Incêndio em pousada: veja como era interior de prédio que pegou fogo e deixou ao menos 10 mortos em Porto Alegre

Segundo as autoridades, o incêndio se espalhou rapidamente, pela proximidade e tamanho pequeno dos quartos
Segundo as autoridades, o incêndio se espalhou rapidamente, pela proximidade e tamanho pequeno dos quartos — Foto: Reprodução/Pousada Garoa

Um incêndio em uma unidade da rede de pousadas Garoa deixou ao menos 10 mortos e 13 feridos — cinco em estado grave —, na madrugada desta sexta-feira. O local, que funcionava de forma irregular, era um prédio simples de quatro andares, com quartos pequenos e camas de solteiro, que acolhia pessoas em situação de rua. A rede de hospedagem é vinculada à prefeitura da capital gaúcha.

A pousada, localizada na Av. Farrapos, tinha quartos por R$ 550 ao mês, assim como as demais unidades da rede, que estão espalhadas pela capital gaúcha, com endereços nos bairros do Partenon, Nonoai, Santana, Cidade Baixa, Jardim Itu, dentre outros. Segundo seu site oficial, a rede opera há 13 anos.

A unidade que pegou fogo, segundo o Corpo de Bombeiros, operava de forma irregular, sem alvará. Segundo as autoridades, o incêndio se espalhou rapidamente, pela proximidade e tamanho pequeno dos quartos.

“Nossas pousadas tem como perfil moradores solteiros e sem filhos. Tanto para mulheres, quanto para homens. Cada morador tem o seu quarto individual”, diz a Pousada Garoa, em seu site oficial.

Veja fotos do interior da Pousada Garoa antes do incêndio:

Relatos obtidos pelo GLOBO apontam que moradores reclamavam das condições precárias da rede, que tem infiltrações e goteiras, além de ratos e baratas.

Na prática, o projeto de acolhimento firmado pela prefeitura e as empresas oferece a oportunidade para que proprietários de imóveis aluguem espaços para pessoas que estão no sistema da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), com garantia de pagamento de aluguel social por parte do Executivo Municipal. Os contratos são válidos por um ano. Após fechar o prazo, a Fasc garante que o pagamento pode ser prorrogado por até mais dois anos, com verba da prefeitura.

Em 2022, uma outra unidade da Pousada Garoa também pegou fogo. Na época, um homem morreu e ao menos outras 10 pessoas ficaram feridas após o fogo consumir parte do edifício localizado na rua Jerônimo Coelho, no Centro Histórico.

Após o ocorrido, a SMDS e a Fasc lamentam o incêndio na pousada, que também possui vagas para o acolhimento de pessoas em situação de rua. Segundo a pasta, a vítima fatal não era vinculada ao programa e, de acordo com a equipe técnica, o local estava com a documentação regular para atendimento.

A pousada é uma das unidades de uma rede vinculada à prefeitura para acolhimento de pessoas em situação de rua. No contrato entre as partes, renovado em dezembro do ano passado pelo prazo de 12 meses, é detalhado que a administração municipal destina mensalmente R$ 225.448,33 para a rede. Em um ano, a Pousada Garoa, que tem unidade funcionando de forma irregular, recebe mais de R$ 2,7 milhões em aluguel social.

O incêndio deixou ao menos 10 mortos e, segundo as autoridades, ainda há pessoas desaparecidas no local. A unidade afetada, na Avenida Farrapos, funcionava sem alvará e plano de prevenção contra incêndios, de acordo com o Corpo de Bombeiros.

O contrato entre a prefeitura e a Pousada Garoa foi firmado inicialmente durante a pandemia, como medida de urgência para hospedagem de pessoas em situação de rua. O GLOBO procurou a Secretaria de Desenvolvimento Social (SMDS) de Porto Alegre para saber se eram realizadas inspeções regulares nas unidades da rede, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A pasta também não informou ainda quantas pessoas em vulnerabilidade moravam na unidade afetada.

Ao UOL, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), disse que vai analisar os documentos do convênio.

— A prefeitura vai aportar todos os documentos que tem na Fasc [órgão responsável pelos contratos] — disse.

Após o ocorrido, o deputado estadual Miguel Rossetto (PT-RS) cobrou uma vistoria rigorosa nas outras unidades da pousada para evitar outras tragédias.

— Isto não é uma fatalidade. Houve falta de fiscalização no PPCI (Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios). Há anos denúncias são feitas sobre o serviço precário prestado por esta pousada. O Corpo de Bombeiros disse hoje que o prédio do acidente não tem alvará para oferecer serviços de hotelaria. É fundamental investigar com rigor e apurar as responsabilidades — disse o deputado ao GLOBO.

Pelas redes sociais, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, afirmou que acompanha com “profunda tristeza” a apuração do incêndio.

“A prioridade agora é o atendimento aos cidadãos resgatados e encaminhados ao HPS. A prefeitura trabalha para acolher os moradores e apoiar a investigação dessa tragédia”, escreveu o político em sua conta no X (antigo Twitter).

Ao menos 13 pessoas feridas foram resgatadas pelo Corpo de Bombeiros no incêndio que atingiu a unidade da pousada localizada na Avenida Farrapos, entre as ruas Garibaldi e Barros Cassal. Segundo a Secretaria de Saúde, cinco delas estão internadas em estado grave. Ainda há pessoas desaparecidas no local.

Inicialmente, a Secretaria de Segurança informou que haviam sete feridos, todos internados em estado grave. No entanto, posteriormente, a informação foi corrigida pela Secretaria de Saúde, afirmando que 9 pessoas foram resgatadas e estão internadas nas unidades Hospital de Pronto Socorro e Hospital Cristo Redentor.

Seis pacientes estão em tratamento no Hospital Pronto Socorro, quatro delas em estado grave: dois foram entubados, um por trauma e um por inalação de fumaça. No Hospital Cristo Redentor, estão os demais pacientes: um com 20% do corpo queimado, um com ferimento no tornozelo e outro ainda sem mais detalhes.

Ainda segundo a pasta, o incêndio começou às 3h45 da manhã, tomando o prédio que conta com quatro pavimentos. Segundo o coordenador de segurança, foram enviados cinco caminhões para apagar o fogo, e a perícia ainda está no local, com a Polícia Militar e bombeiros.

Fonte: O Globo

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