A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, compartilhou fotos usando ao menos 10 cocares, segundo análise do Poder360 nas redes sociais da ministra de 1º janeiro de 2023 a 23 de abril de 2024. Os adereços em sua maioria são compostos por penas de animais e linhas. Segundo a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), a comercialização de artesanato com partes de animais silvestres nativos é proibida no Brasil, sendo o uso permitido somente aos indígenas por questões culturais.
Ao Poder360, a assessoria do Ministério dos Povos Indígenas afirmou que Guajajara costuma ganhar muitos cocares e adereços de outros povos, e todos eles “carregam uma simbologia de empoderamento, carinho, respeito que os povos têm pela ministra como liderança indígena feminina”. Os objetos são guardados na casa da ministra e colocados para “descansar” na parede. Como a maioria é feita de pena e de origem animal, eles precisam ser cuidados, lavados e postos para secar ao Sol regularmente.
A escolha pelo tipo de cocar em eventos oficiais varia de acordo com o evento. Em viagens oficiais a territórios indígenas, Guajajara dá preferência a adereços menores, “pois sabe que vai abraçar muitas pessoas e ter muito contato com seus parentes”. Já em eventos maiores, a ministra costuma usar cocares mais imponentes. Antigamente não era comum as mulheres do povo Guajajara usarem cocares. Com o aumento da representação e protagonismo de lideranças femininas, elas começaram a usá-los na medida em que conquistaram mais espaços de poder.
Em 2023, a ministra ganhou um cocar do Povo Pataxó, do extremo sul da Bahia, durante visita ao território. O líder indígena Samingo Pataxó disse ao Poder360 que uma das características dos cocares Pataxó é que eles começam menores nas laterais e vão crescendo até o meio, onde tem 3 penas maiores, duas menores dos lados e uma bem grande no meio. Segundo ele, apesar do cocar feminino Pataxó ser menor e mais arredondado, em casos de liderança é usado um adereço maior.
Ao ser questionado sobre a confecção dos cocares, Samingo declarou: “Quando a gente tinha esses animais em abundância, quando as nossas florestas eram mais ricas, a gente usava pena de papagaio, de periquito. Agora, até mesmo por uma questão de cuidado com as nossas florestas, a gente usa pena de pato e de ganso, depende muito. A gente tá até fazendo menos cocares por essa questão”.
Por fim, Samingo afirmou que apesar dos cocares serem usados para identificação do próprio povo, quando a Guajajara está no lugar de ministra, ela está representando todos os indígenas. Por isso, para Samingo, quando ela aparece usando um cocar de outro povo indígena, ela mostra respeito e que está assumindo um compromisso.
Acessórios semelhantes aos usados pela ministra podem ser encontrados em sites de marketplace (plataformas de comercialização de produtos de diferentes vendedores) por até R$ 6.000, como um
Há uma opção da etnia Xucuru-Kariri, feita com materiais da mesma ave, por R$ 1.000.
A comercialização de ornamentos com partes de animais silvestres nativos é proibida tendo como pena detenção de 6 meses a 1 ano e multa, de acordo com a lei 9.605, de 1998. A pena ainda é aumentada pela metade, se o crime for praticado contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção.
Para a legislação brasileira, são consideradas espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais.
Fonte: Poder360