Faturamento do PCC é estimado em US$ 1 bilhão; veja de onde vem o dinheiro

PCC - faturamento
PCC - faturamento — Foto: Arte O GLOBO

Série especial em três capítulos mostra como a maior facção do país, surgida na esteira do Massacre do Carandiru, se transformou em uma máfia global que firma parcerias com algumas das principais quadrilhas do mundo. Em sua estreia, o GLOBO revelou como o PCC se tornou uma facção internacional, o caminho da droga pelo mundo e a importância estratégica do Porto de Santos. E essa internacionalização do PCC trouxe maior faturamento internacional, superando o dinheiro que vem da venda de droga no mercado interno.

Atualmente, o PCC soma o dobro de membros fora de São Paulo, onde foi fundado há mais de três décadas, além de mais de mil representantes no exterior, que estreitam laços com grupos mafiosos como o clã Šaric, da Sérvia, e a ‘Ndrangheta, da Calábria, na Itália. O faturamento estimado em no mínimo US$ 1 bilhão ao ano vem, na maior parte, justamente do tráfico internacional de entorpecentes, que já responde por 80% do lucro da facção, cujo surgimento, ascensão e expansão além-fronteiras serão tema da série especial em três capítulos.

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O PCC foi formado em 31 de agosto de 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, conhecida como Piranhão, com o discurso de combater a opressão no sistema prisional e evitar novos massacres como o do Carandiru, ocorrido um ano antes. Teve entre os oito idealizadores Mizael Aparecido da Silva, criador do primeiro estatuto da organização; Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, seu primeiro chefe; César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha, cuja assinatura era a decapitação de rivais; e José Márcio Felício, o Geleião, inventor da sigla PCC. Marcola, que mais tarde tomaria o controle do grupo, não estava entre os fundadores.

Um jogo de futebol entre o “Comando Caipira”, detentos de cidades do interior, e o “Comando da Capital”, presos do município de São Paulo, marca a origem da facção. Depois de uma briga entre os times com duas mortes, os rivais pactuaram um acordo de proteção com medo de represálias. O grupo se manteve oculto até que seus membros começaram a ser transferidos para outras cadeias paulistas e passaram a recrutar milhares de integrantes.

O pretexto para a fundação dessa espécie de sindicato para combater supostos abusos do Estado foi o Massacre do Carandiru, mundialmente conhecido como a maior chacina de presos da história do país, com 111 mortos — episódio que consta, inclusive, no estatuto original da quadrilha. Um dia antes da eleição de 1992, para conter uma briga de facão e o corre-corre de presos na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, policiais militares de batalhões especiais, que pouco conheciam a disposição das celas, entraram fortemente armados no pavilhão sem energia elétrica e soltaram os cachorros em cima da massa. Uma testemunha narraria que os PMs se aproximaram batendo em seus escudos e gritando: “A morte chegou, a morte chegou”.

Naquele tempo, facções estruturadas como as atuais não existiam, apenas grupos isolados que dominavam regiões da cidade. Há 35 anos voluntário no sistema prisional paulista, o médico Drauzio Varella havia acabado de deixar o Carandiru quando a cadeia “virou”. Ele diz que os presídios eram “uma panela de pressão”, sempre prestes a explodir, mas que desavenças do tipo eram comuns à época e passíveis de serem contidas.

— O que se fazia para controlar? Trancava a cadeia, cortava a água, a luz e as refeições, e deixava os presos lá à noite. Eles faziam bagunça e, no dia seguinte, vinha alguém negociar. Aquilo teria acabado sem nenhum problema. Só que era véspera de eleição, e um idiota deu a ordem para a PM entrar e dominar a rebelião a qualquer preço — recorda o médico.

A inaptidão do Estado, para o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, foi determinante para o surgimento e expansão da maior organização criminosa do Brasil. Há 20 anos no combate à facção, Gakiya já foi alvo de mais de um plano de execução por parte do PCC:

— Sem sombra de dúvidas, houve a omissão do governo estadual aqui de São Paulo por décadas. Primeiro porque negligenciou o sistema prisional, com as más condições de cumprimento de pena, penitenciárias lotadas, o episódio do Carandiru… Mas principalmente por ter negado a existência da facção por quase uma década.

Fonte: O Globo

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