Cuidar da água será um ótimo negócio

Quando uma comunidade do outro lado do mundo sofre com a escassez de água, os seus efeitos reverberam além das fronteiras geográficas e afetam a todos de maneiras diversas e muitas vezes inesperadas. O aspecto humanitário vem sempre em 1º lugar. A falta de acesso à água potável segura e a falta de saneamento são as principais causas de doenças e mortes evitáveis no mundo.

No Brasil, segundo Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil, estima-se que, ao atual nível de investimento, será preciso 170 anos para o país conseguir a universalização do saneamento.

Milhões de pessoas são afetadas pela escassez de água e pela sua má qualidade, enfrentando condições de vida precárias e até mesmo deslocamento forçado por causa de conflitos sobre recursos hídricos. Ao ignorar essas crises, a sociedade negligencia seu dever moral de agir em solidariedade. É o caso da Síria, na Arábia Saudita.

Além disso, a falta de água ou a sua má qualidade tem implicações profundas para a segurança alimentar e a estabilidade econômica. A agricultura consome muita água e a sua escassez pode levar a colheitas fracassadas, elevando os preços dos alimentos e exacerbando a fome e a pobreza no mundo.

O excesso também é prejudicial, por exemplo, quando ocorrem chuvas torrenciais localizadas. Os impactos econômicos da matéria-prima de água se estendem além do setor agrícola, afetando indústrias dependentes de água e, consequentemente, empregos e oportunidades de subsistência.

Os efeitos não se limitam apenas às áreas diretamente afetadas. Mudanças nos padrões climáticos e na disponibilidade de água em uma região podem desencadear (PDF– 9 MB) uma série de consequências em cascata, incluindo migração em massa, conflitos por recursos e instabilidade política.

Em um mundo cada vez mais interconectado, tais eventos têm o potencial de desestabilizar economias globais e desencadear crises humanitárias de proporções catastróficas. As mudanças climáticas só exacerbam o problema criado por nós mesmos. A sociedade está secando os continentes ao transferir água de poços e lagos para os oceanos, situação crítica em vários países. Esse tema foi abordado com profundidade em uma extensa reportagem no jornal norte-americano New York Times.

A disponibilidade de água é um ativo valioso. Empresas e negócios que necessitam de muita água já se concentram em locais com maior abundância desse recurso. Não é por acaso que o Brasil, com 12% da água doce do planeta, é um grande produtor agrícola. É do nosso interesse valorar e valorizar a água, deveria ser uma prioridade estratégica do nosso país.

Isso só poderá ser alcançado com uma métrica precisa. Conforme destacado em um estudo, publicado na Circle of Blue, a implementação de um sistema de “crédito de água”, tal como o crédito de carbono, seria um caminho para se abordar na crescente crise global de água, que veio para ficar. Com o uso de um mercado de créditos hídricos (PDF – 1 MB), as empresas e os governos podem incentivar a adotar práticas de conservação, reutilização e eficiência no uso da água. Esse tratamento e manutenção de qualidade na natureza seriam recompensados e ganhariam interesse econômico, além da sanção do mau uso.

Além disso, a implementação do crédito de água pode servir como um catalisador para a conscientização e para a ação coletiva em relação à crise hídrica. Ao atribuir um valor econômico à água, as pessoas são incentivadas a reconhecer sua importância e a buscar maneiras de conservar e proteger esse recurso finito.

Essa abordagem não só estimula a responsabilidade individual, mas também cria oportunidades para investimentos em infraestrutura hídrica resiliente e soluções inovadoras para os desafios hídricos. Os impactos à água e as suas consequências são um lembrete poderoso de nossa interdependência como habitantes deste planeta.

Fonte: Poder360

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