Como o Irã pode reagir ao ataque de Israel à embaixada?

Bombeiros tentam apagar focos de incêndio em prédio do consulado iraniano em Damasco
Bombeiros tentam apagar focos de incêndio em prédio do consulado iraniano em Damasco — Foto: LOUAI BESHARA / AFP

O regime de Teerã possui poucas alternativas para responder ao ataque de Israel à embaixada iraniana em Damasco que matou importantes lideranças das Guardas Revolucionárias. Todas as opções podem levar a uma escalada e possivelmente a uma guerra aberta, que não é do interesse do Irã. Ao mesmo tempo, não fazer nada pode ser humilhante e servir de incentivo para novas ações militares israelenses.

Alguns dizem que a resposta poderia ser através do Hezbollah, com ataques ao Norte de Israel. Esse cenário seria complexo especialmente para o grupo xiita libanês, que precisaria explicar em Beirute para a sociedade libanesa, que inclui muitos opositores à organização, o motivo de colocar os interesses do Irã acima dos do Líbano. Em segundo lugar, o Hezbollah já lança foguetes e mísseis em direção ao lado israelense desde outubro. Eles avisariam que determinados mísseis seriam da resposta do Irã e outros não? Por último, o próprio Irã precisaria usar as suas próprias forças convencionais para ter um mínimo de legitimidade na resposta inclusive domesticamente.

Outro questionamento se deve ao fato de Israel ter atacado uma missão diplomática. Caso o Irã responda contra o território israelense, haverá o argumento em Israel de que se trata de uma escalada. Isso poderia justificar bombardeios israelenses ao território iraniano. Uma resposta recíproca e proporcional do Irã seria a uma missão diplomática de Israel. O problema é que isso também traria uma séria de obstáculos ao Irã.

Primeiro, envolveria um terceiro país. De forma convencional, as forças iranianas teriam condições apenas de atacar missões diplomáticas na região, onde Israel possui poucas embaixadas e consulados. Basicamente, as opções seria Turquia, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Bahrein e Azerbaijão. Destes, o Irã vê o regime de Baku como o mais próximo de Israel e com o menor respaldo internacional ainda mais depois da limpeza étnica de armênios no ano passado. Mesmo assim, seria uma decisão ultra complexa que poderia levar a uma reação dos azeris. Já Abu Dhabi e Amã possuem relações razoáveis com Teerã. Manama possui a base de uma frota da marinha dos EUA. E Ancara, além de próximo dos iranianos e crítica de Israel, integra a Otan. Não faria sentido.

Existe um legítimo temor de que o Irã possa organizar atentados terroristas contra missões diplomáticas israelenses ou entidades judaicas em outras partes do mundo. Há antecedentes. Afinal, o regime de Teerã é acusado pelos atentados terroristas contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992 e contra a AMIA (uma organização judaica) também na capital argentina dois anos mais tarde. Ainda assim, seriam ações complexas e isolariam ainda mais o Irã internacionalmente.

O regime de Teerã poderia também alvejar supostos interesses israelenses no Curdistão iraquiano e dizer que é uma base da Mossad, como chegou a fazer recentemente. Seria a melhor alternativa para evitar uma escalada, mas Benjamin Netanyahu poderia testar mais uma vez com outro ataque. Simplesmente, não há opções simples para Teerã e a possibilidade de a situação fugir ao controle e eclodir uma guerra entre Israel e o Irã é enorme. Vamos torcer para que, nos bastidores, outros atores internacionais ajam para impedir um conflito entre israelenses e iranianos que seria péssimo não apenas para os dois países como toda a segurança internacional.

Fonte: O Globo

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