Governo peruano investigará denúncias de abuso sexual de 500 estudantes indígenas por professores

Chefe de Gabinete do Peru, Gustavo Adrianzén anuncia que governo vai investigar denúncias de abuso sexual contra meninas indígenas em uma região de selva
Chefe de Gabinete do Peru, Gustavo Adrianzén anuncia que governo vai investigar denúncias de abuso sexual contra meninas indígenas em uma região de selva — Foto: CRIS BOURONCLE / AFP

O governo peruano anunciou nesta segunda-feira que investigará denúncias de abuso sexual de 500 estudantes indígenas por parte de professores em uma região de selva amazônica, em meio à indignação contra dois ministros que tentaram abafar o escândalo e questionaram sobre “práticas culturais” locais. Os abusos e violações datam de 2010, afetando crianças e adolescentes da etnia nativa Awajún que estudam em escolas públicas na província de Condorcanqui, na selva do norte do Peru, perto do Equador, e de quem as idades são desconhecidas.

— Os fatos devem ser investigados, estaremos com as vítimas. Rejeitamos todas as formas de abuso sexual — afirmou o presidente do Conselho de Ministros e porta-voz do governo, Alberto Adrianzén, durante um encontro com correspondentes da imprensa estrangeira.

Segundo Adrianzé, as vítimas terão de receber cuidados de saúde integrais a nível psicológico caso tenham sido infectadas pelo vírus HIV.

— O total de casos relatados é de 524. Peço às autoridades que vão ao local, isto é um holocausto — disse a presidente do Conselho de Mulheres de Awajún, Rosemary Pioc, à rádio RPP.

A dirigente já tinha revelado os casos no dia 30 de maio, quando se reportou às autoridades da Educação. Contudo, as reações de alguns ministros, que atribuíram os abusos a “práticas culturais”, despertou indignação na população.

— Se for uma prática cultural […] exercer uma forma de construção familiar com as jovens, vamos ser muito cautelosos, mas também vamos exigir uma resposta da comunidade — disse no fim de semana o ministro da Educação, Morgan Quero.

A ministra da Mulher, Ángela Hernández, alimentou a polêmica ao declarar que “estas são, de fato, práticas culturais que devemos banir”, recomendando também que evitassem as relações sexuais ou as praticassem com proteção.

— Dizer que estas são práticas culturais é endossar estas ações […]. A violação não é uma prática na nossa comunidade — respondeu nesta segunda-feira a líder nativa.

Segundo Pioc, “trata-se de atos cometidos nos últimos 14 anos em albergues [residências] estudantis”. Devido a estes casos, há 111 professores afastados das salas de aula, 72 absolvidos e quatro suspensos, acrescentou.

“Usar a cultura como desculpa é uma forma de perpetuar a impunidade e invisibilizar a gravidade desses crimes. Exigimos que o ministro da Educação retifique as suas declarações e assuma a sua responsabilidade na proteção dos direitos das nossas meninas e mulheres indígenas!”, declarou a a Organização Nacional de Mulheres Indígenas Andinas e Amazônicas do Peru (Onamiap).

Após uma enxurrada de críticas, o ministro da Educação afirmou que as falas foram “distorcidas”, segundo o jornal peruano El Comercio. “Rejeito enfaticamente a distorção das declarações que fiz no dia 10 de junho sobre os graves acontecimentos ocorridos desde 2010. A minha posição é clara e categórica: rejeito total e absolutamente qualquer forma de abuso e violência, especialmente contra meninos e meninas”, disse.

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.