Família de homem que atirou no rosto de jovem, no PR, não saía de casa, diz delegado: ‘A mulher tem medo dele’

Bruno Emídio da Silva Junior e Agnaldo da Silva Oroski
Bruno Emídio da Silva Junior e Agnaldo da Silva Oroski — Foto: Reprodução/Polícia Civil

A família de Agnaldo da Silva Oroski, preso nesta quinta-feira por matar Bruno Emídio da Silva Junior com um tiro no rosto, vivia isolada e de forma muito reservada, sem contato com os vizinhos. Após coletar o depoimento da esposa do suspeito, ao GLOBO, o delegado André Garcia afirmou que pretende abrir uma investigação junto com a Delegacia da Mulher do município de Apucarana, no Paraná, para apurar as condições de vida e a relação da mulher e filhos com o empresário.

Bruno era convidado do sobrinho dos donos da casa vizinha a do atirador. O jovem fez um pequeno churrasco com a namorada e um casal de amigos, enquanto cuidava da casa enquanto os tios viajavam. Ao ouvirem disparos, a vítima teria olhado por cima do muro para verificar o que estaria ocorrendo. Naquele momento, Oroski disparou contra o seu rosto.

— Ele é perigoso, psicopata mesmo. Uma pessoa fechada, estranha, não tem amigos. Durante o depoimento da esposa, percebi como aquela mulher deve ter uma vida bem limitada. A família não sai de casa, o que é atípico em uma cidade pequena. Os dois filhos do casal vão à escola, mas não brincam com os vizinhos. Nenhum deles têm contato com quem mora por ali — revelou o delegado.

Apesar da suspeita, Garcia afirma que Oroski não possui antecendentes criminais e não há qualquer queixa ou denúncia que aponte crimes contra a família. No entanto, o delegado afirma ter percebido um comportamento diferente na esposa, ao conversar com ela na delegacia.

— A esposa deu depoimento com o advogado, já foi algo totalmente programado, sem qualquer queixa contra o marido, mas eu percebi que a mulher tem medo dele. Esse cara está longe de ser normal — contou Garcia. — Em seu depoimento, ele foi frio, não demonstrou arrependimento, não moveu um músculo. Ele alega que matou a vítima por legítima defesa, mas a investigação, aos poucos, aponta que ele estava apenas irritado com a presença dos vizinhos.

Veja o vídeo:

Na segunda-feira, dois dias após o crime, Agnaldo se apresentou à polícia, e alegou ter disparado por “legítima defesa”. Segundo o empresário, ele estava dentro de casa e teria ouvido um “barulho no telhado”. A versão, no entanto, não é condiz com depoimentos e imagens, segundo o delegado André Garcia, responsável pelas investigações.

— Teria ouvido um barulho no telhado, saiu com arma em punho e viu um homem tentando pular na casa dele. Essa narrativa não é corroborada por nenhum outro elemento informativo — explica Garcia.

O empresário pode responder por homicídio qualificado pelo motivo fútil e pelo recurso que impossibilitou defesa a Bruno.

Os donos da casa onde Bruno foi morto já haviam registrado um Boletim de Ocorrência contra o vizinho. Segundo o delegado, o registro foi feito pela Polícia Militar, mas os proprietários não quiseram que um inquérito fosse instaurado na delegacia por “medo do sujeito”.

— O boletim de ocorrência registrado pelos proprietários relata um cenário semelhante ao do crime. O casal ouviu sons de tiro, enquanto realizava uma confraternização com a família em casa — afirmou Garcia. — De acordo com o documento, quem estava na residência no momento dos disparos não conseguiu distinguir se o som era de bombinhas ou de uma arma de fogo.

Logo após matar o jovem, o empresário fugiu em um carro vermelho. As equipes policiais encontraram outros cinco tiros no muro da casa.

— Ao realizar a perícia na casa do autor, encontrei cinco marcas de bala no muro que divide as duas residências. Pelo que constatei, esses foram os disparos que as quatro pessoas que estavam no churrasco, incluindo a vítima, ouviram e foram tentar entender o que era — afirmou Garcia. — No depoimento, as três testemunhas disseram que chegaram a ir ao corredor onde a vítima morreu e gritar para o vizinho, pedindo que parasse de soltar “bombinhas”, o que eles imaginavam ser a fonte do barulho.

Após o relato das testemunhas, os policiais entraram na casa do vizinho. Lá, encontraram uma espingarda de pressão modificada para calibre .22 com luneta e uma escopeta, além de 49 munições de diferentes calibres intactas e outras 19 deflagradas.

Em cima de um guarda-roupa, também foram encontrados dois carregadores de pistola calibre .380 municiados. Posteriormente, a Polícia Científica apreendeu outros 11 estojos para pistolas com o mesmo calibre, em um corredor que liga a frente aos fundos da residência.

A arma utilizada no crime, a pistola calibre .380 foi encontrada pela polícia, escondida na residência do autor. A localização foi comunicada ao delegado pelo advogado de Oroski, antes dele se apresentar na delegacia. Ainda segundo o delegado, o atirador não apresenta antecedentes criminais e todos os armamentos são registrados legalmente pela Polícia Federal, permitindo que o dono tenha armas em casa.

A Polícia Civil instaurou um inquérito para esclarecer o crime. Até o momento, testemunhas foram ouvidas e “diligências estão sendo realizadas a fim da conclusão do inquérito policial”.

Fonte: O Globo

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