Disputas por pesca ilegal entre França e Brasil já geraram ‘Guerra da Lagosta’ nos anos 60; entenda

Avião brasileiro faz reconhecimento de contratorpedeiro francês na Guerra da Lagosta
Avião brasileiro faz reconhecimento de contratorpedeiro francês na Guerra da Lagosta — Foto: Divulgação/Marinha do Brasil

A França anunciou, nesta terça-feira, a destruição de quatro barcos pesqueiros brasileiros que atuavam ilegalmente na costa da Guiana Francesa, em meados de junho. Segundo as autoridades locais, os capitães foram “detidos e receberam uma intimação judicial”. A proximidade territorial entre o Brasil e o departamento francês já ocasionou disputas por conta da pesca ilegal na região no passado. Nos anos 60, os dois países se viram envolvidos na “Guerra da Lagosta”, como ficou conhecido na imprensa o confronto diplomático provocado pela captura ilegal desses animais na costa brasileira.

Apesar do nome, no entanto, a disputa não chegou a evoluir para um confronto armado. No início dos anos 60, o país europeu havia perdido boa parte de suas colônias no continente africano, e, nos mares que ainda detinham, as lagostas se tornavam escassas por conta da pesca predatória. Os crustáceos do Nordeste brasileiro se mostraram, com isso, uma oportunidade aos olhos dos pescadores franceses.

O governo francês pediu autorização para que três barcos realizassem pesquisas relacionadas às lagostas nas águas nordestinas, principalmente no litoral pernambucano. As embarcações foram liberadas, mas com a condição que controladores de pesca da Marinha de Recife (PE) estivessem embarcados.

Nos meses seguintes, pescadores brasileiros protestaram e denunciaram a presença de outros barcos franceses no Nordeste, além de também chamaram atenção para supostos casos de saques e roubos cometidos pelos estrangeiros. Barcos franceses acabaram apreendidos e tiveram suas licenças cassadas antes de serem devolvidos ao longo dos meses seguintes.

A França passou a insistir em levar o caso a uma corte internacional, mas o Brasil manteve posição contrária à iniciativa. Novas tentativas de se chegar a um acordo foram feitas, mas não avançaram. A questão escalonou quando, em 1963, a França, na época comandada pelo general Charles de Gaulle, decidiu enviar um contratorpedeiro para proteger embarcações francesas cujas licenças para atuar no Brasil estavam prestes a encerrar.

Na véspera do carnaval, o presidente João Goulart decidiu mobilizar a Marinha brasileira e enviá-la ao Nordeste. Um esquadrão da Força Aérea foi destacado para patrulhar a área pelo ar. Os dois lados, no entanto, recuaram. Em março, o contratorpedeiro francês deixou a costa brasileira e foi substituído por outro de menor potencial bélico. Nos dias seguintes daquele mês, os navios estrangeiros abandonaram a região, e a disputa diplomática chegou ao fim, sem uma solução para a questão.

O conflito, que não evoluiu para uma guerra, virou samba, quando, em 1963, Moreira da Silva lançou “A Lagosta é Nossa”. A crise gerou ainda uma frase célebre, a suposta declaração de Charles de Gaulle de que “O Brasil não é um país sério. Posteriormente, no entanto, o embaixador do Brasil na França Carlos Alves de Souza admitiu a autoria da frase, dita em uma conversa informal com um correspondente brasileiro na Europa.

Fonte: O Globo

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