Integração, geopolítica e multilateralismo

Bandeiras dos países da Celac
Articulista afirma que região precisa se unir para combater matrizes produtivas e econômicas injustas e desiguais; na imagem, bandeiras dos países integrantes da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos)

A América Latina e o Caribe compõem a região mais desigual do planeta. A matriz desse problema estrutural reside, de acordo com um estudo da Cepal de 2016, na própria heterogeneidade que caracteriza os países da região. Três dimensões que ilustram esse fenômeno contemplam as lacunas de gênero, étnicas e raciais existentes, as desigualdades vinculadas aos ciclos de vida e as diferenças territoriais (em áreas rurais e urbanas).

No Brasil, por exemplo, se concentra uma grande parte da população afrodescendente da região, que até a década de 2000 se encontrava praticamente invisível às políticas públicas qualificadas. Em relação às desigualdades territoriais, a Argentina apresenta níveis de concentração territorial do PIB cujos percentuais de desigualdade estão muito acima, por exemplo, dos países da OCDE.

Nesse contexto, promover e estimular uma maior igualdade social e econômica implica não só fortalecer os direitos das pessoas, mas também trabalhar para criar um desenvolvimento e crescimento sustentáveis com bases mais sólidas, com maior participação laboral, produtiva, institucional e cidadã, numa abordagem conhecida como de baixo para cima.

Mas o que significaria esse tipo de enfoque?

Em princípio, duas coisas. Que a contribuição seja necessariamente um compromisso com a integração que envolva estratégias e soluções geopolíticas; e que valorize o protagonismo de fóruns internacionais e acordos globais para estabelecer acordos robustos de médio e longo prazo em favor da região.

Em relação ao 1º ponto, o trabalho que os organismos de financiamento com atuação na América Latina e no Caribe têm desenvolvido nos últimos anos constitui uma contribuição enorme para os países da região. Em 1º lugar, por meio de obras de conectividade física, transporte e energia; a criação de cadeias regionais de valor; a superação das barreiras físicas, não tarifárias e logísticas que dificultam a interconexão comercial entre os países; e o desenvolvimento das zonas fronteiriças.

Exemplos disso foram os históricos apoios multilaterais às comunidades de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), do Caribe (Caricom) e Andina de Nações (CAN), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Aliança do Pacífico (AP) e a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), dentre muitos outros espaços institucionais que trabalham pela integração dos países.

Em 2º lugar, organismos como a CAF (banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o Banco Mundial e o Fonplata conduzem uma agenda de coordenação, cooperação e convergência que abrange temas de desenvolvimento econômico, comercial, político e socioambiental e que visa a contribuir para o fechamento de lacunas, além de facilitar a não duplicação de financiamento nas mesmas áreas.

Exemplo desse trabalho colaborativo é a iniciativa Rotas da Integração, um projeto da CAF, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil), do BID e do Fonplata que, por meio de um financiamento de US$ 10 bilhões, busca garantir a execução de projetos estratégicos para facilitar o comércio, a troca e a prestação de serviços e o desenvolvimento de infraestrutura de conectividade entre os países da região.

Também é importante nesse processo, a contribuição dos fóruns internacionais e dos acordos globais e regionais para contribuir para o fechamento das lacunas sociais e econômicas constitui um elemento central para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe. Talvez o antecedente recente mais bem-sucedido nesse sentido seja o Consenso de Brasília que, em maio de 2023, estabeleceu o firme acordo dos países da América do Sul para criar e estimular iniciativas conjuntas de cooperação, diálogo e respeito à diversidade, à democracia, aos direitos humanos e à estabilidade institucional dos governos.

Nessa mesma linha, insere-se o trabalho que o país realiza sob sua presidência do G20 e cuja marca, neste ano, inclui iniciativas globais para combater a fome e a pobreza em todo o mundo.

A única forma de combater matrizes produtivas e econômicas injustas e desiguais é por meio da integração, da cooperação internacional e do trabalho colaborativo entre os organismos de desenvolvimento e os setores públicos e privados. Os projetos, propostas de valor e iniciativas que nossos mecanismos locais, regionais e globais possam promover nesse sentido serão as soluções que garantirão o crescimento, o desenvolvimento e a sustentabilidade de amanhã.

Fonte: Poder360

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