Casal que pescou cofre com mais de R$ 500 mil terá de esperar até nove meses para conseguir receber ‘tesouro’; entenda

Cofre pescado na água no Flushing Meadows Corona Park continha pilhas danificadas de notas de cem dólares, bem como moedas
Cofre pescado na água no Flushing Meadows Corona Park continha pilhas danificadas de notas de cem dólares, bem como moedas — Foto: Alex Kent / New York Times

James Kane estava com os olhos turvos ao subir na parte superior de um ônibus, usando um chapéu de cowboy com adesivos e carregando uma mochila que continha uma pequena fortuna. Ele só havia dormido três horas na noite anterior, já que o dia havia sido uma confusão de entrevistas com agências de notícias, estações de TV e programas de rádio. Ele estava indo para Washington, mais especificamente para uma área obscura do Departamento do Tesouro que lidava com dinheiro danificado.

Tudo começou quando ele içou um cofre em um riacho no Flushing Meadows Corona Park, no Queens. Desde que perdeu o emprego durante a pandemia, Kane tentava se estabelecer como um pescador magnético com um canal no YouTube. Ele tinha os policiais na discagem rápida como alguém que regularmente encontrava discos rígidos de computador, peças de armas e ocasionalmente granadas reais.

Mas um cofre com dinheiro era como o Santo Graal, e os oficiais que responderam disseram: “achado não é roubado”. A notícia se espalhou para os repórteres locais, que queriam um pouco dele e de sua parceira que virou cinegrafista, Barbie Agostini. Mas então a notícia de seu achado começou a atravessar fusos horários. O casal ainda teve a honra de fazer uma pergunta em um game show de celebridades na Austrália: “Olá, somos James e Barbie do Queens, NY, e o que encontramos na água na semana passada?”.

A resposta, conforme relatado pelo The Guardian, pela BBC e pelo The New York Post — e verificada apenas pelo próprio Kane — era um cofre contendo talvez US$ 100 mil (em torno de R$ 532 mil). Tecnicamente, isso é tudo o que ele sempre esperou, embora ele realmente não tivesse planejado o que aconteceria caso tivesse tal sorte.

Agora, conhecidos estavam surgindo do nada e estranhos bombardeavam a família com histórias tristes nas redes sociais. Em pânico, Kane enviou um e-mail ao governo.

“Toda a atenção imediata que recebemos deste dinheiro está nos deixando um pouco loucos e com um pouco de medo”, escreveu ele. “Não temos muito dinheiro, então vamos usar tudo o que temos para comprar um ônibus para chegar até lá”. Ele também mencionou o fato de que sua situação era urgente. O papel-moeda, que antes havia sido preservado na lama, estava se tornando quebradiço e começando a se desintegrar.

Kane achava que poderiam sobrar US$ 40 mil (R$ 214 mil), no máximo, e que a quantia parecia estar diminuindo a cada dia que passava.

A resposta pareceu ser automática, embora com um endereço físico do Escritório de Gravura e Impressão. Tendo pouco mais para fazer e a sensação de que seu futuro estava se esvaindo, Kane e Agostini juntaram a passagem de ônibus de ida e volta de US$ 140. E às 6h45 da última sexta-feira embarcaram no ônibus para a capital. Eles imaginaram que tudo daria certo se chegassem à agência, que lida com dinheiro danificado, antes de fechar no fim de semana. Eles não tinham compromisso, mas esperavam o melhor.

— Esta é a descoberta mais significativa na história da caça ao tesouro entre as pessoas pobres — disse Kane. — Sei que é o governo federal, mas esperava um pouco de humanidade. Dê-nos o tapete vermelho!

Embora o tempo estivesse passando, o casal nunca tinha saído de Nova York e queria aproveitar o que chamavam de “férias diurnas” na capital do país. Kane ficou maravilhado com o Museu de História Natural, que se parecia muito com o de Manhattan. Ele também tinha certeza de que todos os canais de Washington deviam estar obstruídos com eles e lamentou não ter trazido seu ímã.

Mas a maior diferença foi que, lá, ele se sentiu anônimo novamente.

— No Queens, não podemos andar três quarteirões sem que o carteiro, o entregador da pizza e algumas crianças na rua digam “você é aquele cara!” — Kane disse enquanto se dirigia à sede do Tesouro. — Eles acham que temos dinheiro no bolso. Mas ninguém nos conhece aqui, o que é muito estranho.

Kane entrou no Escritório de Gravura e passou uma faca de cinco centímetros e meio, uma lata de spray de pimenta e a mochila com seu dinheiro encharcado no detector de metais. Na verdade, ele não havia ensaiado o que diria ao segurança do outro lado.

— Somos caçadores de tesouros e encontramos um cofre cheio de dinheiro que foi roubado — foi o que ele disse. — Está esmagado e esteve em um lago por cerca de 10 anos. Também tem um cheiro horrível.

Sem perder o ritmo, o guarda disse algo em seu rádio, e dois funcionários do Tesouro vestidos profissionalmente, um homem e uma mulher, desceram prontamente. Ambos pareciam imperturbáveis ​​enquanto Kane repetia seu discurso de caçador de tesouros. Eles vasculharam sua mochila e retiraram um saco plástico contendo uma pilha de dinheiro que parecia ser um amontoado sólido com cerca de dez centímetros de espessura.

— Sim, tudo isso é moeda — disse a mulher.

Bem ali no saguão, eles estimaram que Kane estava segurando algo em torno de US$ 50 mil a US$ 70 mil (até R$ 375 mil). Eles e o restante de sua equipe de 11 pessoas precisariam de cerca de nove meses para contá-lo oficialmente e substituí-lo por moeda nova. Mas quando terminassem, o dinheiro seria dele, livre de impostos.

A agência já havia lidado com casos muito piores antes, disse a mulher — pessoas que enviavam pelo correio os restos de dinheiro que seus avós enterraram no quintal, literalmente poeira em alguns casos.

Depois de receber o número do processo, ele e Agostini saíram do prédio e se abraçaram. Eles queriam comemorar, mas ainda não eram ricos. Então eles procuraram um segurança para saber como chegar a uma lanchonete mais próxima.

Fonte: O Globo

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