Governo brasileiro avalia que resposta a Israel foi suficiente e descarta, no momento, novas medidas

Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/11-05-2023

O governo brasileiro avalia ter dado uma resposta à altura das “provocações” feitas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por autoridades israelenses e, de acordo com interlocutores do chanceler brasileiro, Mauro Vieira, a ordem agora é não tomar novas medidas que possam escalar a crise diplomática.

Novas reações, como a possibilidade de expulsão do embaixador de Israel em Brasília, revelado pela colunista Malu Gaspar, do GLOBO, ou ao fechamento da embaixada em Tel Aviv, segundo esses auxiliares de Vieira, seriam adotadas em caso extremo, na hipótese de o país do Oriente Médio tomar novas atitudes hostis. Um integrante do Itamaraty disse, por exemplo, não ser intenção do governo expulsar o embaixador israelense, Daniel Zonshine, mas que uma decisão como essa não depende só do Brasil.

Em entrevista na noite de terça-feira, Vieira chamou as manifestações recentes do governo do premier Benjamin Netanyahu como “inaceitáveis” e “mentirosas”. No mesmo dia, o chanceler israelense, Israel Katz, voltou a cobrar um pedido de desculpas de Lula após a declaração sobre a ofensiva de Israel em Gaza — na qual o brasileiro comparou a ação com o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Katz disse que Lula “cuspiu na cara dos judeus” e seu ministério publicou em uma rede social que o presidente brasileiro havia negado a existência do Holocausto.

Após declarações de pessoas próximas a Lula em defesa do presidente, como o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, e o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, o chanceler fez um pronunciamento considerado forte pelos padrões diplomáticos.

— Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da História da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável — afirmou o chanceler brasileiro.

A estratégia do Palácio do Planalto de não tomar novas medidas também está relacionada à tentativa de dar foco na na reunião, nesta manhã, entre Lula e o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken. Além das relações bilaterais, devem ser abordados os conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu, a situação na Venezuela e a crise entre Brasil e Israel.

A diplomacia brasileira decidiu priorizar a reunião de chanceleres do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, que acontece, nesta quarta-feira, no Rio. O Brasil vai defender a reforma dos organismos internacionais, com ênfase para o Conselho de Segurança da ONU.

O impasse diplomático começou no último domingo, com a fala de Lula sobre o que aconteceu na Faixa de Gaza e na Segunda Guerra Mundial. Netanyahu reagiu, chamando a declaração do presidente do Brasil de “vergonhosa”.

No dia seguinte, o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, foi convocado pelo chanceler israelense para uma reunião no Museu do Holocausto. O Itmmaraty considerou o encontro uma humilhação e chamou Meyer de volta ao país. O diplomata terá uma conversa com Mauro Vieira no Rio.

O tratamento dado a Meyer levou Mauro Vieira a convocar o embaixador de Israel. O chanceler disse que o que aconteceu em Jerusalém com o diplomata brasileiro foi “inaceitável”.

Fonte: O Globo

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