Cientistas injetam material radioativo contra caçadores de rinocerontes na África do Sul; entenda o procedimento

Rinoceronte durante procedimento
Rinoceronte durante procedimento — Foto: EMMANUEL CROSET / AFP

Cientistas sul-africanos começaram esta semana a injetar material radioativo nos chifres de rinocerontes vivos para facilitar sua detecção em postos de fronteira, com o objetivo de combater a caça furtiva que está devastando esses animais protegidos.

A África do Sul abriga cerca de 80% da população mundial de rinocerontes brancos, estimada em menos de 13.000 espécimes. No entanto, o país tornou-se um foco de caça furtiva impulsionada pela demanda na Ásia, onde os chifres são utilizados na medicina tradicional por seus supostos efeitos terapêuticos ou afrodisíacos.

Os rinocerontes, alguns herbívoros de pele espessa, pastam na savana do Orfanato de Rinocerontes, que abriga principalmente jovens cujas mães foram vítimas de caça furtiva, em uma localização não revelada na província nordeste de Limpopo.

James Larkin, pesquisador da Universidade de Witwatersrand e impulsionador da iniciativa, inseriu “dois pequenos chips radioativos no chifre” de uma dessas crias, que com um ano de idade pesam quase meia tonelada.

O material radioativo “torna o chifre inútil e essencialmente tóxico para o consumo humano”, explicou Nithaya Chetty, decana de Ciências da mesma universidade.

O rinoceronte, sedado e deitado no chão empoeirado, não sentiu dor alguma, assegurou Larkin. Ele acrescentou que a dose de material radioativo é suficientemente fraca para não afetar a saúde do animal ou seu ambiente.

O governo sul-africano admitiu em fevereiro que, apesar de seus esforços, 499 rinocerontes foram mortos em 2023, principalmente em parques nacionais, um aumento de 11% em relação ao ano anterior.

No projeto piloto Rhisostope, 20 espécimes estão participando, recebendo uma dose “suficientemente forte para ativar detectores instalados em todo o mundo”, inicialmente destinados “para evitar o terrorismo nuclear”, explicou Larkin.

Os agentes de fronteira frequentemente carregam detectores de radiação portáteis, além dos milhares de detectores instalados em portos e aeroportos, conforme os cientistas.

No mercado paralelo, o preço dos chifres por peso rivaliza com o do ouro ou da cocaína. Segundo Arrie Van Deventer, fundador do orfanato, o descornamento e envenenamento dos rinocerontes não conseguiram dissuadir os caçadores furtivos.

“Este método pode acabar com a caça furtiva”, afirmou entusiasmado este defensor da natureza alto e magro sobre o uso do material radioativo. “É a melhor ideia que já ouvi”.

Gnus, javalis e girafas vagam pela vasta área de conservação enquanto a equipe realiza o delicado procedimento em outro rinoceronte. James Larkin perfurou cuidadosamente um pequeno buraco no chifre onde inseriu o radioisótopo e, em seguida, aplicou 11.000 micro pontos por todo o chifre.

A última fase do projeto envolverá o tratamento dos animais seguindo “um protocolo científico e ético apropriado”, explicou a responsável pelo projeto, Jessica Babich. Posteriormente, a equipe coletará amostras de sangue para garantir a proteção dos animais.

O material permanece no chifre tratado por cinco anos, o que é menos custoso do que o descornamento a cada 18 meses, destacou Larkin.

Fonte: O Globo

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