Caso Lázaro x Mossoró: líder de caçada a ‘serial killer’ em 2021 diz que ação requer ‘comando único’, sem ‘vaidade’

Rodney Miranda foi o secretário que liderou a caçada
Rodney Miranda foi o secretário que liderou a caçada — Foto: Reprodução

Protagonistas da primeira fuga de um presídio federal brasileiro, os detentos Rogério da Silva Mendonça, de 36 anos, e Deibson Cabral Nascimento, de 34, deixaram a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 14 de fevereiro. As buscas pela dupla ultrapassam uma das caçadas mais marcantes dos últimos anos, no que ficou conhecido como “Caso Lázaro”, em 2021, na região de Cocalzinho, em Goiás.

Lázaro Barbosa invadiu uma casa em Ceilândia, no Distrito Federal, e matou uma família de quatro pessoas, em 9 de junho daquele ano. Após o crime, tornou-se fugitivo. Acabou morto em um confronto com a polícia 20 dias depois. Dos 20, ao menos 15 dias de buscas estiveram sob o comando do ex-secretário de Segurança de Goiás, Rodney Miranda.

Em entrevista ao GLOBO, o líder da força-tarefa montada à época comentou semelhanças e distinções entre os casos. A principal diferença, segundo ele, está na rede de apoio recebida pelos criminosos. Rede que inclui, segundo Miranda, o que considera ter sido uma “facilitação” na fuga de Rogério e Deibson, vinculados ao Comando Vermelho, do perímetro da penitenciária. A intenção de fuga dos detentos também não era compartilhada por Lázaro, que tinha como pretensão única se esconder.

— Para mim, está óbvio que houve algum tipo de facilitação. A diferença crucial é que a rede de apoio deles deve ser bem maior que a de Lázaro. Quando entra dinheiro, mais difícil. Os dois são traficantes com uma extensa ficha criminal. Já Lázaro era um psicopata. Os dois de Mossoró estão querendo fugir. Lázaro estava se escondendo. Era um psicopata com total desvalor pela vida, não queria sair dali — explica o ex-secretário.

No período das buscas por Lázaro, 270 policiais o procuravam. Participaram equipes das polícias Civil e Militar de Goiás e do Distrito Federal, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (DF) e do Corpo de Bombeiros Militar (CBMGO). Segundo Rodney, a troca de informações entre as corporações é fundamental. Por isso, para o ex-secretário, há a necessidade de um “comando único”.

— A troca de informações é fundamental. Não dá para uma polícia ter uma informação e não compartilhar com as outras. A cada dia que passa sem solução, o desgaste da equipe é maior. Quando se lida com vida é difícil demais. Nossa grande derrota seria esses caras machucarem um inocente —

Não há, portanto, possibilidade de comparação entre as durações das duas caçadas e o desempenho das forças envolvidas, segundo Miranda. Além das circunstâncias distintas, o ex-secretário aponta que, mesmo com a pressão política e de opinião pública para que haja resolução do caso, são inúmeros os fatores que contribuem ou atrapalham nas buscas.

— Crise tem dia para começar, não tem dia para acabar. O que não pode é relaxar. Pode demorar 30 dias, poderia ter demorado 5 e pode demorar 60. Se não tiver coordenação única, fica mais difícil. Se houver vaidade e competição, a tendência é dificultar mais. A cada dia que passa sem solução, o desgaste da equipe é maior — comenta.

Investigado por mais de 30 crimes, o homem de 32 anos matou a família de quatro pessoas em Ceilândia e acabou morto em um confronto com a polícia, que pôs fim aos dias de pânico na região de Cocalzinho, em Goiás, que fizeram moradores abandonarem suas casas e comerciantes fecharem suas lojas.

A fuga de Lázaro começou em 9 de junho. Nesta data, o criminoso invadiu a chácara de Cláudio Vidal, na região do Incra 9, em Ceilândia (DF). No local, ele matou Cláudio e seus filhos em uma ação que durou cerca de 10 minutos.

No momento da fuga, Lázaro fez Cleonice Marques, de 43 anos, mulher de Cláudio, refém e a sequestrou. Logo após a entrada do bandido na casa, ela teria feito uma ligação para seu irmão pedindo por socorro. Sua família chega momentos depois, mas encontra apenas os corpos de Cláudio e seus filhos. O corpo de Cleonice foi encontrado três dias depois em um córrego próximo ao Sol Nascente, no Distrito Federal.

Ainda em 9 de junho, já em fuga, Lázaro roubou uma chácara em Ceilândia. Ele é apontado como o criminoso que rendeu o caseiro, o dono da propriedade e a filha dele.

Na manhã do dia seguinte, 10 de junho, Lázaro Barbosa invadiu outra residência a apenas três quilômetros de distância da chácara da família de Cláudio e Cleonice. Ele teria mantido a dona da casa, Sílvia Campos, de 40 anos, e o caseiro, Anderson, de 18, sob a mira de sua arma durante três horas e os obrigado a fumar maconha. O fugitivo também teria roubado cerca de R$ 200 e celulares antes de deixar o local.

As buscas se estenderam pelos dias seguintes. Na quarta-feira, 16 de junho, Lázaro foi visto por um morador da região. Na ocasião, Rodney Miranda afirmou que o serial killer estava cansado, com fome e acuado.

No dia 18, a força-tarefa passa a contar com 270 agentes. No dia 19, um morador de Cocalzinho relatou ter encontrado sua residência revirada, o que levantou suspeitas de que Lázaro pudesse ter passado. No dia 21, a Defensoria Pública de Goiás pede a Vara de Execuções Penais que a integridade física de Lázaro Barbosa seja garantida, caso ele seja preso com vida.

No dia 24, um fazendeiro e um caseiro são detidos pela polícia, suspeitos de ajudarem Lázaro Barbosa em sua fuga. Eles teriam fornecido abrigo e comida para o criminoso. Segundo o caseiro Alain Reis de Santana, de 33, seu chefe, Elmi Caetano Evangelista, teria empregado a mãe de Lázaro no passado e já conhecia o homem. Após audiência de custódia, o caseiro foi liberado e o proprietário rural mantido preso até o dia 17 de julho.

As buscas avançam nos dias seguintes, e o cerco se fecha sobre o criminoso, na região do município de Águas Lindas. No dia 28, após ser baleado, ele chegou a ser encaminhado para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos. A troca de tiros foi em Itamaracá, em Águas Lindas de Goiás, região onde o criminoso estava sendo procurado desde a noite de domingo.

Segundo o Ministério Público de Goiás, os inquéritos envolvendo Lázaro Barbosa foram arquivados devido a sua morte. Um último processo, relativo as suspeitas de que um fazendeiro da região teria fornecido ajuda ao criminoso, também foi arquivado, após Elmi Caetano Evangelista, de 74 anos, morrer em março deste ano. Ele sofria de câncer no esôfago e tinha diabetes.

Se há uma expectativa otimista por parte da força-tarefa e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, de que Rogério e Deibson ainda se escondem numa área próxima ao presídio, há também a constatação de que a última vez em que o paradeiro deles foi reportado por testemunhas ocorreu há 12 dias.

Eles foram avistados entre a noite do dia 2 de março e a madrugada do dia 3. Os dois fugitivos invadiram um galpão e agrediram o dono da propriedade que fica em uma comunidade rural de Baraúna (RN), na divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará.

Informados na ocasião sobre o ocorrido, os agentes das forças policiais concentraram as buscas em Baraúna e fizeram um cerco no sítio. Segundo os investigadores, eles renderam o proprietário com uma chave de braço no pescoço e diziam estar atrás de celulares, armas e alimentos. Depois, eles saíram correndo do local.

— Temos indícios fortes da presença dos dois fugitivos na região entre Mossoró e Baraúna. No dia 2 de março foram avistados. Essa visualização foi confirmada pelas forças de segurança e pelos moradores locais. No dia 12 de março (última terça-feira) houve rastreamento positivo, que foi feito a partir da constatação de que cães de determinada casa ficaram bastante agitados — afirmou o ministro, nesta quarta-feira, quando fez um sobrevoo de helicóptero pela área de buscas.

Segundo o ministro, cerca de 500 agentes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e da Força Nacional estão mobilizados nas buscas de forma “intensa”. A preocupação também é com a segurança da população local.

— A estratégia será mantida e ela está sendo aperfeiçoada. A investigação é sofisticada: estamos localizando toda a rede de apoio. O custo da operação é elevado, mas é necessário. Não apenas para a recaptura de dois criminosos perigosos. Mas não podemos deixar a população local desamparada. Enquanto esse risco não se dissipar, manteremos o efetivo — disse o ministro.

Tidos como criminosos de alta periculosidade, os dois foragidos estavam na penitenciária de Mossoró desde setembro de 2023, após transferência por participarem de uma rebelião no presídio Antônio Amaro, no Acre, que resultou na morte de cinco detentos, três deles decapitados.

De acordo com o Lewandowsk, os investigadores têm convicção que os dois fugitivos estão recebendo ajuda externa, com alimentos e também roupas. A apuração apontou ainda que eles se deslocaram de automóvel no perímetro que está sendo vigiado – e não somente a pé.

Apesar de a identificação recente da localização dos criminosos, a dificuldade de capturá-los se mantém. Os dois estão em uma área de mata densa, repleta de grutas e pomares. Ou seja, eles têm acesso a água e alimentos, além de esconderijos.

Fonte: O Globo

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