Chuvas no RS: gasto do governo federal pode ser de até R$ 117,8 bi este ano, aponta metodologia construída a partir de outras tragédias

Destruição na cidade de Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul
Destruição na cidade de Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul — Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini/19-05-2024

Quanto custará reconstruir o Rio Grande do Sul após a devastação provocada pelas enchentes no estado? Essa ainda é uma pergunta sem resposta. Os economistas Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador associado do FGV Ibre, e Matheus Ribeiro, analista BRCG, no entanto, criaram um modelo que permite calcular que apenas o governo federal poderá desembolsar este ano até R$ 117,8 bilhões com a calamidade que se abate sobre o estado. A conta não inclui medidas como a suspensão da cobrança de dívidas, a liberação do FGTS ou renúncias fiscais, o que elevaria e muito esse montante.

Para chegar a essa conta, diante da excepcionalidade do que se passa no Rio Grande do Sul, o economista buscou eventos que pudessem guardar algum ponto de similaridade com a tragédia gaúcha. Chegou a quatro: o furacão Katrina, que devastou Nova Orleans, em 2005; a enxurrada que matou mais de 800 pessoas na Região Serrana, em 2011; o rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, e a pandemia de Covid-19. A partir da avaliação dos impactos e das ações do governo americano, no caso do Katrina, e do governo federal, nos três eventos em solo nacional, Ribeiro criou uma metodologia para calcular o despêndio da União.

-Trata-se de um valor preliminar, que precisará ser revisto com o tempo. Mas o importante é que dentro de todas as limitações criamos uma metologia que permite que a gente deixe de ficar discutindo apenas um número, mas passe a fazer contas. É um ponto de partida. Temos que ter em mente que esse é um evento de grande impacto, que é muito improvável que se resolva este ano. Esse valor seria uma injeção inicial para entrar no combate, salvar vidas, limpar, avaliar e começar a reparar estradas, encostas, infraestrutura. Analisando o Katrina, que mais se assemelha quando falamos de impacto de eventos extremos climáticos, há investimentos que levaram mais de uma década. É claro que não tem comparação entre a economia americana e a brasileira, mas isso dá ideia do tamanho do esforço – explica Ribeiro.

O economista criou parâmetros para calcular gastos por áreas. Ele separou os desembolsos por obras de infraestrutura e habitacional; recuperação ambiental; saúde e saneamento; manutenção do emprego; políticas de crédito; recomposição de perda nominal de ICMS e ISS; gastos sociais e de transferência de renda. A partir da análise do comportamento do governo, ele calculou que o gasto base para todas essas áreas seria de R$ 70 bilhões, repetindo a performance apurada nos eventos anteriores. Ao calcular o desvio padrão, aponta que caso seja mais conservador o governo central poderá desembolsar R$ 48,4 bilhões e se tiver uma postura mais ativa do aponta o histórico, o desembolso poderá chegar a R$ 117,8 bilhões.

– Para além de todas as variáveis, tudo ainda depende da velocidade da liberação dos investimentos, da disposição do governo para gastar.

Confira o valor de desembolso por áreas em três cenários:

Na avaliação do pesquisador, até aqui, o governo parece estar caminhando na direção correta em relação aos investimentos no estado.

O governo não tem negado apoio, criou medidas, fundos, mas também não está prometendo demasiadamente, está no caminho certo, entendendo a profundidade das águas.

Entenda os parâmetros utilizados para fazer os cálculos por áreas:

A partir do Atlas de Desastres: Considera o dano material/km² de enchentes de grandes proporções e similares da base do Atlas, para municípios com pelo menos 1000km². Tem-se como hipótese que o evento no RS fica no 5% mais custoso da distribuição.

A partir de Brumadinho: Faz uso das despesas não indenizatórias da Vale em Brumadinho com obra e infraestrutura. Assume-se que o gasto por km² seria o mesmo, levando em consideração municípios afetados no RS e os contemplados no acordo da Vale. Variação ±25% à depender do cenário.

Fonte: O Globo

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