Bolsonaro deve filiar secretária de Tarcísio ao PL, e Republicanos pode perder espaço no governo de São Paulo

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a secretária de Políticas para as Mulheres, Sonaira Fernandes (Republicanos), durante inauguração do Novo Hospital da Mulher em São Bernardo do Campo
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a secretária de Políticas para as Mulheres, Sonaira Fernandes (Republicanos), durante inauguração do Novo Hospital da Mulher em São Bernardo do Campo — Foto: Elaine Alves / Governo do Estado de SP

A pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Sonaira Fernandes, atual secretária de Políticas para a Mulher do governo de São Paulo, está prestes a deixar o Republicanos para se filiar ao PL.

Sonaira planeja sair da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) na semana que vem para disputar a reeleição na Câmara Municipal de São Paulo, de onde se licenciou no ano passado.

Essa mudança de partido é interpretada por aliados de Bolsonaro como um sinal de que o ex-presidente ainda a considera uma opção para vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A preferência de Bolsonaro é pelo coronel Mello Araújo, mas o nome do ex-policial militar sofre resistência dentro do MDB e do diretório municipal do PL, e Nunes já avalia indicá-lo para a secretaria municipal de Segurança Urbana.

Caso as alternativas bolsonaristas para a vice de Nunes não vinguem até as vésperas da convenção partidária, no meio do ano, Sonaira surgiria como um plano B da confiança do ex-presidente.

Ela começou a se aproximar da família Bolsonaro quando foi estagiária de Eduardo Bolsonaro (PL) na época em que ele trabalhou como escrivão da Polícia Federal. Os dois viraram amigos e, em 2014, ela foi convidada a participar do comitê de campanha do filho do ex-presidente, que estava se candidatando a deputado federal pela primeira vez.

Depois, Sonaira virou assessora de Eduardo na Câmara dos Deputados, entre 2015 e 2019, ano em que voltou para São Paulo para assumir a chefia de gabinete do deputado estadual Gil Diniz (PL). Em 2020, a pedido de Eduardo, ela disputou uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo e foi eleita.

Para aliados de Nunes, Sonaira tem potencial de agregar votos ao emedebista. Além de mulher, ela é negra, evangélica e tem uma trajetória de ascensão social: nasceu em Riachão do Jacuípe (BA) e se mudou para São Paulo (SP) em 2012, tendo trabalhado como recepcionista e vendedora de lanches para conseguir pagar a faculdade de Direito.

O perfil, na avaliação de pessoas próximas a Nunes, seria uma espécie de “escudo antiesquerda”, por reunir características de grupos tradicionalmente defendidos por partidos como PSOL e PT.

Parlamentares da bancada bolsonarista da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) trabalham para emplacar a deputada estadual Valeria Bolsonaro (PL) na secretaria de Políticas para a Mulher. O nome da parlamentar agrada também pessoas do alto escalão do governo, a primeira-dama do estado, Cristiane Freitas, e a própria Sonaira, de quem Valéria é próxima e tem acompanhado em agendas.

Casada com um primo de segundo grau do ex-presidente Jair Bolsonaro, Valéria tem alta identificação com as pautas do parente e boa relação com a bancada. Em seu perfil no Instagram, ela usa o lema clássico dos bolsonaristas — “Deus, Pátria, Família e Liberdade” — e menciona a nomenclatura exata da pasta de Sonaira entre os assuntos que lhe interessam enquanto deputada: “Políticas para as Mulheres”.

Dentro do Republicanos, não há esperança de que Tarcísio equalize o espaço que deve ser perdido pelo partido. Uma opção para manter as três pastas atuais seria indicar algum quadro para o lugar de Sonaira, como a deputada federal Maria Rosas — nome que sempre volta a circular nas articulações da legenda. Mas o cenário é considerado improvável.

O avanço do PL sobre o Republicanos vem provocando irritação dentro do partido comandado por Marcos Pereira. Além de Sonaira, Bolsonaro quer filiar Tarcísio ao seu partido, tirando do Republicanos sua maior fortaleza — o segundo maior PIB do país, atrás apenas da União. Nos bastidores, dirigentes republicanos chamam a atitude de “mais uma bolsonarice”, referindo-se à atitude tomada de impulso, sem ter feito antes uma articulação.

Aliados de Tarcísio tratam como bastante provável a filiação do governador ao PL, mas a troca não deve ocorrer antes das eleições municipais. Desde o início do mandato, o chefe do Palácio dos Bandeirantes manteve uma relação conturbada com o presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira. O dirigente nunca esteve satisfeito com o espaço dado ao partido na gestão.

Hoje, a legenda controla três secretarias de orçamentos pouco expressivos: Turismo (Roberto de Lucena), Esportes (Helena Reis) e Políticas para a Mulher (Sonaira Fernandes).

Há uma discrepância quando se compara ao PSD, partido de Gilberto Kassab, que tem a vice e três secretarias de grande peso na gestão : Governo (Kassab), Saúde (Eleuses Paiva) e Projetos Estratégicos (Guilherme Afif Domingos).

Procurado, o diretório municipal do Republicanos, comandado pelo vereador André Santos, diz ter se reunido com Sonaira nesta quarta-feira e que sua saída “não passa de especulações”.

Fonte: O Globo

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