Dona da Fiat e Jeep, Stellantis anuncia investimentos de R$ 30 bi no Brasil até 2030 e novo modelo híbrido flex este ano

Fábrica da Peugeot, da Stellantis, em Porto Real, no Rio de Janeiro
Fábrica da Peugeot, da Stellantis, em Porto Real, no Rio de Janeiro — Foto: Hudson Pontes

A Stellantis, dona das marcas Jeep, Fiat, Peugeot e Citroen, anunciou nesta quarta-feira o investimento de R$ 30 bilhões no Brasil, no período de 2025 a 2030. Os investimentos serão aplicados no lançamento de 40 novos produtos durante o período, como motores e carros, de acordo com a empresa, e o desenvolvimento de novas tecnologias com potencial de serem exportadas para países vizinhos da América do Sul.

O anúncio, classificado pela companhia como o maior investimento na história da indústria automotiva sul-americana, foi feito em Brasília após a diretoria da empresa se reunir com o presidente Lula. Grande parte dos recursos será destinada aos modelos híbridos-flex (ou seja, carros elétricos movidos também a gasolina e etanol), com o primeiro lançamento acontecendo no segundo semestre deste ano.

O Polo Automotivo Stellantis em Betim, em Minas Gerais, é apontado pela empresa como centro global da companhia no desenvolvimento da tecnologia chamada Bio-Hybrid, de eletrificação combinada a etanol. A tecnologia é flexível e pode ser integrada a diversos modelos fabricados pela Stellantis, explicou a empresa.

O montante de R$ 30 bilhões é quase o dobro do atual ciclo de investimentos da Stellantis, que começou em 2018 e vai até o final deste ano, soma R$ 16 bilhões e envolve 43 lançamentos entre oito marcas do grupo operadas na América do Sul.

O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, destacou a importância dos produtos desenvolvidos serem acessíveis ao público brasileiro.

— Essas tecnologias têm que ser acessíveis à classe média. Devemos entrar na mobilidade limpa pela janela da acessibilidade. Ou seja, se não for acessível, classe média não consegue comprar. Se a classe média não consegue comprar, não há volume, e sem volume, não há impacto no planeta.

Desde a sua introdução, há 20 anos, os carros flex-fuel tornaram-se dominantes no Brasil, representando 83,3% de todas as vendas de automóveis em 2023, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Veículos Automotores, Anfavea. Nesse mesmo período, os carros elétricos representaram 0,4% das vendas e os híbridos, 2,1%.

Em agosto de 2023, a Stellantis apresentou quatro protótipos de sua tecnologia batizada de Bio-Hybrid, desenvolvidos pela equipe da empresa na América do Sul e que combinam energia térmica flex e eletrificação. Três soluções são híbridas com diferentes níveis de complexidade e a quarta é um modelo 100% elétrico a ser produzido na região no futuro.

O novo plano de investimentos prevê 40 lançamentos de 2025 a 2030 entre modelos renovados e totalmente novos, além de oito novos powertrains e aplicações em eletrificação.

Os investimentos serão focados em carros híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio verde, seguindo o objetivo do programa de Mobilidade Verde (Mover) do governo, que busca descarbonizar os veículos brasileiros.

— Este anúncio solidifica nossa confiança e comprometimento com o futuro da indústria automotiva sul-americana e é uma resposta ao ambiente de negócios favorável que encontramos aqui — disse Tavares.

— Bio-Hybrid é uma solução extremamente eficiente, que se apoia nos recursos naturais desse país e que potencialmente poderá ser expandida para outros países da região;

A Stellantis tem três fábricas de automóveis no Brasil. O grupo também tem duas plantas na Argentina, que receberá outros R$ 2 bilhões em investimentos.

Em 2023, as vendas totais da Stellantis na América do Sul superaram a marca de 878 mil veículos, respondendo por uma participação de mercado de 23,5%. No mercado brasileiro, a empresa consolidou sua liderança no ano passado, com mais de 686 mil unidades emplacadas e 31,4% de participação nas vendas. Fiat foi a marca líder no Brasil, atingindo 21,8% de fatia de mercado.

As multinacionais do setor instaladas no Brasil se movimentam para colocar em prática seus planos de descarbonização e redução de emissões nos veículos produzidos e vendidos localmente. A iniciativa também é uma resposta a uma nova ofensiva de marcas chinesas, como Great Wall Motor e BYD, que já anunciaram planos de produzir modelos eletrificados no Brasil a partir deste ano.

Ao contrário de outros mercados, o Brasil utiliza o etanol para reduzir emissões há pelo menos 40 anos, e agora o biocombustível surge como uma alternativa de transição para a eletrificação plena do país. Em vez de investimentos massivos em fábricas de baterias para carros 100% elétricos, as montadoras buscam desenvolver modelos híbridos, que combinam um motor elétrico em conjunto com outro a combustão, porém flex.

A Toyota foi pioneira mundial no desenvolvimento de uma solução híbrida-flex, comercializando modelos com essa opção desde 2020 no Brasil.

Integrantes da área econômica do governo estimam que o setor automobilístico já anunciou mais de R$ 50 bilhões em investimentos nos últimos meses, sem levar em conta o valor anunciado nesta quarta-feira

O programa federal prevê até 2028, que as empresas do setor que produzem no Brasil poderão obter créditos financeiros a serem usados para abatimento de quaisquer tributos administrados pela Receita Federal ou até serem ressarcidos em dinheiro.

Para obter estes benefícios, as fabricantes deverão realizar gastos em pesquisas e desenvolvimento ou produção tecnológica no país. Desde o lançamento do programa, uma série de empresas do setor anunciaram investimentos no Brasil.

A Toyota, por exemplo, informou que vai investir R$ 11 bilhões no Brasil nos próximos anos, com previsão de lançamento de novos modelos de automóveis. Já a Hyundai anunciou investimentos de US$ 1,1 bilhão (o equivalente a quase R$ 5 bilhões).

No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve com o presidente global do Grupo Hyundai Motor, Eui-Sun Chung. No encontro, o executivo da empresa sul-coreana anunciou US$ 1,1 bilhão em investimentos no Brasil até 2032 em tecnologia e em hidrogênio verde.

A General Motors anunciou um investimento de R$ 7 bilhões no país, entre 2024 e 2028.O valor representa uma redução de 30% em relação aos R$ 10 bilhões do ciclo de investimentos anterior, mas poderá aumentar, de acordo com as condições de mercado, segundo a montadora.

A Volkswagen, que tem sua sede em São Bernardo do Campo (SP), também anunciou investimentos de R$ 9 bilhões no país até 2028. A previsão é que quatro novos modelos serão fabricados no Brasil.

Já a BYD, gigante chinesa de carros elétricos, pretende investir R$ 3 bilhões no complexo de Camaçari, que terá capacidade inicial de produzir 150 mil carros por ano e será a primeira fábrica de automóveis da empresa fora da Ásia.

(Com Bloomberg News)

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.