China inicia manobras militares ao redor de Taiwan e afirma que são ‘uma punição’ aos ‘independentistas’

Navios de treinamento chineses durante manobras militares em conjunto com o Camboja
Navios de treinamento chineses durante manobras militares em conjunto com o Camboja — Foto: AFP

As Forças Armadas chinesas iniciaram na noite desta quarta-feira, manhã de quinta-feira pelo horário local, manobras ao redor de Taiwan, considerada uma província rebelde por Pequim, dias depois da posse de um novo presidente crítico às visões da China sobre a ilha. Segundo um representante dos militares chineses, essa é uma “punição” aos atos das forças “independentistas” taiwanesas

De acordo com a agência estatal Xinhua, as manobras estão sendo realizadas ao norte, sul e leste de Taiwan, “além das áreas ao redor das ilhas de Kinnen, Matsu, Wuqiu e Dongyin”. Um representante das Forças Armadas disse que serão usados recursos de terra, mar, ar e equipamentos do vasto arsenal balístico chinês no exercício chamado “Espada Conjunta 2024A”, previsto para durar até a sexta-feira.

As manobras, citando o comando militar, estão voltadas a treinamentos de prontidão de combate, controle do cenário de combate e ataques de precisão contra alvos de grande importância, além de verificar a capacidade dos sistemas de monitoramento de embarcações e aeronaves nos arredores de Taiwan.

Na segunda-feira, o novo presidente de Taiwan, Lai Ching-Te, tomou posse após sua vitória nas eleições de janeiro, e no primeiro discurso no cargo criticou o que chamou de “intimidação” de Pequim, afirmando que os rumos da ilha “será decidido por seus 23 milhões de habitantes”.

— O futuro que decidimos não será apenas o futuro de nossa nação, mas o futuro do mundo — declarou Lai. — [A China deve] cessar suas intimidações políticas e militares contra Taiwan, compartilhar com Taiwan a responsabilidade pela manutenção da paz e da estabilidade no Estreito de Taiwan, assim como de toda a região, e garantir que o mundo estará livre do medo da guerra.

Lai é um velho conhecido de Pequim, e que não tem muitos amigos nos círculos políticos na China continental. Há cerca de seis anos, ele disse que era um “trabalhador prático pela independência de Taiwan”, uma ideia inconcebível para o governo chinês. Agora, ele afirma que “Taiwan já é um país independente e soberano”, e que por isso “não há necessidade” de uma declaração de independência, mas a mudança de discurso pouco fez pela sua imagem: durante a campanha, Pequim apontou mais de uma vez que se tratava de uma eleição “entre a paz e a guerra”.

— A independência de Taiwan é um caminho sem saída. Não importa o pretexto ou ideia que seja usada, a promoção da independência e da secessão de Taiwan está fadada ao fracasso — disse, na segunda-feira, um porta-voz da Chancelaria chinesa.

Nesta quarta, um representante das Forças Armadas declarou que as manobras servem como uma “punição” aos atos das forças “independentistas” taiwanesas, e são um alerta contra a interferência e provocações de forças externas, um recado indireto aos EUA. Um dos pilares do governo de Joe Biden é a ênfase na defesa de Taiwan, usando por vezes um tom considerado por demasiado arriscado pelos chineses.

Em mais de uma ocasião, Biden disse que poderia enviar tropas no caso de uma invasão à ilha, embora a Casa Branca o tenha “corrigido” posteriormente. Em abril, a ilha foi contemplada em um pacote de defesa, aprovado pelo Congresso e focado na Ucrãnia e em Israel, e deve receber um aporte de US$ 8,1 bilhões (R$ 41,5 bilhões).

Apesar do tom duro, os exercícios já eram esperados pelas autoridades em Taiwan — em janeiro, manobras semelhantes foram realizadas pouco depois das eleições, em uma aparente tentativa de intimidar as novas autoridades na ilha.

— Precisamos prestar atenção no período pós-20 de maio (dia da posse), entre junho e novembro, quando os comunistas chineses realizam suas manobras militares de rotina — disse, no começo do mês, Tsai Ming-yen, diretor da Agência de Segurança Nacional de Taiwan, em conversa com repórteres. — A possibilidade dos comunistas chineses usarem essa temporada como desculpa para manobras militares destinadas a pressionar Taiwan é um ponto central para a Agência de Segurança Nacional.

Fonte: O Globo

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