Brasileiro acusado de matar a mulher na Irlanda teve surto ‘psicótico’, alegam psiquiatras durante julgamento

Brasileiro acusado de matar a própria mulher na Irlanda é julgado em tribunal de Dublin
Brasileiro acusado de matar a própria mulher na Irlanda é julgado em tribunal de Dublin — Foto: Reprodução

Acusado de matar a própria mulher em Dublin, na Irlanda, o brasileiro Diego Costa Silva, de 35 anos, sofria de um quadro de “psicose induzida por canábis” no momento do crime, apontam psiquiatras. Em depoimento no quarto dia do julgamento de Diego, os profissionais afirmaram que um surto levou o brasileiro a acreditar que a vítima, Fabiole Câmara, “estava possuída por uma serpente e iria matá-lo”. O crime aconteceu em novembro de 2021.

Segundo o jornal irlandês Irish Times, os psiquiatras Brenda Wright e Mark Joynt afirmaram que a crise psiquiátrica de Diego não foi causada por intoxicação decorrente do uso de maconha, mas foi induzida pelos efeitos da droga, combinados a um quadro de psicose já existente no brasileiro. Os profissionais afirmaram, ainda, em depoimento no tribunal, que Diego permaneceu em surto por cerca de 11 dias após o crime.

O autor do assassinato chegou a ser internado em um hospital de Dublin horas antes de matar a mulher. Em depoimento ao júri que decidirá o futuro de Diego, um dos policiais que o interrogou na época do crime disse, nesta quarta-feira, que ele foi detido após correr pelas ruas descalço e vestindo apenas shorts, mas foi liberado da unidade de saúde pouco depois.

Ainda segundo o depoimento do policial Carl Smith, divulgado pelo jornal irlandês Irish Times, o brasileiro afirmou, na época, que a própria mulher o buscou no hospital Mater após sua liberação, entre 18h e 20h do dia 3 de novembro de 2021, véspera do crime. Diego relata ter brigado com Fabíole por volta das 6h do dia 4 de novembro. Ao ser interrogado, falou que “não se sentia seguro”, e contou que teria escutado vozes e “algo eletrônico no ouvido”.

Diego teria contado, ainda, que não houve discussão, e disse ter sentido “que se não fizesse aquilo, ela faria”. Segundo a imprensa irlandesa, o brasileiro já foi preso com recomendação de tratamento psiquiátrico. Ainda de acordo com o policial que o interrogou, ao ser questionado sobre a motivação do crime, o acusado teria respondido: “Como posso explicar? Às vezes você tem que decapitar alguém porque essa pessoa está possuída”.

Segundo o jornal Irish Times, uma análise de urina feita após a prisão de Diego, no dia do crime, teve resultado positivo para maconha, mas não para álcool ou outras drogas. Ele também teria dito aos policiais que traiu a mulher e contou a ela sobre isso. Segundo Diego, ela teria ficado com raiva e o relacionamento ficou “tenso”, mas continuaram juntos.

O brasileiro também teria dito aos policiais que não contou à mulher sobre as “vozes” que costumava ouvir, e que suspeitava que ela poderia “estar tendo casos” como vingança pelo que ele havia confessado.

Em depoimento, um dos psiquiatras que se apresentaram ao júri nesta quinta-feira, convidado pela defesa, afirmou que uma das irmãs de Diego diz que outros membros da família do brasileiro já foram diagnosticados com transtorno bipolar. Segundo o médico, o histórico familiar poderia colocar Diego em maior risco de desenvolver um transtorno mental grave.

Detalhes divulgados por testemunhas no julgamento apontam que foi o próprio marido quem acionou a emergência, após o crime, em novembro de 2021. Segundo o policial que atendeu à ocorrência, Diego usava bermuda e chinelos quando foi encontrado com o corpo sujo de sangue, no apartamento onde vivia com a vítima.

“Eu acho que matei minha mulher”, teria dito ele ao agente, que prestou depoimento nesta terça-feira. Além disso, também descreveu à polícia como eram as quatro facas usadas no crime, e disse ter acionado a emergência de 10 a 15 minutos após cometer o crime.

O julgamento de Diego começou na segunda-feira e pode durar mais três dias. A também brasileira Fabíole Câmara de Campos era casada com ele desde 2016, ano em que também decidiram viver no país europeu. Segundo a imprensa irlandesa, o júri seria “convidado a considerar” um atestado de insanidade no julgamento.

O corpo de Fabíole foi encontrado caído entre a porta de um quarto e o corredor. Além de ter sido degolada, de acordo com a polícia, havia ferimentos de faca em um dos punhos e no seio esquerdo. Diego teria alegado que a mulher “tentou matá-lo”. Depois, disse que ela tirou “seu coração e sua cabeça”.

Antes do crime, o brasileiro trabalhou no pub Coach House, em Blanchardstown. Segundo o juiz Paul McDermott, Diego é considerado culpado pela morte da mulher, mas o “veredito especial em relação à insanidade” preocupa.

No julgamento, serão ouvidos policiais, um membro dos serviços de emergência e dois psiquiatras forenses. O júri, composto por sete homens e cinco mulheres, é presidido pelo juiz Michael MacGrath, e foi marcado para a tarde desta segunda-feira. A previsão é tenha até cinco dias de duração.

Natural de São Paulo, Fabíole Câmara tinha 33 anos. Após o assassinato, amigos e familiares chegaram a iniciar uma campanha de arrecadação virtual para custear o translado do corpo ao Brasil. Na época, o caso repercutiu em páginas e grupos de brasileiros que vivem na Irlanda. Procurada pelo GLOBO, a família da vítima disse acompanhar o julgamento de Diego, mas preferiu não falar sobre o crime.

Fonte: O Globo

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