Bloqueio da passagem de Rafah por Israel deixa pacientes doentes de Gaza sem acesso a tratamento hospitalar no Egito

Um menino palestino ferido espera atendimento no hospital de Kuwaiti, no sul de Gaza, após bombardeio em Rafah
Um menino palestino ferido espera atendimento no hospital de Kuwaiti, no sul de Gaza, após bombardeio em Rafah — Foto: AFP

O fechamento da passagem de fronteira de Rafah pelas Forças Armadas israelenses nesta terça-feira deixou presos, no sul de Gaza, 46 doentes e feridos que deveriam receber tratamento médico no Egito, enquanto os combates aconteciam nas proximidades, disseram as autoridades de saúde do enclave, controlado pelo grupo terrorista Hamas.

Os pacientes sofrem de uma série de doenças graves, incluindo diversas formas de câncer, disse o Ministério da Saúde de Gaza. Entre eles está Aseel Warsh-Agha, 16 anos, que deveria viajar ao Egito para uma cirurgia para tratar queimaduras de terceiro grau que deixaram grande parte de sua pele com grandes cicatrizes, disse seu tio em uma entrevista.

A família dela comemorou na noite de segunda-feira após o anúncio do Hamas de que havia aceitado os termos de uma proposta de cessar-fogo, disse o tio, Ahmed Warsh-Agha. Israel disse que não aceitaria esses termos e, na manhã desta terça, a família acordou com a notícia de que o Exército israelense tinha iniciado uma incursão no sul de Gaza e tomado a passagem de Rafah.

— Ficamos acordados até tarde comemorando e conversando sobre o futuro após o fim desta guerra — disse Warsh-Agha. — Tínhamos tudo pronto para ela atravessar.

Aseel foi queimada por gordura de cozinha há três anos e viajou duas vezes ao Egito para uma cirurgia, disse seu tio. Outra operação estava marcada para o outono passado (Hemisfério Norte) e a família esperava que fosse a última, mas foi adiada por causa da guerra. Sua família esperava que ela cruzasse para o Egito nesta terça-feira para o procedimento.

Durante a primeira semana da guerra, em outubro passado, ataques aéreos israelenses destruíram a casa de Aseel em Beit Lahia, no norte de Gaza, e mataram mais de 30 dos seus familiares, disse o tio. Desde então, a família vive numa tenda em al-Mawasi, no sul de Gaza.

Aseel recebeu a notícia do fechamento da fronteira na terça-feira com resignação, disse Warsh-Agha.

— Ela já perdeu muitos familiares e amigos, a casa da família e a escola — disse ele.

Esta é a primeira vez que o Exército de Israel entrou nessa parte de Gaza desde o início da guerra com o Hamas, iniciada em 7 de outubro. Funcionários palestinos disseram que todo o fluxo de ajuda do Egito para Gaza parou depois da tomada de controle da passagem de Rafah, com a ONU alertando que a crise humanitária no território pode piorar, já que Israel já havia fechado a passagem de Kerem Shalom após a morte de quatro soldados em um ataque no domingo — as duas são as principais rotas para entrada de suprimentos no em Gaza.

A ofensiva israelense foi lançada contra Rafah um dia após o Exército do país emitir alertas para que a população civil deixasse setores da cidade, antecipando que uma invasão terrestre estava em preparação. Os militares estimaram que cerca de 100 mil pessoas seriam afetadas pelo aviso do que chamaram de “deslocamento temporário”, mas fontes palestinas falam em um número superior a 200 mil pessoas.

Para a comunidade internacional, a operação militar contra Rafah é considerada preocupante pela grande quantidade de civis. Antes da guerra Israel x Hamas, Rafah abrigava 250 mil pessoas em seus 65 km², população que aumentou para quase 1,5 milhão — mais da metade dos 2,3 milhões habitantes do enclave — com o deslocamento forçado pelo conflito.

O comando militar israelense garante que os últimos batalhões operacionais do Hamas estão escondidos na região, enquanto líderes estrangeiros, incluindo aliados como o presidente americano, Joe Biden, criticaram a medida apontando o risco de a ação se converter em uma catástrofe humanitária. (Com AFP.)

Fonte: O Globo

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