Caso de espionagem azeda relações Alemanha-China

Telão mostra a cobertura noticiosa do encontro do chanceler alemão Olaf Scholz com o presidente chinês Xi Jinping em Pequim.
Telão mostra a cobertura noticiosa do encontro do chanceler alemão Olaf Scholz com o presidente chinês Xi Jinping em Pequim. — Foto: Pedro PARDO / AFP

Azedou rapidamente o esforço de aproximação com a China lançado pelo chanceler alemão, Olaf Scholz. Uma semana após a visita de Scholz ao país asiático, um novo caso de espionagem envolvendo a China foi revelado pelas autoridades da Alemanha, o que manteve mais uma vez as tentativas de cooperação bilateral ofuscadas pela desconfiança.

Um assessor parlamentar do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) foi preso por suspeita de passar informações sensíveis para a China. Identificado apenas como Jian G., em respeito às normas de privacidade alemãs, o investigado trabalhava desde 2019 com o principal candidato da AfD para o Parlamento Europeu, Maxmilian Krah. Segundo a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, as alegações contra Jian são “extremamente graves”.

Os investigadores acreditam que o suspeito forneceu informações sobre operações parlamentares europeias ao Ministério de Segurança do Estado da China, que coordena ações de inteligência doméstica e externa. Caso confirmadas as suspeitas de espionagem praticadas por Jian, “é um ataque de dentro da democracia europeia”, disse Faeser. Feita uma semana após o chanceler Scholz ser fotografado em Pequim numa caminhada amigável com o presidente chinês, Xi Jinping, é um retrocesso inesperado.

A viagem de Scholz na semana passada foi a primeira à China desde que a Alemanha divulgou sua estratégia para o país asiático em 2023, na qual ele é descrito como “parceiro, competidor e rival sistêmico”. Na visita de três dias, o chanceler alemão buscou um equilíbrio difícil entre os três. Acompanhado de uma comitiva empresarial de pesos-pesados, Scholz buscou preservar os enormes interesses econômicos de seu país na relação com a China, enquanto tentava deter práticas de competição desleal. Ao mesmo tempo, o chanceler fez mais uma investida para convencer Pequim a recuar em seu apoio à Rússia na guerra da Ucrânia, aparentemente sem muito sucesso.

Apesar do esforço de Berlim em diminuir a dependência econômica da China, ela ainda é significativa. No ano passado, os investimentos alemães na China bateram recorde, chegando a quase US$ 13 bilhões.

O governo chinês negou a suspeita de espionagem, afirmando tratar-se de mais uma tentativa de difamar a China e envenenar a relação do país com a Europa, uma acusação geralmente endereçada aos EUA. Wang Wenbin, porta-voz da diplomacia chinesa, disse que os alemães devem “abandonar a mentalidade de Guerra Fria” e sugeriu que se concentrem nos “benefícios mútuos” da relação bilateral. Mas a semana começou dando munição aos alemães que consideram a relação menos de parceria e mais de competição e rivalidade.

Horas antes da prisão de Jian G., três cidadãos alemães haviam sido detidos sob suspeita de envolvimento em espionagem para a China. A investigação indicou que eles transmitiram dados sobre inovações tecnológicas que poderiam ser usadas para fins militares, mais especificamente um laser de alta potência para projetos navais. Para a ministra Nancy Faeser, está claro que a espionagem chinesa representa “um perigo considerável” para os negócios, a indústria e a ciência do país. De acordo com a investigação, um dos detidos servia como “agente” do governo chinês, e teria recrutado os outros dois suspeitos.

Entre os detidos, o que mais chamou a atenção na Alemanha foi o assessor do AfD, já que o partido de extrema direita é conhecido pelas relações amistosas com Pequim. No ano passado, um portal de notícias alemão, “T-online”, publicou reportagem investigativa indicando que a China seria uma das fontes de financiamento de Maxmilian Krah, justamente o político cujo assessor foi preso esta semana sob suspeita de espionagem.

Fonte: O Globo

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