Choque de versões, dez mortes e suspeita de crime: o que já se sabe e o que falta explicar sobre incêndio em pousada

Incêndio em pousada em Porto Alegre deixou ao menos dez mortos e sete feridos em estado grave
Incêndio em pousada em Porto Alegre deixou ao menos dez mortos e sete feridos em estado grave — Foto: Corpo de Bombeiros

O incêndio de uma pousada na madrugada desta sexta-feira em Porto Alegre causou dez mortes, ferimentos em 15 pessoas e deixou dúvidas sobre as causas e as condições de funcionamento do estabelecimento, no Bairro Floresta. O Corpo de Bombeiros diz que o prédio de três andares, que recebia moradores em situação de rua por um convênio com a prefeitura, não tinha autorização para funcionar como hospedagem. A informação é contestada pela Secretaria Municipal de Assistência Social e os proprietários da pousada, da Rede Garoa. Os donos e a Defesa Civil do município falaram em incêndio criminoso, hipótese negada pela Polícia Civil.

O controle do fogo exigiu cinco caminhões dos Bombeiros, que trabalharam durante três horas. Dois dos mortos foram encontrados no primeiro andar da pousada, e cinco no segundo. Os outros três estavam no terceiro andar. O Corpo de Bombeiros informou que o incêndio se espalhou rapidamente porque os quartos eram muito próximos, comprometendo a saída dos hóspedes.

Dos oito feridos resgatados durante o incêndio, seis estavam em estado grave nesta sexta-feira, e um foi internado com 20% do corpo queimado no Hospital Cristo Redentor, na Zona Norte de Porto Alegre. Outras sete pessoas procuraram atendimento médico à tarde relatando falta de ar e tosse por inalar fumaça, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. As vítimas estavam em situação estável, mas sendo observadas.

A corporação acrescentou que não havia um plano de prevenção contra incêndio na pousada. Mas o secretário municipal de Desenvolvimento Social, Léo Voigt, e o dono da rede a que pertence a pousada, André Luís Kologeski da Silva, afirmam que ela estava regular.

— Entregaram a documentação plenamente, que é exigido pela Lei de Licitação — afirmou Voigt ao g1. — Isso inclui o registro de plano de prevenção contra incêndio. Ainda tramita nos Bombeiros, mas a documentação foi entregue — acrescentou.

No entanto, o comandante do 1º Batalhão de Bombeiros de Porto Alegre, coronel Lúcio Juanes da Silva, disse ao g1 que houve apenas um “registro de protocolo” de um plano em 2019, que nunca foi concluído:

— Não se solicitou a vistoria para alvará, que certifica que o Corpo de Bombeiros licenciou aquela edificação.

O prefeito Sebastião Melo (MDB), que decretou luto oficial por três dias, deu mais crédito aos bombeiros, ao determinar que todas as hospedagens que tenham parceria com a prefeitura para receber pessoas em situação de rua sejam inspecionadas.

— Na licitação apresentaram documentos, mas neste momento não me cabe fazer qualquer tipo de afirmação. Acho que os Bombeiros são as fontes para falar sobre isso, cabe a eles revisar o PPCI (sigla do plano de combate a incêndios).

Kologeski e a Defesa Civil também afirmaram que o incêndio pode ter sido proposital.

— Preliminarmente, se trabalha com incêndio criminoso. Um indivíduo pode ter entrado na madrugada — afirmou o coordenador da Defesa Civil em Porto Alegre, Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior.

Mas a hipótese de que “colocaram fogo”, como disse Kologeski, foi contestada pelo delegado da Polícia Civil Leandro Bodoia, que abriu inquérito para apurar o episódio. As causas devem ser esclarecidas pela perícia.

— Não encontramos nenhum indício de incêndio criminoso. Um morador tentou apagar o fogo em um colchão, virando o colchão para apagar a chama. Bateu na parede de madeira e se alastrou — afirmou o delegado.

Dos 30 hóspedes, 16 eram mantidos com subsídios de um convênio iniciado em novembro de 2020 com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) da prefeitura para fornecer vagas a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em novembro de 2022, outra unidade da mesma rede pegou fogo. Um homem morreu e dez pessoas ficaram feridas.

O contrato original era de R$ 197 mil, com duração de seis meses para 360 vagas. Na última renovação, em dezembro, o valor foi de R$ 2,7 milhões e o prazo chegava a 12 meses.

A Garoa também atende a prefeitura com outras 22 pousadas. No total, são 320 vagas. Relatos obtidos pelo GLOBO apontam que moradores reclamavam das condições precárias da rede a que pertence a pousada, que teria infiltrações e goteiras, além de ratos e baratas.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que a tragédia “consterna profundamente” o estado. “Seguimos mobilizados no rescaldo dessa tragédia e na identificação das causas”, escreveu no X (antigo Twitter). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com os parentes das vítimas, também na rede social, e disse que soube das mortes com “tristeza e preocupação”.

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.