‘Externou o preconceito, mesmo sendo crime’, diz noivo sobre loja que recusou fazer ‘convite homossexual’ de casamento

Wagner Soares e Henrique Nascimento denunciam homofobia por parte de ateliê que se recusou a fazer seus convites de casamento
Wagner Soares e Henrique Nascimento denunciam homofobia por parte de ateliê que se recusou a fazer seus convites de casamento — Foto: Reprodução

O casal Henrique Nascimento e Wagner Soares, que teve um pedido de orçamento de convite de casamento negado por uma loja de São Paulo por ser gay, registou um Boletim de Ocorrência por homofobia nesta quarta-feira (24). Juntos há oito anos, os noivos contaram ao GLOBO que estão “muito abalados” com a situação, em especial com a “coragem e audácia” da empresa em assumir o motivo da recusa em realizar o serviço. A Jurgenfeld Ateliê, que diz seguir princípios cristãos, se pronunciou alegando que não se trata de preconceito, “mas sim de princípios e valores”.

De acordo com Henrique, esta foi a primeira vez que o casal sofreu homofobia de forma tão escrachada. O primeiro contato com a Jurgenfeld Ateliê aconteceu via WhatsApp na segunda-feira, quando o produtor de eventos pediu orçamento para seu convite de casamento, que está agendado para setembro de 2025. No dia seguinte, a loja respondeu solicitando detalhes do modelo desejado e Henrique encaminhou alguns links junto a informações como nome do casal, quantidade de convites e local do casório. A partir daí, a empresa visualizou a mensagem e não respondeu, mas depois afirmou que não fazem “convites homossexuais” e que “seria bacana” que o casal procurasse “uma papelaria que atenda sua necessidade”.

— Nós conhecemos essa empresa por meio de uma plataforma de dá dicas de fornecedores renomados. Esse ateliê já havia ganhado prêmios e nos interessamos pelo trabalho deles, mas não esperávamos esse tipo de tratamento. Depois que eles disseram que não fazem convites homossexuais eu comecei a chorar muito — relata Henrique. — Dói saber que a loja teve a coragem e a audácia de externar o preconceito, mesmo sendo crime.

Em prints divulgados nas redes sociais, é possível ver que nas mensagem Henrique encaminha modelos de convites e afirma que “amou” e “quer fazer”. O contato foi feito às 9h38 da manhã e, como não obteve resposta, ele enviou outra mensagem por volta de 15h. Quase uma hora depois, a Jurgenfeld Ateliê respondeu pedindo desculpas e afirmando que não fazem “convites homossexuais” e que “seria bacana você procurar uma papelaria que atenda sua necessidade”.

Henrique rebateu a mensagem da loja, afirmando que “uma empresa não pode fazer assepsia de pessoas”. Ele e o noivo disseram ter ficado “chocados e entristecidos” com o ocorrido. Um boletim de ocorrência foi realizado pelo casal na madrugada desta quarta-feira (24).

“É com grande decepção que expressamos nossa profunda insatisfação com a recusa em fornecer serviços para o nosso casamento, simplesmente por sermos um casal homossexual. Ficamos chocados e entristecidos ao sermos informados de que nossa orientação sexual era um motivo para negar nossos convites de casamento”, escreveu Henrique.

Em uma primeira nota de repúdio publicada no perfil da loja, que foi apagada pela empresa após a repercussão do caso, o dono reafirma o posicionamento de não fazer fotografia de casamentos e nem eventos homossexuais. Segundo ele, há dois a empresa tem negado “muitos serviços” a casais homossexuais. Na legenda do post, o ateliê chegou a sugerir ainda a existência de uma “heterofobia”, que seria um suposto preconceito contra pessoas heterossexuais.

“Existe ‘heterofobia?’ Está aí uma pergunta que deveria ser introduzida nos livros de filosofia desse século (…) Hoje, chegamos ao nosso ápice. Não aguentamos mais ter que aguentar tantas críticas e questionamentos sobre o fato de não realizarmos casamento ou eventos homossexuais”, diz a nota.

— A nossa família nos ama muito, sempre nos acolheram. Vamos nos casar para comemorar nossa união de 10 anos e esse episódio foi o primeiro em que nos sentimos rejeitados — desabafa. — A empresa tem todo o direito de não querer fazer os convites, mas assumir que é porque somos gays é discriminação — completa.

O GLOBO procurou o ateliê por meio de seu perfil nas redes sociais, mas não obteve retorno.

Após a repercussão do caso e exposição da empresa nas redes sociais, a prima da dona da Jurgenfeld Ateliê se pronunciou no “X”, antigo Twitter, afirmando que seu perfil de fotografia estava sendo atacado por ter sido associado erroneamente à loja denunciada. Ao GLOBO, Gabriella Jurgenfeld disse que não concorda com o posicionamento do ateliê, e o classificou como “absurdo e criminoso”.

— Uma colega me contou sobre a repercussão do caso que envolvia alguém da minha família. Como temos o mesmo sobrenome, o Google estava direcionando parte das pessoas para o meu perfil e muitos estavam avaliando negativamente minha página. Desde o primeiro momento achei absurdo, além de ser um crime, claro — disse Gabriella.

A fotógrafa, que mora em Juazeiro do Norte (CE), trabalha com retratos de mulheres e ensaios sensuais há quase 10 anos. Segundo Gabriella, apesar de serem parentes, ela não têm contato próximo com a prima.

— Eu não acredito que seja ignorância porque ela (a prima) tem acesso à informação. É um caso de intolerância mesmo — conclui.

Fonte: O Globo

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