De beija-flor ancestral a titã mineiro: veja quais são e onde viviam todos os dinossauros ‘brasileiros’

Livro cataloga 54 espécies de dinossauros brasileiros
Livro cataloga 54 espécies de dinossauros brasileiros — Foto: Divulgação/Editora Peirópolis e Edusp

O maior deles tinha 26 metros — o equivalente a um prédio de nove andares —, pescoço longo e um nome que homenageia uma da principais cidades do Triângulo Mineiro, onde foi achado: Uberabatitan. O menor, batizado de Cratoavis, tinha o tamanho de um beija-flor. Desde 1936, foram descobertos no Brasil 54 fósseis de dinossauros. É um tesouro que foi mapeado e catalogado pelo professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Eduardo Anelli, no “Novo guia completo dos dinossauros do Brasil”.

Segundo Anelli, os exemplares nacionais surpreendem pela antiguidade, embora as características geológicas do Brasil não favoreçam tanto a diversidade dos fósseis. Ao longo de 500 milhões de anos, a ausência de mares cobrindo o território nacional resultou em desertos longos e prolongados. O processo, somado às grandes áreas de vulcões e a um clima propício para a formação do solo, mas ruim para as rochas, tornaram os fósseis menos visíveis. Mas nem por isso menos impressionantes. Os sítios arqueológicos do país estão entre os mais procurados do mundo.

— Estamos entre os dez principais países no quesito dinossauros. Apesar de não termos uma quantidade de fósseis muito grande em comparação com a Argentina, por exemplo, os sítios brasileiros têm as espécies mais antigas do mundo. São aquelas que todos querem estudar — afirma Anelli, que também atribui o sucesso na área aos profissionais que atuam por aqui.

Três estados se destacam no levantamento feito pelo professor da USP. No Rio Grande do Sul, uma faixa de rochas de mais de 250 milhões de anos remete ao período Triássico, o primeiro da era Mesozoica, também conhecida como a Idade dos Dinossauros. Já o Ceará se sobressai com a Chapada do Araripe, próximo à divisa com Pernambuco e o Piauí, enquanto o que hoje é o Acre já foi, em eras distantes, um abrigo característico de animais gigantes. Também há esqueletos completos sendo destrinchados no Paraná e em São Paulo.

O primeiro dinossauro tupiniquim foi descoberto em 1936, ao longo de um afloramento de rochas de uma fazenda a alguns quilômetros da região central de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Trata-se do Staurikosaurus pricei, que, junto a outras dez espécies, forma o time dos que foram achados nas formações do Triássico.

— Os fósseis ficam evidentes nas chamadas bacias sedimentares, áreas que iam afundando no passado, como hoje acontece com o Pantanal mato-grossense. Esses mesmos movimentos também elevam as rochas. E é nelas, de diversos períodos paleológicos, que os estudiosos procuram por fósseis — explica o autor do guia.

Anelli ressalta ainda o bom estado de preservação de fósseis que datam de 115 milhões de anos no sítio paleontológico da cidade de Santana do Cariri, no sertão cearense.

— Os tecidos moles ficaram preservados, como a membrana na crista de um pterossauro. Sem contar as cerca de 25 espécies de répteis voadores — enumera.

Sobre a alimentação dos representantes da era Mesozoica brasileira, o paleontólogo os compara aos mamíferos de hoje, com os mais variados hábitos: havia dos grandes caçadores aos pequenos insetívoros, passando pelos que adoravam pescar e até os carniceiros, que se alimentavam de ovos e filhotes de outros animais. Muitos voavam e alternavam entre a terra e a água, sem nunca terem se mudado de vez para o ambiente aquático.

O Cratoavis, menor dinossauro descoberto no Brasil, é descrito pelo pesquisador como semelhante a um colibri, mas só em tamanho. Além de planar, o bicho tinha dentes, e os dedos das mãos não eram fundidos, características do período Cretáceo — marcado pela transição dos não voadores para os voadores. Acredita-se que ele viveu onde hoje é o território do Ceará. Já o Uberabatitan está exposto em Peirópolis, distrito rural da cidade mineira de Uberaba, onde foi localizado.

O “Novo guia completo dos dinossauros do Brasil” é publicado pela Editora Peirópolis em parceria com a Editora da USP (Edusp). Nem todos os animais exóticos que passaram pelo Brasil, porém, encaixam-se nessa categoria. Anelli conta que ficaram de fora do livro, por exemplo, a cobra Titanoboa e o roedor Phoberomys, que chegavam a pesar perto de uma tonelada, e o maior crocodilo do mundo, o Purusaurus, com 14 metros de comprimento. Todos desfilaram com sua estrutura gigantesca pelo Acre, profícuo em fósseis do gênero.

— São tesouros da nossa pré-história guardados no extremo do Brasil — resume o pesquisador.

(*estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)

Fonte: O Globo

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