Embarcação à deriva no Pará: 22 barcos desapareceram em rota entre África e Espanha investigada pela PF

Polícia Federal e científica realizam perícia em barco encontrado à deriva em rio no Pará
Polícia Federal e científica realizam perícia em barco encontrado à deriva em rio no Pará — Foto: Divulgação/PF

As investigações da Polícia Federal acerca do barco encontrado à deriva no Pará com nove cadáveres indicam que a embarcação veio do continente africano e, possivelmente, se desviou acidentalmente de sua rota. Nos três primeiros meses desse ano, ao menos 22 barcos similares desapareceram no mar ao zarparem da Mauritânia, com refugiados e imigrantes, rumo ao arquipélago espanhol das Ilhas Canárias.

Segundo a ONG Caminando Fronteras, que acompanha a movimentação de barcos na área, em 2023 foram registradas 6.007 mortes e desaparecimentos no caminho até as Canárias. 395 dessas mortes ocorreram em barcos semelhantes ao encontrado no Pará — um tipo de embarcação comumente usado por pescadores da Mauritânia. Entre janeiro e março de 2024, cerca de 1.500 pessoas já sumiram ou morreram nessa rota, de acordo com a ONG.

A rota entre o continente africano e as Ilhas Canárias vive uma explosão, segundo o jornal El País. Dados do Ministério do Interior espanhol, citados pelo veículo, indicam que 14 mil imigrantes africanos já chegaram nas Canárias apenas neste ano. O número é seis vezes maior que o registrado em 2023 para o mesmo período.

Os corpos encontrados no navio estavam acompanhados de documentos da Mauritânia e do Mali. Segundo o oceanógrafo e professor da UERJ David Zee, uma viagem entre a África Ocidental e o norte do Brasil demoraria de sete a 15 dias.

— Temos dois tipos de circulação que podem deslocar uma embarcação: do ar e da água. Como a embarcação aparentemente não tinha vela, não dá para dizer que o vento é o fator de deslocamento primário. Tem que ser outra coisa: as correntes do mar — explicou Zee.

“Qualquer embarcação que apareça, mesmo a milhares de quilômetros de distância, dá esperança aos milhares de famílias que desejam saber a verdade”, disse à agência EFE um porta-voz da Caminando Fronteras.

Se confirmada a origem da embarcação encontrada no Pará, essa não seria a primeira vez que um barco cruza o Atlântico em circunstâncias similares. Em junho de 2021, um barco com 20 corpos foi encontrado nas Ilhas Turcas e Caicos, território ultramarino britânico, no Caribe. Um mês antes, em maio, uma outra embarcação foi encontrada com 14 corpos em uma praia da ilha de Tobago. Uma investigação da Associated Press revelou que o barco havia deixado a Mauritânia meses antes, com cerca de 40 pessoas a bordo. Os passageiros tinha origens em diferentes países da região, como Senegal e Mali.

Fonte: O Globo

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