‘Chorei, me desesperei’: mãe narra reação a médico que negou atestado e sugeriu que filho de 5 anos com febre ficasse sozinho em casa

Médico se negou a dar atestado de acompanhante para mãe de criança de 5 anos doente no PR
Médico se negou a dar atestado de acompanhante para mãe de criança de 5 anos doente no PR — Foto: Reprodução

Era madrugada de domingo para a última segunda-feira (20) quando a porteira Luciana Gonçalves Costa, de 39 anos, moradora de Cambé (PR), precisou ir à UPA da cidade em busca de atendimento para o filho, de apenas 5 anos, que sofre de crises crônicas de asma e, além do sintoma, apresentava febre de 38 graus. Eles passaram pela triagem e tudo parecia normal, até o momento em que foram atendidos pelo médico plantonista. O homem, de 30 anos, disse que o garoto precisava ficar de repouso por dois dias por conta do seu quadro de saúde. Entretanto, negou-se a dar à mãe um atestado de acompanhante para que ela pudesse apresentar no trabalho e ficar com ele. Repetia que a criança deveria ficar sozinha em casa — o que é contra a lei. A mulher resolveu filmar tudo e o caso ganhou grande repercussão.

Assim que a situação se tornou conhecida, o médico foi afastado e sua conduta passou a ser investigada pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (Cismepar), responsável pela contratação. Até o prefeito da cidade de Cambé, Conrado Scheller, foi às redes definir o caso como revoltante.

O homem teve o registro no Conselho Federal de Medicina cadastrado em julho do ano passado, o que indica que se formou recentemente como profissional. Além disso, não possui especialização em pediatria ou em qualquer outra área. Ainda indignada com a situação, Luciana conta com detalhes sobre como tudo aconteceu. Ela chegou à UPA por volta das 5h da manhã.

— O meu menino tem problemas respiratórios, já ficou internado no oxigênio várias vezes, então quando ele começa com esses sintomas a gente já corre para o médico. Ele estava com febre muito alta, é magrinho, pequeno, eu morro de medo — relembra. — Ele (o médico) avaliou, disse que realmente estava bem congestionado, mas que a febre ia passar e que os próprios anticorpos já iam resolver. Achei estranho, mas continuei ouvindo. Daí, ele perguntou se a criança estudava, porque ia precisar ficar 2 dias sem ir à escola pelo risco de ser algo viral. Quando eu disse que precisava de um atestado para mim, ele disse: “Mas para você eu não posso, você não está doente”.

Luciana conta que, a partir desse momento, começou a se desesperar. Ela trabalha como porteira há 6 anos num prédio, com jornadas de até 12 horas de trabalho, e, por mais que tenha a confiança dos empregadores, não poderia deixar de ir sem uma justificativa oficial.

— Eu falei: e onde eu vou deixar essa criança agora? A minha família toda trabalha também. E foi aí que ele começou a falar: “ele pode ficar sozinho em casa”. Eu disse que ia começar a filmar isso e ele disse que podia filmar: “trabalho dentro da lei”. Aí eu comecei a chorar, entrei em desespero. Até que a enfermeira chefe veio, me acalmou e me orientou a esperar a próxima troca de plantão. A médica que chegou reavaliou, deu os atestados e disse que achou aquilo o cúmulo. Ela disse: “Será que ele está em situação normal da cabeça?”.

A mãe conta ainda que, logo depois que saiu da UPA, já mandou o vídeo que havia gravado para o Conselho Tutelar da cidade, questionando se a conduta do médico estava certa e se de fato uma criança de 5 anos poderia ficar em casa sozinha — por lei, crianças com menos de 12 anos não podem ficar sozinhas em casa, sem a companhia de responsáveis. Foi a partir daí que o caso começou a desenrolar.

— Todo mundo ficou horrorizado — concluiu.

No vídeo publicado por Luciana, o médico aparece insistindo para que ela deixe o filho de apenas 5 anos de idade sozinho em casa e dando justificativas para não entregar um atestado de acompanhante à mãe da criança que estava com febre.

“Ele tem alguma dificuldade nutricional? Você vai deixar ele em casa nesse período. Qual o risco que tem de ele ficar em casa sozinho? Qual que é o risco? Cinco anos não pode ficar em casa assistindo televisão?”, diz o profissional. Quando a mãe, mais uma vez insiste em questionar se uma criança de 5 anos pode ficar em casa sozinha, pela lei, então, ele responde: “Olha, eu ficava”.

Em vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito comentou o caso.

— É realmente revoltante que um profissional tenha uma atitude como essa — disse Scheller. — Como prefeito, já tenho a minha opinião: é inaceitável. Esses profissionais são contratados pelo Cismepar, que é um consórcio que atende todas as cidades da região e eu já notifiquei dizendo que não quero esse médico mais nos nossos quadros.

Scheller acrescentou ainda que pediu para o Conselho Regional de Medicina do Paraná investigar a conduta do profissional.

O Cismepar, por sua vez, também se manifestou em nota.

“Com relação aos fatos ocorridos na UPA – Silvia Montovani, em Cambé, o Consórcio Cismepar esclarece que trabalha em apoio aos Municípios na contratação de médicos através do processo de credenciamento. Diante da gravidade do ocorrido, realizamos a abertura do Processo Administrativo para apuração dos fatos, bem como o afastamento do profissional, preventivamente, até a devida finalização do processo”.

Fonte: O Globo

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