Com Lula, líder francês defende cooperação tecnológica com Brasil para desenvolver 1º submarino nuclear da América Latina

Submarino Tonelero é batizado e lançado ao mar em Itaguaí, no Rio de Janeiro
Submarino Tonelero é batizado e lançado ao mar em Itaguaí, no Rio de Janeiro — Foto: Filipe Barini

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu nesta quarta-feira, a cooperação tecnológica com o Brasil para desenvolvimento do primeiro submarino nuclear da América Latina. Em visita ao Complexo Naval em Itaguaí, no Rio de Janeiro, ele elogiou a parceria entre os países e disse que foi desenvolvida uma relação fraternal entre as Forças Armadas, inclusive em aspectos estratégicos.

— Nós temos a convicção de que podemos criar uma nova página na cooperação estratégica entre nossos países — declarou Macron, acompanhado do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. — Meu querido Lula, esse será o local da construção de alguns dos submarinos mais avançados do mundo, e o único [nuclear] do Hemisfério Sul. Hoje posso te dizer, você tinha razão de acreditar [no Prosub], e hoje tem razão para sorrir.

O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) é fruto de uma parceria entre o Brasil e a França firmada em 2008, cujo orçamento é de cerca de R$ 40 bilhões para o desenvolvimento de cinco submarinos, sendo quatro convencionais e um de propulsão nuclear.

Até o momento, já foram entregues três submarinos convencionais, mas o lançamento do submarino nuclear foi adiado diversas vezes e atualmente está previsto para 2030. Fontes da Marinha que falaram sob condição de anonimato com O GLOBO antes do evento desta quarta-feira ressaltaram que, além da dificuldade orçamentária, há barreiras para se alcançar acordos internacionais de transferência tecnológica nesta área, o que tem levado ao adiamento da construção da embarcação.

Mísseis, torpedos e guerra eletrônica: conheça o submarino Tonelero, lançado ao mar por Lula e Macron

Fontes também disseram que há discussões internas entre os governos do Brasil e da França sobre a cooperação no desenvolvimento da tecnologia a ser usada no submarino de propulsão nuclear brasileiro, mas nenhum anúncio oficial foi feito até o momento, embora Macron e Lula tenham tocado no assunto durante seus discursos em Itaguaí.

— Nós vamos juntos abrir uma nova página para produzir juntos, de maneira respeitosa, e conseguir vantagens [conjuntas]. (…) É possível desenvolver a energia nuclear de maneira responsável — defendeu o líder francês.

Há expectativa de que um anúncio seja feito na quinta-feira, quando Macron for a Brasília.

— Quando nos encontrarmos em Brasília amanhã, vamos firmar a maior quantidade de acordos já assinada. O Brasil quer os conhecimentos da energia nuclear não para guerra, mas para garantir a todos os países que o Brasil quer a paz. A guerra destrói, o conhecimento científico constrói — declarou Lula, acrescentando que a parceria franco-brasileira “demonstra a determinação do Brasil em conquistar maior autonomia estratégica diante das muitas crises e desafios que a Humanidade enfrenta nos século XXI”.

O almirante Olsen, da Marinha, também defendeu o uso pacífico da energia nuclear pelo Brasil, no âmbito do desenvolvimento do submarino nuclear Álvaro Alberto, que faz parte do Prosub. Ele reiterou o compromisso brasileiro com as normas internacionais e com as inspeções de organismos multilaterais, como a Agência Internacional De energia atômica (AIEA).

Atualmente, apenas seis países detém a tecnologia de propulsão nuclear: Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Reino Unido e França. A Austrália deverá ser o próximo a entrar nesse seleto grupo através da aliança Aukus, feita com Reino Unido e EUA, em um raro caso de transferência da tecnologia nuclear.

Lula e Macron visitaram o Complexo Naval em Itaguaí, nesta quarta-feira, por ocasião do batismo e lançamento ao mar do submarino “Tonelero” (S42), terceiro Submarino Convencional com Propulsão Diesel-Elétrica (S-BR) que integra o Prosuc e cuja operação inicialmente era prevista para 2020. O novo submarino é equipado com mísseis, torpedos e sensores modernos, segundo a Marinha do Brasil. Após ser colocado na água, ele deverá ainda passar por uma fase de testes para avaliar os sistemas de combate e navegação, bem como a sua estabilidade no mar.

O Tonelero é equipado com seis turbos de armas capazes de lançar torpedos, mísseis antinavio e minas. O Sistema de Combate do submarino tem ainda sensores acústicos, eletro-ópticos e óticos, além de equipamentos de guerra eletrônica.

Seguindo uma tradição naval, a primeira-dama Janja foi a madrinha do submarino no evento desta quarta-feira. Em dezembro de 2018, no lançamento ao mar do Riachuelo, a ex-primeira-dama Marcela Temer cumpriu o mesmo papel, assim como, em 2020, fez Adelaide Chaves Azevedo e Silva, mulher do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo.

O Prosub prevê a transferência de tecnologia francesa para a construção de embarcações nacionais. Por isso, o Tonelero guarda semelhanças com os submarinos da classe Scorpène. O modelo brasileiro, no entanto, é maior que o francês, tendo 71 metros de comprimento e um deslocamento submerso de 1.870 toneladas. Dotado de quatro motores a diesel e um elétrico, ele tem uma autonomia de mais de 70 dias, podendo atingir mais de 250 metros de profundidade. A tripulação do Tonelero será composta de oito oficiais e 27 praças, totalizando 35 militares.

O Tonelero é um dos quatro submarinos movidos a propulsão convencional desenvolvidos no âmbito do Prosub. Outros dois já foram concluídos e entregues: o Humaitá, em janeiro deste ano, e o Riachuelo, incorporado à esquadra da Marinha em setembro de 2022. O último desses novos submarinos convencionais é o Angostura, ainda em fabricação. No entanto, a principal embarcação militar desenvolvida dentro do programa é o Álvaro Alberto, o submarino de propulsão nuclear da Marinha, previsto para ser concluído no final da década, após diversos atrasos. (ColaborouThayz Guimarães)

Fonte: O Globo

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