Entrevista: ‘O PSDB se coloca atrás do Datena para encobrir a ausência completa de projeto’, diz Aloysio Nunes

O ex-ministro Aloysio Nunes
O ex-ministro Aloysio Nunes — Foto: Divulgação

Quadro histórico do PDSB, ao qual era filiado desde 1997, o ex-ministro das Relações Exteriores e ex-senador Aloysio Nunes decidiu deixar o partido nesta quinta-feira, no mesmo dia em que o apresentador José Luiz Datena foi lançado pré-candidato a prefeito de São Paulo. Ele afirma que as divergências se acumularam desde as eleições presidenciais de 2022, quando a sigla se declarou neutra entre Lula e Jair Bolsonaro. Ele apoiou o petista e hoje tem um cargo na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), em Genebra. O ex-tucano diz que não pretende se filiar a outra legenda.

Quais foram as razões para deixar o PSDB?

São muitas, foram se acumulando desde a última eleição presidencial quando o PSDB se declarou neutro. Eu considerei errado que um partido que tivesse democracia no nome mantivesse uma posição indiferente na eleição de um fascistoide como o então presidente Jair Bolsonaro. De lá para cá, as divergências foram se tornando cada vez mais claras, a ideia de ser contra os dois extremos como se o governo Lula fosse extremista.

E a chegada do José Luiz Datena foi um fator?

Também. Acho que a escolha de ter uma candidatura própria é legítima, como é legítimo fazer uma aliança com o Ricardo Nunes (MDB) ou com a Tabata Amaral (PSB). O que me parece ser uma atitude oportunista é escolher alguém que não tem nenhuma vinculação com a política do PSDB nem com uma política do campo democrático do país para representar uma eleição de uma cidade como São Paulo. Nada contra o Datena, mas ele não tem condições de representar o PSDB, ainda mais em uma eleição da importância da eleição de São Paulo.

Esse episódio de agora lembra o do João Doria, por ser um outsider?

O Doria já tinha tido participação na política, não era inteiramente alheio ao nosso campo. Já tinha participado do governo FHC. Não era uma celebridade televisiva. Essa história de buscar uma celebridade política como uma folha de parreira para encobrir a inabilidade política já foi tentada várias vezes, Silvio Santos com o PFL ou quando alguns centristas tentaram lançar Luciano Huck. Essas coisas nunca dão certo, não se sustentam, têm fôlego curto.

Então, o que vê como um problema?

O problema não é o Datena em si, é a maneira, a forma de se colocar atrás do Datena para encobrir a sua ausência completa de projeto.

E o Ricardo Nunes seria a melhor opção para o PSDB apoiar em São Paulo?

Não sei, é um assunto sobre o qual eu já não opino. Seria uma escolha legítima sim, assim como seria legítimo acompanhar a candidatura da Tabata. Ou ter uma candidatura própria vinculada minimamente com o PSDB.

E qual o futuro do PSDB?

Não quero mais falar do PSDB.

Qual seu futuro político? Deve ingressar em algum partido?

Não tenho futuro político, não vou me candidatar a nada, não quero me filiar a partido nenhum. Encerrei minha carreira política, foi longa e foi relativamente exitosa. Eu trabalho no escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Bruxelas, moro aqui, e vou continuar, enquanto eu gostar, enquanto eu estiver vivendo bem.

Fonte: O Globo

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