A sessão da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) foi palco, nesta quarta-feira, de um embate racial entre a esquerda e a direita. Em determinado momento, após o deputado Guto Zacarias (União) ter provocado a oposição ao sugerir que ela não teria força para aprovar projetos, o colega Carlos Giannazi (PSOL) rebateu o comentário e aproveitou para devolver o deboche.
Giannazi, um homem branco, questionou a razão de Zacarias, negro, ter votado contra a homenagem a Nelson Mandela, líder da batalha contra o apartheid na África do Sul:
— Eu achei estranho. Vossa Excelência é uma pessoa afrodescendente e votou contra a homenagem ao Mandela, que é um líder africano reconhecido no mundo. Eu entendo o voto do Lucas Bove, porque ele é branco como eu. Mas não entendi esse voto de Vossa Excelência — disse Giannazi.
Vice-líder do governo Tarcísio na Alesp, Zacarias então respondeu:
— Eu gostaria de saber com o que o senhor ficou espantado. Então quer dizer que, a depender da cor da minha pele, eu tenho que votar a favor ou contra o Nelson Mandela? Tenho que fazer A ou B? Tenho que sentar em algum lugar determinado do ônibus? Que eu posso ou não tomar água? — disse, referindo-se a casos da segregação racial nos Estados Unidos, quando negros eram discriminados em locais públicos.
E prosseguiu:
— As pessoas negras, Carlos Giannazi, que me parece ser um deputado branco que está tentando ensinar como um deputado negro tem que votar em pautas raciais, o que eu acho muito esquisito, as pessoas negras, eu julgo que elas são iguais a pessoas brancas e podem dar o voto a depender da pauta e da ideologia dessas pessoas — declarou.
Ao fim, Zacarias sugeriu que o pensamento de Giannazi poderia ser enquadrado como racismo. Como nenhum dos colegas prosseguiu com a discussão, o debate se encerrou ali, e a sessão continuou.
Membro do grupo de direita Movimento Brasil Livre (MBL), Zacarias é sucessor do deputado cassado Arthur do Val, o Mamãe Falei. Apesar de negro, ele não costuma ter o mesmo posicionamento de setores progressistas com temas raciais.
Fonte: O Globo