A imagem de um cavalo flagrado se equilibrando em cima de um telhado em Canoas, exibida na quarta-feira pela GloboNews, resumiu o drama dos animais que também lutam para sobreviver nas enchentes do Rio Grande do Sul. Segundo o governo do estado, até o fim da tarde de quarta, 8.933 haviam sido resgatados pela Brigada Militar, pela Polícia Civil e pelo Corpo de Bombeiros. Outros 500 animais foram encontrados nas cidades mais afetadas da Região Metropolitana pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, em ação conjunta com o Grupo de Respostas a Animais Silvestres (Grad).
O balanço não inclui os resgates feitos pelos municípios e as próprias pessoas que tiveram de sair de suas casas e levaram seus pets, ou os 60 animais salvos na terça-feira pela Marinha. Grupos de pessoas usam as redes sociais para criar anúncios e ajudar os animais a encontrarem seus donos ou um novo lar.
A Defesa Civil nacional tentou salvar o cavalo isolado no telhado, mas até a noite de quarta, o resgate não havia sido confirmado. Também em Canoas, Marcelo Gaúcho, vice-prefeito de Santo Antônio de Patrulha, outro município da Região Metropolitana de Porto Alegre, ajudou na terça a salvar um outro cavalo da enchente com uma moto aquática.
A estudante Camila Loureiro procura há seis dias os cães Cookie, um shih-tzu de 2 anos, e Tunico, um buldogue inglês de pouco mais de um ano e meio. Moradora do bairro Mathias Velho, em Canoas, ela precisou sair de casa por conta dos alagamentos e deixou os animais soltos no quintal, na esperança de que eles seriam resgatados.
— Dói demais saber que perdemos tudo e não temos também nossos amigos de quatro patas. Eles fazem parte da nossa família — lamentou Camila.
A família da estudante passou a compartilhar nas redes imagens dos cães com a um telefone de contato. Foi informada em um dos abrigos visitados que seus cachorros estavam lá horas antes, mas, quando chegaram ao local, os animais não foram encontrados.
— Estamos procurando em todos os lugares possíveis de acessar com carro. Mas nos falaram que algumas pessoas estão roubando os animais nos abrigos. As ruas daqui ainda estão alagadas e estamos tendo dificuldades na busca — relata.
O fisioculturista Eduardo Bodybuilder, que acumula mais de 40 mil seguidores no Instagram, divulga nas redes os resgates de que participa. A equipe que Eduardo integra localizou sete cachorros ilhados em cima do telhado de duas casas. Eduardo contou na publicação ter encontrado os animais assustados quando desembargou para recolhê-los. Eles apenas latiam, evitaram se aproximar e, inicialmente, recusaram até a comida.
A servidora pública Andreza Alcântara encontrou um cão se afogando enquanto deixava sua casa por causa da chuva em Eldorado do Sul, também na Grande Porto Alegre. Doquinho, como foi apelidado, foi salvo no sábado.
— Vi este cão muito pequeno lutando para sobreviver na correnteza. Ele estava indo para baixo de um carro que saía do bairro quando gritei para que a motorista parasse o veículo e realizei o resgate — conta Andreza.
A servidora compartilhou imagens do animal em grupos do bairro e espera encontrar o tutor do cachorro, descrito por ela como educado e amoroso. A coleira com o nome de uma empresa agropecuária da cidade pode ser a pista para que Doquinho seja localizado por quem cuidava dele.
A Marinha anunciou que o maior navio da esquadra brasileira, o Atlântico, enviado ao Rio Grande do Sul na quarta, foi carregado com seis toneladas de ração. Os alimentos serão entregues aos abrigos em que estão os animais.
O resgate pelo governo gaúcho tem o apoio do Conselho Estadual de Medicina Veterinária, do Ibama e do ICMBio. Os animais vão para abrigos, lares temporários e ONGs. O Rio Grande do Sul vai receber, nos próximos dias, a Força Tarefa de Resgate Técnico de Animais do Mato Grosso do Sul. O grupo participará de operações.
Em Porto Alegre, um centro de saúde para animais com veterinários voluntários foi montado na parte inferior do Viaduto José Eduardo Utzig, na avenida Benjamin Constant. O espaço reuniu cachorros, gatos e aves.
Fonte: O Globo