Chefe de direitos humanos da ONU diz estar ‘horrorizado’ após 300 corpos serem encontrados em valas comuns em Gaza

Profissionais de saúde palestinos desenterram um corpo enterrado pelas forças israelenses no complexo do hospital Nasser em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.
Profissionais de saúde palestinos desenterram um corpo enterrado pelas forças israelenses no complexo do hospital Nasser em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. — Foto: AFP

Um dia após funcionários da Defesa Civil da Faixa de Gaza terem anunciado a descoberta de quase 300 corpos em uma vala comum no hospital Nasser, no sul do enclave, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse estar “horrorizado” com os relatos. Em sessão informativa da ONU nesta terça-feira e por meio de um porta-voz, ele lamentou a destruição das instalações médicas da unidade e de al-Shifa, o maior complexo médico do território e alvo de incursões do Exército de Israel, além dos ataques dos últimos dias em Gaza, que, segundo ele, mataram mulheres e crianças.

Os corpos foram encontrados depois que militares israelenses saíram do hospital, que abrigava milhares de palestinos deslocados. A última incursão na área foi realizada no início deste mês sob a justificativa de que as Forças Armadas de Israel tinham “informações confiáveis de uma série de fontes, inclusive de reféns libertados”, de que o grupo terrorista Hamas já havia mantido sequestrados no local. As evidências, no entanto, não foram divulgadas. O Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas desde 2007, disse à época que “a ocupação israelense” transformou o hospital num “quartel militar”.

Segundo a agência Associated Press, as covas improvisadas foram construídas quando as forças israelenses cercaram o local. Na ocasião, conforme o Guardian, as pessoas não conseguiam enterrar os mortos no cemitério. Alguns corpos, inclusive, eram de pessoas que morreram durante o cerco, enquanto outros eram de mortos durante a invasão. À CNN, o coronel afirmou que alguns dos cadáveres estavam com as mãos e pés amarrados, além de “sinais de execuções no campo”. Suleiman pontuou que não era possível determinar se eles foram enterrados vivos ou mortos, e que a maior parte dos corpos já estava em decomposição.

Porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal disse à AFP que “alguns corpos estavam nus, o que certamente indica que sofreram tortura e abusos”, e que a decomposição de alguns dos cadáveres dificultou o processo de identificação. Funcionários do órgão desenterraram restos mortais perto do hospital, e moradores do enclave tentaram encontrar parentes desaparecidos. De acordo com a rede catari al-Jazeera, corpos de mulheres idosas, crianças e jovens também foram encontrados. A mesma fonte afirmou que, na semana passada, outra vala comum foi achada no hospital al-Shifa. O Exército israelense não comentou o assunto.

— Recuperamos 283 corpos de mártires da vala comum no pátio do Complexo Médico Nasser desde a retirada do Exército israelense — disse o coronel Yamen Abu Suleiman, diretor da Defesa Civil na cidade palestina, à CNN nesta segunda-feira, acrescentando que ainda há 2 mil pessoas desaparecidas apenas em Khan Younis, além de outras mil na região central do território, que ainda não foram recuperados por falta de condições e equipamentos para remover os destroços das construções danificadas por intensos bombardeios.

Em março, dias após as Forças Armadas israelenses iniciarem um ataque contra o Hamas dentro e ao redor do hospital al-Shifa, veículos militares cercaram o Nasser e o al-Amal. Segundo o Crescente Vermelho Palestino, bombardeios pesados e tiros ecoaram na área, e ao menos um trabalhador voluntário do hospital foi morto pelo Exército. Mensagens transmitidas por drones, acrescentou a organização, exigiam que todos saíssem nus de al-Amal, que teve suas portas bloqueadas e barricadas feitas com sacos de lixo. A ONG declarou, na época, que todas as suas equipes estavam “sob extremo perigo” e não podiam se mover.

Um mês antes, também durante uma invasão ao Complexo Médico Nasser, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a declarar que o local não era mais “funcional” – ainda que, na ocasião, abrigasse 200 pacientes. Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom afirmou, naquele contexto, que equipes da organização não foram autorizadas a entrar no hospital para “avaliar as condições dos pacientes e as necessidades críticas”. Até então, a unidade era a maior em funcionamento no enclave. O hospital, porém, não pode mais atender pacientes que precisam de cuidados intensivos e foi prejudicado por cortes de água e eletricidade. (Com AFP e New York Times)

Fonte: O Globo

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