Intervir em estatais é fatal para o investimento, diz pesquisador

Petrobras
Segundo Sérgio Lazzarini, “as estatais, mesmo aquelas com controle majoritário estatal, são do Estado, não do governo em exercício”; na foto, fachada da Petrobras

Sérgio Lazzarini, professor do Insper que estuda a relação entre governos e o setor privado, disse que a interferência do Executivo em estatais ou empresas de capital aberto tem provocado incerteza na economia.

O acúmulo de interferências com fins políticos ou populistas, como já vimos no passado, vai criando um crescente cenário de incerteza. Qual será a próxima estatal, empresa ou setor que será alvo dessas intervenções? E incerteza é fatal para os investimentos, o planejamento e a produtividade das empresas”, declarou em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta 4ª feira (27.mar.2024). 

Lazzarini citou como exemplo a Petrobras. Ele afirmou ter visto no debate público o argumento de que, como a empresa é controlada pelo governo, o Planalto teria o direito de exercer seu papel de controlador e que o mercado busca impor o que considera melhor para seus interesses. 

Tudo isso é uma leitura incorreta da situação”, disse. “As estatais, mesmo aquelas com controle majoritário estatal, são do Estado, não do governo em exercício. Elas deveriam seguir o que é estabelecido na lei que norteou sua criação, no que é definido pelos seus estatutos, no que é disciplinado pelas leis corporativas cabíveis e no que é preconizado pelos órgãos de controle e regulação”, acrescentou. 

Segundo ele, uma estatal “pode e deve” seguir objetivos públicos e sociais, desde que ancorados em um estatuto. 

As melhores estatais no mundo fazem isso, inclusive aquelas de capital misto e negociadas em Bolsa. Se os objetivos são claros e institucionalmente ancorados, investidores privados percebem um cenário menos incerto para investir na estatal e no seu setor. E segue o jogo”, declarou. 

O professor disse que governos, por diversas vezes, “preferem mandar diretamente nas empresas para contentar sua base política e a visão dos seus apoiadores”, sem perceber que a ação os prejudica. Ele afirmou que essa pode ser a situação enfrentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

O governo atual e seus apoiadores defendem as atuais intervenções, mas certamente não irão gostar quando um novo governo com outra orientação ideológica assumir e intervir”, disse.

Lazzarini declarou que a intervenção de governos em estatais é algo que está se disseminando em muitos países e abrange diversos espectros políticos. 

Os políticos em geral descobriram que falar mal das grandes empresas e dos mercados pode render atenção e votos”, afirmou. “Só que, em países com instituições mais fortes, há menos canais de intervenção e mais anteparos”, continuou. 

No Brasil, alguns remédios, ainda que imperfeitos, foram criados. A Lei das Estatais tentou criar mecanismos mais técnicos para indicação de gestores e foi acompanhada por ações de monitoramento das estatais. Só que, pouco a pouco, esses avanços vêm sendo corroídos”, finalizou. 

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Fonte: Poder360

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