Há um novo genocídio armênio

Protesto para reabrir estrada bloqueada que liga a região de Nagorno-Karabakh à Arménia
Protesto para reabrir estrada bloqueada que liga a região de Nagorno-Karabakh à Arménia — Foto: Karen Minasyan/AFP

Mais de um século depois de terem sido alvo de um genocídio cometido pelos turcos, os armênios novamente são alvo de genocidas. Desta vez, o perpetrador é o regime do Azerbaijão, que impõe um bloqueio a um enclave armênio no território azeri, conhecido internacionalmente como Nagorno Karabakh, mas chamado também de República de Artsakh pelos armênios. Ao todo, cerca de 120 mil habitantes de origem armênia são alvo de um bloqueio no corredor de Lachin, que liga a Armênia a esta área. A população está sem acesso a remédios e alimentos, passando fome e morrendo de doenças que poderiam ser tratadas.

As informações integram relatório do argentino Luiz Moreno Ocampo publicado em agosto. Ex-presidente do Tribunal Penal Internacional e um dos promotores que conseguiram levar para a prisão os líderes da ditadura da Argentina, o jurista atualmente baseado em Nova York afirma haver evidências de que um genocídio é cometido pelo Azerbaijão e pede ações imediatas para evitar a destruição deste grupo de armênios algumas semanas.

Das lideranças ocidentais, apenas o presidente da França, Emmanuel Macron, adota uma postura incisiva nas condenações às ações do Azerbaijão. O líder francês pede que os direitos dos armênios em Nagorno-Karabakh sejam respeitados e não descarta visitar Ierevan, capital da Armênia, nas próximas semanas. Já Joe Biden segue em silêncio sobre as atrocidades cometidas pelo Azerbaijão. Seu secretário de Estado Anthony Blinken conversou nesta quarta com o ditador azeri Ilham Aliyev, mas houve pouco avanço. Segundo comunicado do Departamento de Estado, o chefe da diplomacia norte-americana expressou “preocupação com a deterioração da situação humanitária” no enclave e pediu a reabertura do corredor de Lachin.

O governo dos EUA, no entanto, teria inúmeras formas de pressionar a ditadura do Azerbaijão a encerrar o bloqueio, a começar pela imposição de sanções ou ao menos suspender a ajuda ao regime azeri. O problema é que Biden parece ter olhos apenas para a Ucrânia. Toda a pressão está focada na Rússia e os norte-americanos precisam recorrer a ditaduras como a da Arábia Saudita e a do Azerbaijão – o país é considerado mais ditatorial do que o Irã e Cuba no ranking da Freedom House, que mede o índice de democracia ao redor do mundo. A Casa Branca não pune o Azerbaijão em troca de a ditadura fornecer armamentos para a Ucrânia e incrementar a venda de petróleo e gás.

A república armênia de Artsakh, no enclave de Nagorno-Karabakh dentro do Azerbaijão, é ligada à Armênia pelo corredor de Lachin, de cerca de 6 km, que atravessa o território azeri. Mas a ditadura de Baku bloqueou este acesso, que era monitorado por forças de paz da Rússia, levando adiante o que pode se configurar como genocídio. Os armênios, que são um dos povos cristãos mais antigos do planeta, possuem poucos aliados no mundo. Em uma geopolítica complexa, são apoiados pelo Irã e contam com simpatia da França. Já o Azerbaijão, xiita, é aliado da Turquia e recebe armamentos de Israel. A Rússia, antes pró-Armênia, mudou de postura recentemente, se aproximando dos azeris.

Os armênios foram alvo de um genocídio no século 20 cometido pelo regime dos Jovens Turcos durante o Império Otomano. Centenas de milhares foram mortos nas marchas da morte. A civilização armênia na Anatólia foi destruída. O mundo não pode permitir que mais uma vez armênios sejam massacrados.

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.