Escolha de Pimenta para ministério extraordinário gera críticas sobre politização de crise ambiental no RS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Paulo Pimenta no Palácio do Planalto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Paulo Pimenta no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que a escolha do ministro Paulo Pimenta para assumir a pasta criada para tratar da reconstrução do Rio Grande do Sul acabou por politizar a tragédia ambiental pela qual passa o estado. Cotado para concorrer ao governo local em 2026, Pimenta é deputado federal e um dos principais nomes do PT gaúcho.

De forma reservada, integrantes do governo admitem que a escolha visa, sim, politizar a questão. A ideia é se contrapor a uma politização que o Planalto enxerga nas ações do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que faz oposição ao petista.

A escolha, contudo, gerou críticas veladas de aliados e explícitas de oposicionistas. Uma das principais lideranças do partido de Leite, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) disse ver a escolha de Pimenta com preocupação pelo fato de ele ser um “adversário com projetos políticos no estado”.

– Houve uma indelicadeza porque o governador em hora nenhuma foi consultado. Espero até que eu possa estar enganado, mas eu acho, com os desafios que vão vir para frente, ele pode gerar alguns atritos.

O tucano ainda fez referência à fala de Lula nesta quarta-feira de que os Poderes “devem funcionar como uma orquestra” no combate à tragédia.

– Nessa orquestra a que se refere o presidente, acho que ele quer tocar o bumbo. Agora tem que tomar cuidado para não desafinar. Nós vivemos uma tragédia de dimensões inéditas no Rio Grande do Sul e não há espaço para politização do drama das pessoas.

O presidente do PSDB, Marconi Perillo, fez coro com o Aécio e também se queixou do fato de Eduardo Leite não ter sido comunicado. “O que fica parecendo é que a escolha do ministro tem caráter eleitoral, com objetivo de projetá-lo para a campanha de 2026. O que estamos assistindo é, no mínimo, uma falta de compromisso muito grande do governo federal com a população gaúcha, com o Estado do Rio Grande do Sul e, em última instância, com a própria democracia brasileira”, afirmou o tucano, em nota.

A senadora Tereza Cristina (PP-MS), aponta que a politização da ajuda ao Rio Grande do Sul coloca em risco “a neutralidade e união partidária no Congresso no rápido socorro à crise gaúcha”. “Instala-se um clima de total desconfiança quando alguém do PT com pretensões eleitorais é enviado para um estado governado pelo PSDB”, disse ela nas redes sociais.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, rebateu as críticas pelas redes sociais: “As críticas ao fato de ser um político chegam a ser hipócritas, porque partem exatamente de setores que tentaram explorar politicamente a crise que atinge a população”, afirmou a dirigente do partido de Lula.

Para não entrar na politização, uma ala do governo chegou a defender o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin para assumir o posto de ministro da reconstrução. Mas Lula não embarcou nessa proposta. Uma avaliação feita no Palácio do Planalto é que Alckmin tem um histórico de 30 anos de militância no PSDB, partido de Leite, e também não é do estado. Mas, por outro lado, em razão de seu estilo contido, o vice-presidente não entraria em embates com Leite se fosse necessário.

Nesta quarta-feira, durante o ato em que Lula anunciou medidas para o Rio Grande do Sul e a nomeação de Pimenta, o ministro que será responsável pela articulação da reconstrução do estado exaltou as parcerias com o governo local.

– Desde o primeiro momento, nós temos trabalhado, e eu quero aqui publicamente dizer isso, em absoluta sintonia e parceria com o governo do estado.

Pimenta ainda destacou que o trabalho do governo federal é “complementar e suplementar ao do governo do estado e das prefeituras”. Em seguida, se dirigiu a Leite, e afirmou:

– E o presidente me pediu muito que tenha exatamente essa dedicação e essa disposição, governador, de colaborar com o governo do estado, com os seus secretários.

Em seu discurso no mesmo evento, Leite não fez referência a Pimenta, mas defendeu que as diferenças políticas não podem atrapalhar o trabalho no estado.

– Estamos aqui para mostrar que não haverá diferenças políticas, não poderá haver diferença ideológica para superar o momento de união que deve ser atender as pessoas que mais precisam.

No Planalto, o plano é fazer da reconstrução do Rio Grande do Sul uma vitrine do governo. O estado tem redutos com grande força do bolsonarismo. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o mais votado entre os eleitores gaúchos nas disputas de 2018 e 2022.

Além disso, com a saída temporária de Pimenta da Secretaria de Comunicação Social (Secom), aliados de Lula veem uma oportunidade para o governo fazer mudanças na área, que vem sendo criticada após pesquisas apontarem queda na popularidade do presidente. Pimenta, contudo, não pretende se afastar e manterá um gabinete em Brasília. Aliados do gaúcho chegam a dizer que ele continuará a participar das decisões mais importantes da pasta.

No período em que estiver à frente do ministério extraordinário, o jornalista Laércio Portela, que faz parte de sua equipe, vai comandar interinamente a Secom. Foi Pimenta quem indicou Portela para o cargo interino.

Fonte: O Globo

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