Escolhido por Bolsonaro, ex-comandante da Rota e discurso anti-STF: quem é o coronel que será vice na chapa de Nunes

Ricardo Nunes (à esquerda) disputará a reeleição com Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo como candidato a vice
Ricardo Nunes (à esquerda) disputará a reeleição com Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo como candidato a vice — Foto: Fotos de arquivo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), confirmou, nesta sexta-feira, que vai disputar a reeleição, em outubro, com Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo (PL) como candidato a vice. Escolhido a dedo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Araújo é coronel reformado da Polícia Militar paulista, onde chegou a comandar a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da corporação.

Bolsonaro indicou o oficial ainda em janeiro, mas Nunes resistia a escolhê-lo. O argumento era de que seria necessário equalizar os interesses de todos os partidos de sua base aliada, que tentaram, sem sucesso, emplacar outros nomes.

Mello Aráujo coleciona posicionamentos alinhados aos do ex-presidente, de quem é fiel escudeiro. Nas redes sociais, o coronel soma mais de 50 mil seguidores e já manifestou apoio ao impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou suspeitas sobre o processo eleitoral e discursou contra o passaporte da vacina e a política de isolamento social em meio à pandemia da Covid-19.

Como comandante da Rota, o militar defendeu que a abordagem policial precisa ser diferente em bairros de elite, como os Jardins, e na periferia. O oficial também já se posicionou a favor da extinção da Ouvidoria da polícia, que recebe denúncias e reclamações a respeito da atuação dos agentes, e das câmeras em uniformes de agentes de segurança.

Araújo também já atuou como presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) durante o governo Bolsonaro. À frente do órgão federal, deu ar militar à gestão nomeando mais de 20 policiais militares em cargos técnicos.

Em agosto de 2021, quando já ocupava o cargo de presidente da Ceagesp, o bolsonarista convidou veteranos da PM de São Paulo para uma manifestação no Sete de Setembro. “Não podemos permitir que o comunismo assuma nosso país”, disse ele, em vídeo no Instagram. A Corregedoria da PM chegou a instaurar um inquérito para apurar a conduta do coronel, mas o procedimento foi arquivado.

Nesta sexta, ao confirmar o militar como vice, Nunes admitiu que, de início, “não tinha muita simpatia” pelo nome. Ele frisou, no entanto, que, após um “processo democrático de diálogo” e conhecendo o trabalho do coronel na Ceagesp, acabou mudando de ideia:

— É preciso valorizar esse processo. O Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo) passou a defender, depois veio o apoio do PP, do Republicanos, e fico muito satisfeito que foi uma decisão vinda do melhor ato da democracia, que é o diálogo. Já vou começar a procurá-lo para ajudar no plano de governo. Corajoso, determinado, não aceita questões de corrupção e crime organizado, e estamos aí para enfrentar essas questões.

O próprio Tarcísio, presente no evento de anúncio do coronel como vice do prefeito, também comemorou:

— A gente convergiu com o nome do Mello Araújo. É um nome que agrega muita qualidade. Tem uma trajetória ilibada na Polícia Militar, foi testado como gestor no Ceagesp e se saiu muito bem. Agrega, soma, a gente está muito confortável com essa indicação.

O discurso oficial de Nunes na demora para anunciar o vice é de que, diferentemente de seu principal adversário Guilherme Boulos (PSOL) — que escolheu Marta Suplicy (PT) como vice por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —, ele não aceitaria “imposição” de ninguém, e que preza pelo diálogo democrático. Entretanto, havia outros motivos para a resistência. Um deles é que Nunes tem reforçado a ideia de que é apoiado por uma “frente ampla”, agregando tanto partidos da direita quanto de centro, e por isso havia o receio de que um vice aliado de primeira hora de Bolsonaro pudesse afetar seu desempenho no segundo grupo.

O fato de São Paulo não ser uma cidade bolsonarista é um ponto de atenção para a pré-campanha, pois a maioria dos paulistanos votou em Lula (53,54%) e em Fernando Haddad (54,41%) em 2022. Pesquisa Datafolha divulgada em 30 de maio mostrou que Bolsonaro é um padrinho rejeitado por 61% dos eleitores da capital, contra 45% de Lula.

Fonte: O Globo

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