Genética busca vacas produtivas e tolerantes ao calor

Vaca sendo ordenhada
Pesquisas buscam desenvolver variedades mais resistentes às secas e às inundações, além de resistentes às pragas, diz articulista; na imagem, vaca sendo ordenhada

As mudanças climáticas ameaçam a estabilidade econômica, provocando inflação nos preços, principalmente dos alimentos. É o que mostra um artigo publicado na edição de março da revista Communications Earth & Environment, editada pela Nature. Leia a íntegra do artigo (PDF – 2 MB).

O artigo cita como exemplo o tórrido verão de 2022 na Europa, que elevou os preços dos alimentos, aumentando a inflação na região. Segundo o estudo, a pressão inflacionária sobre os alimentos no mundo pode chegar a 3,2% ao ano até 2035 por causa do aumento global das temperaturas e as ondas de calor.

O ano de 2023 ficou na história mundial como o mais quente dos últimos 174 anos de medições meteorológicas. De acordo com a OMM (Organização Meteorológica Mundial), a média global chegou a 1,45 °C acima dos níveis pré-industriais, bem próximo de 1,5 °C, estabelecido como limite em 2015, no Acordo de Paris, e que só estava estimado para 2030.

No Brasil, dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) revelam que, dos 12 meses de 2023, nove tiveram médias mensais acima da média histórica, com destaque para setembro, com 1,6 °C acima.

Na agricultura, as ondas de calor fora de época provocaram prejuízos à produção agrícola de várias cadeias, da soja às hortaliças, pressionando a inflação de janeiro.

Em janeiro e fevereiro, a alta dos alimentos no Brasil chegou a 2,95%, mais que o dobro do 1,25% do IPCA, o que levou o presidente Lula a convocar uma reunião de emergência com seus ministros.

Os extremos climáticos provocam secas prolongadas, inundações, ondas de calor e geadas tardias, que podem reduzir as safras, com graves consequências na economia, principalmente para os países mais pobres, por causa da escassez de alimentos, ao aumento dos preços e à insegurança alimentar.

Cientistas do mundo inteiro estão empenhados em desenvolver novas tecnologias para tornar a agropecuária mais resiliente e mitigar os impactos das mudanças climáticas.

As pesquisas buscam desenvolver variedades mais resistentes às secas e às inundações, além de resistentes às pragas. Novas práticas agrícolas visam a melhorar a saúde do solo, reduzir o uso de água e aumentar a biodiversidade.

Na pecuária, os avanços da genética permitem selecionar animais mais resistentes ao calor, como ocorre no Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando, que busca a maior tolerância dos bovinos às condições do clima.

As mudanças climáticas e o fenômeno El Niño causaram em 2023 dias de calor intenso em quase todas as regiões do país, principalmente no Centro-Sul, onde se concentra a maior produção de leite do país.

No mesmo período, o Inmet registrou 9 ondas de calor, que submeteram as vacas ao estresse hídrico, reduzindo a produção leiteira. Pelos cálculos da Embrapa Gado de Leite, o Brasil perde todos os anos 30% da produção de leite por causa das altas temperaturas.

“A solução para o produtor é desenvolver rebanhos mais resistentes ao estresse térmico. É isso que o Programa de Melhoramento do Girolando tem buscado oferecer por meio das avaliações genéticas e genômicas no teste de progênie da raça”, disse Marcos Vinícius Silva, pesquisador da Embrapa, em entrevista à Agência Embrapa.

Segundo ele, o gado Gir Leiteiro, que compõe a raça sintética Girolando, é bastante resistente ao calor se comparado à raça Holandesa, que também forma o Girolando. O resultado do cruzamento das duas raças é um animal resistente e produtivo.

Mas dentro de uma mesma raça há indivíduos mais resistentes que outros. Ao longo dos anos, a Embrapa reuniu uma boa base fenotípica de animais resistentes, identificando essa característica dentro do genótipo do indivíduo.

O Programa de Melhoramento Genético da raça Girolando identifica marcadores genéticos associados à resistência dos animais ao calor, visando a orientar os criadores a selecionarem indivíduos que aguentam melhor as altas temperaturas.

Os pesquisadores associam dados climáticos de cada região, perfil genético de touros e o desempenho produtivo das vacas de suas proles de forma a criar uma medida para avaliar a tolerância dos animais ao estresse térmico.

Fonte: Poder360

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