Dia internacional do trabalhador: data é celebrada com protestos no mundo, e centenas de manifestantes são presos em Istambul

Manifestantes entram em confronto com a polícia após desafiarem uma proibição das autoridades e realizarem manifestações na Praça de Taskim no Dia do Trabalhador, em Istambul.
Manifestantes entram em confronto com a polícia após desafiarem uma proibição das autoridades e realizarem manifestações na Praça de Taskim no Dia do Trabalhador, em Istambul. — Foto: YASIN AKGUL/AFP

Vários trabalhadores e ativistas ao redor do mundo reuniram-se nesta quarta-feira em manifestações para marcar o Dia Internacional do Trabalhador. Os manifestantes exigiram mais direitos trabalhistas e posicionaram-se contra a inflação, embora a guerra Israel x Hamas também tenha entrado em pauta, com diversas manifestações pró-Palestina registradas. Em Istambul, mais de 200 pessoas foram presas após as autoridades turcas proibirem manifestações pelo Primeiro de Maio na histórica Praça Taksim.

Das margens do Bósforo até a histórica península de Sultanhamet, barreiras de metal bloquearam a passagem até a praça, onde as autoridades proibiram comícios desde 2013 — foco de manifestações contra o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan. O transporte público, incluindo balsas e o metrô, também foi interrompido, e pontos de referência, como o Palácio Topkapi, foram isolados. Mais de 40 mil agentes foram destacados na capital, e as principais estadas da capital foram fechadas.

No distrito de Sarachane, próximo à prefeitura, os policiais entraram em confronto com manifestantes, disparando gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes para impedir que furassem as barricadas. Em Besiktas, a polícia deteve pelo menos 30 pessoas que gritavam “Taksim não pode ser banida”. Um manifestante foi arrastado pelo chão pela polícia e seu grupo foi detido. Outras 30 pessoas também foram detidas no distrito de Sisli. O grupo Media and Law Studies Association (MLSA) disse que vários jornalistas foram empurrados para o chão durante os tumultos.

“210 pessoas foram detidas em Istambul depois de não terem dado atenção aos nossos avisos e tentarem caminhar até a Praça Taksim e atacar nossos policiais no Dia do Trabalho e da Solidariedade de 1º de maio”, publicou o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, no X (antigo Twitter).

À agência francesa, o secretário-geral da Confederação dos Sindicatos Progressistas da Turquia (DISK), Arzu Cerkezoglu, disse que “mostramos nossa vontade de comemorar o Primeiro de Maio na Praça Taksim.”

— Temos motivos legítimos. Taksim é um símbolo importante para nós. Taksim significa Primeiro de Maio, Taksim significa trabalho — destacou.

Em 2023, o principal tribunal constitucional da Turquia decidiu que o fechamento da Praça Taksim para protestos era uma violação de direitos. A praça foi um ponto de encontro para as comemorações do Primeiro de Maio até 1977, quando pelo menos 34 pessoas foram mortas durante as manifestações. As autoridades voltaram a abri-la em 2010, mas ela foi fechada novamente após os protestos de 2013.

Ainda na segunda-feira, o ministro do Interior disse que Taksim estaria fora dos limites para comícios para impedir que “organizações terroristas” o utilizassem para “propaganda”. O Partido Republicano do Povo (CHP), principal partido de oposição da Turquia, e os sindicatos pressionaram o governo a abrir a praça para manifestações trabalhistas, mas Erdogan advertiu na terça contra qualquer provocação.

O líder do CHP, Ozgur Ozel, acompanhado do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, e de sindicatos trabalhistas, reuniu-se no bairro de Sarachane.

— Continuaremos lutando até que Taksim esteja livre. Taksim pertence aos trabalhadores — disse Ozel, e acrescentou aos policiais: — Esses trabalhadores não são seus inimigos. Nosso único desejo é que o dia seja comemorado como um festival. Não queremos conflito.

Confrontos entre manifestantes e policiais, além de prisões, também foram registrados na França, onde podia ser visto um cartaz com os dizeres “Quero viver, não sobreviver”, informou a Associated Press. Os agentes dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que seguiam pela capital, exigindo melhores salários e condições de trabalho. Ao menos 29 pessoas foram presas.

Também em Paris, grupos pró-palestinos uniram-se à manifestação, onde bradaram canções em apoio ao povo da Faixa de Gaza, e um grupo de trabalhadores, segundo a AP, pôs fogo em uma simulação de anéis olímpicos para demonstrar descontentamento com os jogos, que terão início em 26 de julho. Os sindicatos advertiram que entrarão em greve durante os jogos caso o governo não compense adequadamente aqueles que serão forçados a trabalhar durante as férias de verão.

Em Atenas, na Grécia, milhares de manifestantes foram às ruas ao mesmo tempo em que uma greve suspendeu a circulação do transporte público no país. O maior sindicato grego pedia o retorno às negociações coletivas após os direitos trabalhistas terem sido eliminados durante a crise financeira entre 2010 e 2018. Também foram registradas manifestações pró-palestinos nesses atos, com bandeiras da Palestina tremulando na multidão, que passava diante do Parlamento grego.

— Queremos expressar a nossa solidariedade com os estudantes nos Estados Unidos, que enfrentam uma grande repressão dos seus direitos e das suas justas exigências — afirmou Nikos Mavrokefalos à AP durante um protesto em Atenas, em referência às centenas de manifestantes detidos desde a semana passada. — Queremos enviar uma mensagem de que os trabalhadores dizem não à exploração, não à pobreza, não aos preços elevados.

Manifestações em apoio à causa palestina também foram registradas na África do Sul e no Líbano, onde misturaram-se aos pedidos pelo fim da crise econômica.

Na Alemanha, uma faixa dizia “Taxe os ricos”, e no Sri Lanka milhares de trabalhadores protestavam contra a crise econômica no país, bem como a taxação de profissionais e pequenas empresas: “Não toque na jornada de oito horas!”, instou um cartaz. Na Nigéria, os sindicatos também criticaram os esforços das autoridades para diminuir o custo de vida e exigiram o aumento salarial, mesmo pedido verbalizado pelo presidente William Ruto, no Quênia, e por mais de dez mil manifestantes japoneses, segundo a AP.

Na Coreia do Sul, os manifestantes também pediam melhores condições de trabalho, enquanto na Indonésia os trabalhadores exigiam proteção para seus cidadãos que trabalham no exterior. Ainda segundo a AP, trabalhadores também marcharam nas Filipinas para pedir aumento salarial e segurança laboral, com a polícia impedindo os manifestantes de se aproximarem do palácio presidencial.

Manifestações também foram registradas em outras capitais como Assunção, no Paraguai, em La Paz, na Bolívia, e em Londres, no Reino Unido.

Fonte: O Globo

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