Guerra nas estrelas: Rússia veta resolução do Conselho de Segurança da ONU para proibir uso de armas nucleares no espaço

Plenário do Conselho de Segurança da ONU
Plenário do Conselho de Segurança da ONU — Foto: ANGELA WEISS/AFP

A Rússia vetou, na quarta-feira, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que pretendia reafirmar o compromisso global contra o uso de armas nucleares no espaço, rejeitando esforços dos Estados Unidos, que acusam Moscou de desenvolver um projeto nuclear espacial com capacidade de atingir satélites na órbita baixa do planeta.

O projeto de resolução enfatizava que os países não devem desenvolver armas nucleares ou qualquer outro tipo de armas de destruição em massa destinadas a serem colocadas no espaço. A proposta também reafirmava que os países devem “cumprir integralmente” suas obrigações nos termos do Tratado do Espaço Sideral de 1967, que proíbe armas nucleares em órbita.

Treze dos 15 membros do Conselho de Segurança votaram a favor da resolução, enquanto a China se absteve. O voto negativo da Rússia, que detém poder de veto como membro permanente do conselho, foi suficiente para bloqueá-lo.

— Eles [os EUA] estão tentando retratar nosso país como desinteressado em evitar uma corrida armamentista no espaço — disse o embaixador russo Vasily Nebenzya antes da votação. — Isso é absurdo.

Os EUA revelaram a intenção de propor a resolução semanas depois de Washington dizer que Moscou tinha planos para desenvolver uma arma antissatélite. Pessoas familiarizadas com o assunto disseram que os EUA informaram aliados que a Rússia poderia implantar uma arma nuclear no espaço ainda este ano. O presidente Vladimir Putin negou as alegações.

“Como já observamos anteriormente, os Estados Unidos avaliam que a Rússia está desenvolvendo um novo satélite com um dispositivo nuclear”, disse o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan, em um comunicado após a votação. “Ouvimos o presidente [da Rússia, Vladimir] Putin dizer publicamente que a Rússia não tem intenção de implantar armas nucleares no espaço. Se esse fosse o caso, a Rússia não teria vetado esta resolução.”

Autoridades dos EUA desde então intensificaram a pressão sobre a Rússia para aderir à proposta, que diz reafirmar princípios aos quais ela já concordou como membro do Tratado do Espaço Sideral. O veto provavelmente levantará sérias preocupações em Washington de que Moscou esteja planejando implantar armas nucleares no espaço, disse uma autoridade sênior dos EUA que pediu para não ser nomeada discutindo o tópico sensível, antes da votação.

Ao menos duas iniciativas nucleares russas preocupam os EUA. A primeira delas foi anunciada pelo próprio presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou, em março, ter a pretensão de construir um reator nuclear no espaço. Em uma reunião de cúpula, Putin chegou a prometer recursos para financiar o projeto. Anteriormente, o chefe da agência espacial russa Roscosmos disse estar trabalhando em conjunto para construir um reator nuclear na Lua, em parceria com a China, prevendo a instalação para “algum momento entre 2033 e 2035”.

Contudo, com fontes americanas afirmam que o objetivo russo seria desenvolver uma arma conhecida como PEM nuclear, ou seja, um equipamento capaz de gerar, a partir de energia nuclear, um pulso eletromagnético com partículas capazes de atravessar o espaço e destruir satélites que orbitam a Terra. Washington diz que o plano é de conhecimento dos setores de inteligência, que as pretensões são conhecidas a anos e que ganharam impulso neste ano.

A maior preocupação é com satélites que estão na órbita baixa do planeta, que seriam os alvos mais prováveis, voltados para comunicações civis. O risco para satélites em órbitas mais altas, como os que operam sistemas de GPS e os sistemas nucleares americanos, seriam alvos mais difíceis, mas não impenetráveis. Porém, como não houve lançamento de nenhuma arma ou teste, tudo segue no plano teórico. (Com Bloomberg)

Fonte: O Globo

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