Delegação do Hamas deixa o Cairo após rodada de negociações sobre cessar-fogo, e tratativas serão retomadas na próxima semana

Idoso palestino observa enquanto homens vasculham escombros de casa destruída em ataque aéreo israelense durante a noite em Rafah, no sul da Faixa de Gaza
Idoso palestino observa enquanto homens vasculham escombros de casa destruída em ataque aéreo israelense durante a noite em Rafah, no sul da Faixa de Gaza — Foto: SAID KHATIB / AFP

A delegação do Hamas deixou o Cairo nesta quinta-feira — onde estava participando de negociações para uma trégua no conflito com Israel desde o último domingo — para consultas em Doha, onde o grupo mantém um escritório político. Uma autoridade do grupo palestino culpou Tel Aviv, que não enviou uma delegação para as conversas, pelo impasse. A expectativa inicial era de que um cessar-fogo fosse alcançado antes do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, que tem início no próximo domingo, mas as tratativas só devem ser retomadas na próxima semana, segundo um meio de comunicação próximo ao governo egípcio.

“A delegação do Hamas deixou o Cairo esta manhã [de quinta-feira] para consultar a liderança do movimento, com negociações e esforços continuando para parar a agressão, devolver os deslocados e trazer ajuda humanitária ao nosso povo”, disse o grupo em um comunicado citado pela agência Reuters.

Sami Abu Zuhri, membro do alto escalão do Hamas, afirmou à Reuters que Israel “frustrou” todos os esforços dos mediadores (Estados Unidos, Catar e Egito) para chegar a um acordo durante os últimos quatro dias. O grupo apresentou sua proposta na terça-feira, e Abu Zuhri disse que Tel Aviv rejeitou as exigências para acabar com a ofensiva em Gaza, retirar suas tropas, bem como garantir a entrada de ajuda humanitária e o regresso dos palestinos deslocados para suas casas.

Em conversa com a Associated Press, autoridades afirmaram que o grupo aceitou os principais termos do acordo como primeira etapa, mas quer compromissos por parte de Israel de que a proposta levará a um cessar-fogo eventual e permanente.

— Estamos aguardando a resposta oficial final do inimigo (Israel) — disse um membro do grupo à AFP sob condição de anonimato. — As respostas iniciais (israelenses) não atendem aos requisitos mínimos relacionados à suspensão permanente das hostilidades [ou outras condições do Hamas para um cessar-fogo].

Segundo a Reuters, o Hamas continuará as negociações, mas sublinhou que as exigências devem ser estabelecidas antes da libertação dos reféns — um ponto de impasse com Israel. No domingo, Tel Aviv vetou a ida da sua delegação ao Cairo após o grupo não ter enviado uma lista com os cativos, vivos e mortos, ainda sob custódia. O grupo alega que a contagem é impossível sem uma suspensão nas hostilidades, já que os sequestrados estariam espalhados pelo enclave palestino.

O governo de Israel calcula que 130 dos 250 reféns sequestrados pelo grupo em 7 de outubro continuam em cativeiro em Gaza, mas que pelo menos 31 deles tenham morrido.

Segundo o al-Qahera News, ligado aos serviços de inteligência egípcios, citando uma autoridade sênior, as negociações “serão retomadas na próxima semana”. Ao jornal israelense Haaretz, uma fonte árabe familiarizada com as negociações informou que o grupo espera continuar as conversas pelo menos até a primeira semana do mês sagrado, acrescentando que há uma expectativa de que o período leve os palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém a pressionar as partes, incluindo Israel, por avanços nas negociações.

Catar, Estados Unidos e Egito estão reunidos no Cairo desde o último domingo para tentar alcançar um acordo antes do Ramadã. A proposta, apresentada anteriormente em Paris, prevê uma pausa de seis semanas nos combates e a libertação de 42 reféns em posse do Hamas em troca de prisioneiros palestinos em Israel. De acordo com o Times of Israel, autoridades egípcias afirmam que os mediadores estão pressionando as partes para que suavizem suas posições.

Na terça, o presidente dos EUA, Joe Biden, alertou seu aliado sobre uma situação “muito, muito perigosa” caso o cessar-fogo não seja alcançado em breve e disse que “não havia desculpas” para não permitir mais ajuda ao enclave.

— Se nos encontrarmos diante da circunstância de que esta situação se prolongue durante o Ramadã, Israel e Jerusalém poderiam ser (lugares) muito, muito perigosos — disse Biden à imprensa.

(Em atualização)

Fonte: O Globo

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