Inspeção de 2023 identificou deficiência em propulsão de navio-cargueiro que derrubou ponte nos EUA

O navio porta-contêineres Dali no porto de Felixstowe, Inglaterra, em 2018
O navio porta-contêineres Dali no porto de Felixstowe, Inglaterra, em 2018 — Foto: Chris Ratcliffe/Bloomberg

Uma inspeção realizada no navio-cargueiro Dali em um porto chileno, no ano passado, indicou que a embarcação apresentava deficiência em “máquinas de propulsão e auxiliares”, mesmo mecanismo que poderia ter apresentado defeito na madrugada desta terça-feira, antes do navio perder o controle, colidir com uma ponte e derrubar a estrutura, na cidade de Baltimore, em Maryland.

A fiscalização, realizada no dia 27 de junho no porto de San Antonio, especificou que a deficiência dizia respeito a medidores e termômetros. O Dali passou por 27 inspeções desde 2015, segundo um banco de dados mantido pela Equasis. A única outra deficiência, um casco danificado que “prejudica a navegabilidade”, foi encontrada em 2016, no porto de Antuérpia. O navio atracou no porto naquele ano. Um porta-voz da proprietária do Dali, Grace Ocean Investment, não quis comentar a deficiência relatada no ano passado.

A embarcação havia partido a menos de 30 minutos para uma viagem planejada de 27 dias, com destino ao Sri Lanka, quando colidiu e derrubou a ponte Francis Scott Key. Ao menos seis pessoas ainda estão desaparecidas.

O navio, que navegava sob bandeira de Cingapura, estava a caminho do Porto Colombo, o maior do país asiático, e deveria chegar lá em 22 de abril, segundo o VesselFinder, um site de rastreamento de navios. O Dali deixou o porto de Baltimore por volta da 1h da manhã de terça-feira.

O navio, com quase 300 metros de comprimento (948 pés) e 50 de largura, tinha dois pilotos e 22 tripulantes a bordo, segundo comunicados da Autoridade Marítima e Portuária de Cingapura e dos proprietários da embarcação, a empresa Grace Ocean Investment. Não houve relato de feridos na equipe.

O Dali foi construído em 2015 pela Hyundai Heavy Industries, com sede na Coreia do Sul. Antes de iniciar a viagem atual, ele retornou do Panamá aos Estados Unidos em 19 de março, ancorando em Nova York. Chegou então no sábado a Baltimore, onde passou dois dias no porto.

A Maersk, gigante da navegação, disse em comunicado que fretou o navio, que transportava carga da empresa. Não havia tripulação da multinacional a bordo, refere o comunicado, acrescentando que uma equipe está monitorando as investigações realizadas pelas autoridades e pelo Synergy Group, que operava o navio.

A ponte Francis Scott Key, inaugurada em 1977, cruza o rio Patapsco, na região do porto de Baltimore, e é uma importante via local. Mais de 12,4 milhões de veículos cruzaram a ponte em 2023, segundo um relatório do governo do estadual. Quando a estrutura foi inaugurada, o New York Times informou que os custos de construção totalizaram US$ 141 milhões, o que equivale a cerca de US$ 735 milhões (R$ 3,6 bilhões) em valores atuais.

A estrutura colapsou por volta da 01h30 (02h30 em Brasília), quando um navio-cargueiro, carregado de contêineres, chocou-se contra um dos pilares de apoio centrais da ponte, provocando uma reação em cadeia. Pouco depois do incidente, autoridades já descartavam qualquer hipótese de terrorismo. A explicação veio horas depois, quando fontes ouvidas pelo New York Times afirmam que a embarcação relatou perda de propulsão por um problema elétrico antes da batida, o que o fez sair do canal principal da zona portuária.

De acordo com o governador de Maryland, Wes Moore, a tripulação do navio enviou um pedido de socorro antes do choque contra a estrutura, o que permitiu a funcionários da prefeitura bloquearem o trânsito para a ponte, evitando que mais pessoas estivessem no local no momento do acidente.

— Sou grato pelas pessoas que, uma vez que surgiu o aviso e uma vez que surgiu a notificação de que havia um pedido de socorro, literalmente conseguiram impedir que os carros passassem pela ponte. Essas pessoas são heróis. Eles salvaram vidas — disse o governador, em um pronunciamento à imprensa.

Autoridades confirmaram que pessoas e veículos caíram da ponte nas águas do rio. Inicialmente, uma estimava divulgada pelo Corpo de Bombeiros local indicava que cerca de 20 pessoas e carros teriam caído na água, mas informações mais recentes apontam para um número bem inferior. De acordo com o secretário de Transportes de Maryland, Paul Wiedefeld, a hipótese atual é de que oito pessoas tenham caído, todas elas trabalhadores que reparavam a ponte.

Horas após o início da operação, os serviços de emergência confirmaram ter retirado duas pessoas do rio, cujas águas estavam a uma temperatura de 9ºC, dentro de uma faixa que representa risco de hipotermia. Ao menos uma delas foi transferida para o hospital em “estado muito grave”, segundo o chefe dos bombeiros, James Wallace. Seis continuam desaparecidas.

O incidente fez o governador do estado do Maryland, Wes Moore, declarar estado de emergência.

Fonte: O Globo

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