Câncer de pele não melanoma vai responder por 31,3% dos tumores malignos entre 2023 e 2025, aponta Inca

16/12/2022 - FAMÍLIA - CÂNCER DE PELE, ENTREVISTA COM A DERMATOLOGISTA YARA KELE RODRIGUES - FOTO: ALEX RÉGIS

No país onde o sol brilha o ano todo, proteger a pele do câncer é uma questão de saúde pública. Mas muita gente ainda negligencia esse fato. Por isso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) promove desde 2014 a campanha Dezembro Laranja, um lembrete repetido de como a doença afeta o cotidiano brasileiro, apesar de ser facilmente evitável. Segundo previsões do Inca (Instituto Nacional de Câncer), entre 2023 e 2025, o câncer de pele não melanoma (o mais comum) vai responder por 31,3% dos tumores malignos que afetarão a população brasileira. Prevenção é a palavra chave.

O lema do Dezembro Laranja para 2022 é “Não espere até sentir na pele”. A frase alerta sobre o fato de que muita gente ainda é displicente em relação aos cuidados preventivos. “Muitas pessoas acham que só precisam usar o protetor solar quando vão se expor na praia ou na piscina, mas esquecem que a gente mora num local onde há sempre uma alta incidência de radiação ultravioleta, e que devemos usar o protetor solar diariamente”, afirma a dermatologista Yara Kelly Rodrigues.

O uso do protetor não deve ser apenas no rosto, mas também nas áreas do corpo em que as roupas não cobrem, lembrando também do pescoço e das orelhas, áreas bastante esquecidas na aplicação. “É um erro comum achar que não precisa de protetor solar no dia-a-dia. Aqueles momentos de sol que a gente leva atravessando a rua ou indo de casa até o carro ou ônibus podem, com o passar do tempo, causar uma lesão”, diz ela.

A dermatologista explica que, por menor que seja a quantidade recebida, a radiação tem efeito cumulativo na pele. “Com o passar dos anos, isso pode levar ao aparecimento de manchas, ao envelhecimento precoce do tecido, e também ao câncer de pele, nos piores casos”, completa. Ela ressalta que, além de passar o protetor solar, deve-se lembrar também de reaplicá-lo, porque muitas vezes vai sair com suor,  com o banho da piscina, o banho de praia, então é importante que  seja reaplicado.

De sol a sol 

O Dezembro Laranja deste ano também dirige uma atenção especial às pessoas que estão mais expostas ao sol não só por lazer, mas também por obrigação. Estão no centro dos debates os trabalhadores urbanos e rurais que  são diariamente expostos diariamente aos raios solares em virtude de sua profissão ao ar livre.

A dermatologista ressalta que os trabalhadores da cidade ou do campo que ficam, literalmente, de “sol a sol” precisam se proteger com roupas adequadas à exposição solar – de preferência que tenham proteção contra a radiação ultravioleta. Isso inclui camisas de manga comprida, chapéus, bonés e demais proteções para o couro cabeludo, e para a face.

O protetor solar também deve ser o mais adequado, com fatores de proteção mais altos que a média. “O trabalhador também deve ser orientado sobre o fato de que esses protetores devem ser reaplicados ao longo do dia. Acredito que o trabalhador possa e deva exigir da empresa o fornecimento desses itens básicos, porque no final das contas também são material de proteção para eles”, diz.

Outro fato que deixa muita gente “despreocupada” em relação ao câncer de pele, é o baixo índice de óbitos. Pouco se morre de câncer de pele, o que não justifica o descuido. O câncer não melanoma possui altos percentuais de cura se for detectado e tratado precocemente. Entre os tumores de pele, é o mais frequente e de menor mortalidade, porém, se não tratado adequadamente pode deixar mutilações bastante expressivas. Mesmo com baixo índice de óbitos, o câncer de pele pode causar deformações no corpo para o resto da vida.

O câncer de pele mais agressivo é o melanoma, que pode levar ao óbito, apesar de não ser tão comum no Brasil –  e os níveis estarem aumentando gradualmente ao longo dos anos. Segundo Yara Kelly, no câncer melanoma se faz o procedimento cirúrgico para retirada local da lesão, e se tiver metástase (a lesão se espalha para outros órgãos), precisa ser submetido à quimioterapia/ imunoterapia, ou aos tratamentos sistêmicos.

Segundo estimativas do Inca, no triênio 2023-2025, serão registrados, por ano, nove mil novos casos de câncer de pele melanoma, e mais de 220 mil casos de câncer não melanoma. Do primeiro tipo, estima-se que 4.640 serão em homens e 4.340 em mulheres. Já do segundo, 101.920 registros ocorrerão em homens e 118.570 em mulheres.

Prevenções

A prevenção contra o câncer de pele pode ser feita diariamente e de forma simples. Entre as medidas indicadas estão o uso de chapéus, camisetas, óculos escuros e protetores solares; evitar a exposição solar e permanecer na sombra entre às 10 e 15 horas; usar filtro solares com FPS 30 ou mais diariamente, e não somente em horários de lazer; consultar um médico dermatologista ao menos uma vez ano para um exame completo. O objetivo é evitar a exposição solar excessiva e proteger a pele dos efeitos da radiação UV.

A auto-observação é fundamental para identificar possíveis marcas que exigem a avaliação médica. Normalmente, a regra para sinais pigmentados é verificar se houve alterações em assimetria, bordas irregulares, coloração heterogênea, diâmetro maior que 6 mm, e evolução. É importante observar sinais como: lesão na pele que não cicatriza em quatro semanas; alterações de cor, tamanho ou textura em sinais já existentes; sangramento ou prurido constante em um ponto na pele; elevação, brilho ou presença de pequenos vasos em lesão.

Quanto mais clara a pele, maior probabilidade de desenvolver o câncer. Pele que raramente bronzeia e sempre queima é mais suscetível aos danos causados ao DNA das células da pele, devido à exposição solar. O que não significa que peles pardas e negras estejam totalmente isentes de desenvolver a doença, ressalta Yara Kelly. “É um pouco mais raro, mas não é tão incomum  no nosso país, até porque na maioria das vezes mesmo quem tem pele parda às vezes tem parentes de pele mais clara. Nós somos misturados, então muitos têm heranças na família, predisposição genética de outros tipos de pele, que podem deixar  mais vulnerável a ter um câncer de pele”, explica.

Portanto, pessoas negras também desenvolvem câncer de pele, mesmo tendo maior proteção natural ao dano solar. Habitualmente, têm maior predisposição de desenvolvimento de melanoma nas plantas dos pés e nas regiões ungueais – áreas de encontro da pele com a unha. Mas independente da cor da pele, o princípio é o mesmo: quem gosta de se expor ao sol tem mais chance de desenvolver a doença. Os raios ultravioletas causam danos cumulativos ao DNA celular. Quanto mais danos, maior a chance de ocorrer mutações nas células com consequente cancerização.

Tribuna do Norte

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