Crescimento inclusivo para futuro sustentável é foco das discussões para o setor privado no G20

Dan Ioschpe, chair do B20
Dan Ioschpe, chair do B20 — Foto: O Globo

A participação do setor privado no G20 — por intermédio do fórum Business 20 (B20), que reúne representantes empresariais com a missão de elaborar sugestões de ações para os governos das maiores economias globais — tem como ponto de partida propostas em linha com o crescimento inclusivo para um futuro sustentável.

As oito forças-tarefas serão comandadas por um seleto time de empresários brasileiros voltados para os eixos de transição energética e clima; comércio internacional e investimento; finanças e infraestrutura; emprego e educação; transformação digital; integridade e compliance; sistemas alimentares sustentáveis e agricultura; e o conselho de ação mulheres, diversidade e inclusão em negócios. Os dois últimos são novidades no B20.

Cada CEO estará à frente de uma força-tarefa, com cerca de 150 pessoas, além de co-chairs, executivos escolhidos entre os países do G20 para atuar em conjunto com as lideranças, os chairs. No fim, o B20 espera entregar ao G20, em novembro, poucas, mas impactantes recomendações. Um desafio, sem dúvida, tendo em vista que 1,4 mil líderes globais participarão das discussões, com visões, interesses e problemas regionais distintos.

“Pedimos às forças-tarefas algumas coisas diferentes das edições passadas, com menos recomendações. Nas anteriores, houve grande volume de sugestões, o que acabava pulverizando os efeitos. Solicitamos aos grupos que se limitem a três recomendações, para que tenham maior impacto”, diz Dan Ioschpe, chair do B20 escolhido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade que lidera o Fórum empresarial em 2024, ano em que o Brasil preside o G20.

O B20 deu início às primeiras reuniões com o objetivo de elaborar recomendações dentro de cinco linhas de pensamento propostas, que são, além de crescimento inclusivo, o aumento da produtividade via inovação; a ampliação da resiliência das cadeias de valor global; promoção de transição justa para um mundo carbono líquido zero; e valorização do capital humano. Os trabalhos está no começo, mas há indicações de trilhas prioritárias.

Na força-tarefa de transição energética, o líder Ricardo Mussa, CEO da Raízen, vê temas como eficiência energética, mercado de carbono com compensações regionais e soluções baseadas na natureza ganhando espaço nas discussões. “Nossa tarefa é obter propostas que o G20 possa implementar, com ações impactantes no curto prazo para combater as mudanças climáticas”, diz. As recomendações precisam ser universais e devem se limitar a três.

“Nas outras edições do B20, as políticas não foram simples de implementar. Sei que não será fácil chegar a um consenso. São CEOs de grandes empresas globais, de altíssimo gabarito, com muito conhecimento prático. Dali saem ideias ótimas. Por isso, nossa tarefa é levar ao G20 propostas com base na ciência, dados e fatos”, afirma Mussa.

Para tanto, conta com a consultoria da McKinsey, “knowledge partner” do grupo, que apresentou aos membros pesquisas evidenciando impactos do aquecimento global em todos os setores econômicos, além de comparativos entre ações exitosas adotadas pelos países — o que funcionou e o que não funcionou. “Quando temos esses dados, é difícil alguém contestar. No Brasil, eles mostraram quais políticas foram mais impactantes para a redução de emissões, como o programa de carro flex.” O país, aliás, exibe credenciais invejáveis por estar à frente dos demais na transição energética, com matriz elétrica entre as mais renováveis do mundo.

A força-tarefa voltada para sistemas alimentares, liderada por Gilberto Tomazoni (JBS), priorizou o combate à fome. “Há necessidade de aumentar a produtividade, promover a sustentabilidade e tornar o alimento acessível”, diz Tomazoni, que comemora o retorno do tema ao B20, depois de seis anos ausente do Fórum. “É um marco, afinal, o setor representa 10% do PIB global e 35% dos empregos no mundo.” Para concretizar as ações, no entanto, é preciso enfrentar o desafio das barreiras comerciais, que pressionam os preços dos alimentos.

“Globalmente, precisamos fomentar modelos inovadores de financiamento que permitam que os recursos cheguem aos produtores rurais, principalmente os da agricultura familiar”, diz. Assim como no tema transição energética, o Brasil ocupa posição privilegiada para contribuir com essa agenda.

Os membros da força-tarefa finanças e infraestrutura, grupo liderado por Luciana Antonini Ribeiro, cofundadora da eB Capital, estão voltados para elaborar propostas de financiamento para a transição rumo à economia verde, especialmente nos países do sul global. Uma das prioridades é atrair o capital privado, criando instrumentos a partir de recursos públicos que permitam reequalização dos riscos dos países em desenvolvimento.

Na prática, trata-se de instituir garantias, como hedge cambial, para que o setor privado assuma parte do financiamento. “Hoje, riscos cambiais e geopolíticos impedem a alocação do capital privado para a transição climática nos países em desenvolvimento”, diz.

Além disso, o grupo trará outras duas recomendações. Uma delas, a de tornar mais ágeis processos de licenciamento de projetos de infraestrutura ligados a resiliência e adaptação climática. Hoje, as licenças são locais e demoram até dez anos para aprovação. A outra é a de garantir às pequenas e médias empresas acesso a financiamento, para que possam se inserir nas cadeias globais preocupadas com sustentabilidade. “Com a transição para economias mais verdes, essas empresas não podem ser deixadas para trás”, diz a executiva.

O Fórum também criou um grupo de trabalho específico para discutir questões de gênero, o primeiro G20 a contar com o tema. Segundo Paula Bellizia, presidente de pagamentos globais do EBANX e líder do Conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios do B20, o grupo definiu três prioridades: aumentar a representação de diferentes formas de diversidade; estabelecer melhores práticas para promover a diversidade e inclusão no ambiente de trabalho; e proporcionar apoio educacional para fomentar a diversidade socioeconômica.

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.