Ex-BCs elogiam atas do Copom, mas criticam política fiscal de Lula

Foto Oficial do presidente e ex-presidentes e diretores do Banco Central -O presidente do BC (Banco Central) Roberto Campos Neto, com os ex-presidentes do Banco Central, Pedro Malan, Gustavo Franco, Gustavo Loyola e Pérsio Arida, durante a conferência anual da autoridade monetária, durante a mesa redonda homenagem aos 30 anos do Planalto Real. A Conferência Anual do Banco Central do Brasil (BC) tem por objetivo estimular o debate e a pesquisa nas áreas de macroeconomia, sustentabilidade, estabilidade financeira, economia bancária, intermediação e inovação financeira, regulação macroprudencial, economia internacional e finanças.
Da esquerda para a direita: Gustavo Franco, Henrique Meirelles, Roberto Campos Neto, Pérsio Arida, Gustavo Loyola e Pedro Malan

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, perguntou aos ex-integrantes da autoridade monetária sobre o que acham dos comunicados do Copom (Comitê de Política Monetária) na Conferência Anual do Banco Central do Brasil nesta 6ª feira (17.mai.2024). O evento celebrou os 30 anos do Plano Real, o plano econômico que estabilizou a inflação no Brasil.

Gustavo Loyola (1992-1993), Pedro Malan (1993-1995), Pérsio Arida (1995) e Gustavo Franco (1997-1999) elogiaram o avanço da comunicação do comitê. Por outro lado, criticaram a política fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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O economista Gustavo Loyola avalia que houve uma evolução muito grande na comunicação e transparência do Banco Central. “Na minha época de presidente do Banco Central pela 1ª vez, tinha um dado que era segredo de Estado: as reservas bancárias. Hoje, o grau de transparência do Banco Central é muito maior”, afirmou.

O ex-presidente do BC afirmou que o problema da comunicação é separar o que é “mensagem” do que é “ruído”.

“Se você tenta comunicar demais, insere ruídos”, declarou. Ele defendeu que a comunicação do BC priorize os “sinais”, responsáveis por orientar o mercado.

Segundo Loyola, as redes sociais tornaram públicos debates que eram antes feitos no âmbito privado. Ele defendeu que o grau de comunicação vai aumentando, mas que há certos tipos de discussões que “têm sérias dúvidas se devem ser colocados a público, pelo menos de maneira imediata”.

“São discussões que devem ser feitas de maneira mais fechada, até para a riqueza da discussão. O próprio fato de ser um debate público prejudica a qualidade da decisão”, disse o ex-presidente do BC. Loyola elogiou ainda a disponibilidade de dados coletados e de outras fontes de informações para o acesso da sociedade.

O economista Pérsio Arida afirmou que o futuro próximo da autoridade monetária representará uma “enorme modificação na forma de comunicação”. Disse que haverá modelos de inteligência artificial que vão prever o comportamento da inflação mantida a atual Selic e a curva longa dos juros.

“É uma questão de tempo. Um ano, ou dois anos. Não é muito mais do que isso. Acho que a comunicação do Banco Central vai ser a discordância ou concordância com o modelo de inteligência artificial”, avalia.

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, disse que a comunicação na década de 1990 era como um “jazz”, no improviso.

“Não tínhamos as regras de hoje. O que vocês fazem hoje é mais música clássica”, disse a Campos Neto. “Não deve haver improviso na comunicação, o que dialoga com outro assunto, que vai ficando mais sério, que é o da colegialidade e da unidade da diretoria e do Copom”, declarou Franco.

Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda (1995-2003) de Fernando Henrique Cardoso e presidente do BC durante a implementação do real, disse que houve avanço “extraordinário” na comunicação. Afirmou que os comunicados do Copom, as atas, os Relatórios Trimestrais de Inflação e também outros documentos oficiais dão transparência ao trabalho.

Malan disse que uma política fiscal tida como insustentável pode tornar ineficaz um regime de metas de inflação e colocar em xeque a estabilidade macroeconômica. Afirmou que o objetivo do BC é ancorar as expectativas futuras com a mensagem de que a “intenção de estabilizar é forte e será seguida com tenacidade”.

Malan declarou que uma sociedade e um governo que não têm compromisso fiscal firme encontrarão formas de expandir os seus gastos independentemente do estatuto jurídico do BC. Ele defendeu ainda que o governo precisa estabelecer prioridades e disse que a responsabilidade social é compatível com a fiscal.

“É perfeitamente possível caminhar ao longo do tempo para compatibilizar esses dois objetivos. O que exige são duas coisas que deveriam estar presente no debate: a definição clara de prioridade e […] a avaliação de programas e de resultados”, disse. “Quanto tudo é prioritário, nada é prioritário”, completou o ex-ministro.

Já Pérsio Arida destacou que Lula foi “arqui-inimigo” do Plano Real na década de 1990, enquanto o povo brasileiro “endossou” o programa. O ex-presidente do BC declarou que Lula inventou a “retórica de herança maldita”, o discurso de que teria recebido uma estrutura econômica ruim de FHC e por isso teria entraves de matriz econômica durante o seu mandato.

“Nosso tripé macroeconômico é manco hoje em dia porque a perna fiscal sofreu uma longa e contínua deterioração, e as perspectivas não são boas”, avaliou.

Existe uma esperança que em 2026 e 2027 tenhamos uma postura fiscal radicalmente diversa da atual, mas é difícil imaginar um programa de estabilização que possa se sustentar com ameaça populista e deficits crescentes por um período longo de tempo”, acrescentou Arida.

O Banco Central entregou uma medalha em homenagem a Carlos Langoni, que presidiu a autoridade monetária de 1980 a 1983 e morreu em 2021. Em discurso, Campos Neto traçou os marcos do mandato de Langoni à frente do BC, como a negociação da dívida externa e a criação do sistema atual da Selic.

Fonte: Poder360

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