Biografia de Geraldo Vandré desfaz mito do artista torturado

Na música brasileira, os destinos às vezes se cruzam das formas mais impressionantes. Um exemplo: no ano de 2000, no hospital, uma das últimas visitas que Wilson Simonal recebeu pouco antes de morrer foi do seu oposto ideológico: Geraldo Vandré. Em comum, estava o fato de que, naquela época, tanto o cantor “alienado”, que lutava para se livrar da acusação de ser dedo-duro a serviço dos militares, quanto o artista que foi perseguido pela ditadura por causa da canção “Pra não dizer que não falei das flores” (também conhecida como “Caminhando”), eram cartas fora do baralho, figuras fantasmagóricas da MPB, apesar de enorme popularidade que tiveram até o começo dos anos 1970.

“A diferença é que, enquanto Simonal não teve opção, Vandré escolheu se retirar”, explica o jornalista mineiro Jorge Fernando dos Santos, que lança amanhã no Rio (na loja Bossa Nova & Companhia, em Copacabana) “Vandré: o homem que disse não” (Geração Editorial), biografia não autorizada do cantor e compositor que completou 80 anos em 12 de setembro como um dos personagens mais misteriosos da cultura nacional do último século.

Surgido para o grande público em 1966, quando sua “Disparada”, interpretada por Jair Rodrigues, empatou em primeiro lugar com “A banda”, de Chico Buarque, no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, o paraibano Geraldo Vandré voltaria à carga dois anos depois com “Caminhando”, canção abraçada pela juventude universitária de esquerda, que, indignada com o segundo lugar obtido no II FIC, vaiou a canção vencedora daquele edição, “Sabiá”, de Chico e Tom Jobim.

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