Exército mostram o hospital al-Shifa por dentro. Neles, os militares afirmam ter encontrado recursos financeiros destinados ao grupo, bem como armamentos. Em uma das gravações, um soldado diz que as Forças Armadas abriram um cofre e encontraram dinheiro (assista abaixo).

Nesta segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse estar “terrivelmente preocupada” com os combates perto de al-Shifa, que hoje funciona com capacidade mínima e tem uma equipe reduzida. No X, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que a situação “está colocando em perigo os trabalhadores da saúde, pacientes e civis” e que “qualquer hostilidade ou militarização das instalações põe em risco os serviços de saúde, o acesso de ambulância e a entrega de suprimentos que salvam vidas”. Segundo a ONU, menos de um terço dos hospitais do território está em funcionamento – e apenas de maneira parcial.

A incursão das Forças Armadas ocorre em meio às esperanças de que um acordo de cessar-fogo entre o Hamas e Israel possa ser alcançado em uma nova rodada de negociações que deve começar nos próximos dias, e diante dos temores de uma ofensiva iminente em Rafah, cidade mais ao sul de Gaza que agora abriga 1,4 milhão da população de 2,3 milhões do território. A ofensiva também é realizada num contexto de pressão internacional contra o avanço das forças israelenses em Rafah, e para que Israel atue para mitigar os impactos humanitários no enclave.

Durante a invasão em al-Shifa, o Exército israelense deteve o repórter da al-Jazeera Ismail al-Ghoul, denunciou a rede catari. Segundo relatos do jornalista palestino Imad Zaqqout e de outras testemunhas, al-Ghoul foi espancado por soldados de Israel antes de ser detido com dezenas de homens e mulheres dentro da unidade. Ele estaria identificado como membro da imprensa, e seus equipamentos de trabalho teriam sido destruídos. Segundo a Al-Jazeera ele foi solto após 12 horas sob custódia.

Fonte: O Globo

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