O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden fez um discurso duro nesta terça-feira durante a cerimônia anual do Dia da Lembrança para os sobreviventes do Holocausto, no Capitólio, em Washington, e condenou a retórica de ódio nos campi universitários do país, que há várias semanas foram tomados por protestos e ocupações pró-Palestina, com milhares de manifestantes detidos.
— Nos EUA, nós respeitamos e protegemos o direito fundamental à liberdade de expressão para protestar pacificamente e fazer as nossas vozes serem ouvidas, mas não há lugar para o antissemitismo ou para atos de violência de qualquer tipo — enfatizou, referindo-se aos protestos universitários que se espalharam pelo país. — Violência e destruição não são protestos pacíficos, são contra a lei. E nós não somos um país sem lei. Nós somos uma sociedade civilizada.
Biden também advertiu que o país e o mundo correm o risco de esquecer as lições do Holocausto e fez um breve histórico de como os nazistas se moveram em direção ao massacre de judeus em campos de concentração. Segundo ele, o ódio contra judeus “continua a habitar profundamente os corações de muitas pessoas no mundo”, citando os assassinatos de 7 de outubro como um exemplo primordial desse antissemitismo contínuo.
— Muitas pessoas negam, minimizam e racionalizam os horrores do Holocausto. Para mim, nunca mais é não esquecer — enfatizou. — Aqui estamos nós, apenas sete meses depois, e as pessoas já estão se esquecendo que o Hamas fez e continua fazendo reféns. Isso é absolutamente desprezível e precisa acabar.
Desde o mês passado, dezenas de campi nos EUA viram os protestos contra a guerra em Gaza ganharem força, a começar pela Universidade Columbia, em Nova York, onde um acampamento foi desmantelado pela polícia e mais de 100 pessoas foram presas. No Texas, a Guarda Nacional do estado foi acionada e, além das prisões, houve agressões contra estudantes e professores, algumas delas gravadas e divulgadas em redes sociais.
Os estudantes exigem que o governo americano pare de enviar armas para Israel. Em alguns casos, as manifestações incluíram retórica antissemita e assédio contra estudantes judeus, segundo a imprensa americana. Mais de 2 mil pessoas foram presas, de acordo com um levantamento.
As falas do presidente americano também chegam em um momento crítico para Biden. Em meio a uma acirrada campanha eleitoral, ele tem tentado se equilibrar entre o seu apoio à guerra de Israel contra o Hamas e a indignação popular sobre o preço cobrado dos civis em Gaza, enquanto grupos judaicos pressionam o governo a tomar medidas mais firmes para combater o antissemitismo.
Nos campi, o nome de Biden não é mencionado de forma positiva por seu apoio quase irrestrito a Israel, que incluiu a aprovação recente de um pacote de ajuda de US$ 14 bilhões (R$ 71,59 bilhões), além de mais de 100 vendas de armas, incluindo equipamentos e bombas usados em Gaza. Ao ser questionado, na semana passada, se os protestos mudaram sua posição sobre o conflito que deixou mais de 34,5 mil mortos no enclave palestino, respondeu que não.
Durante meses, o democrata enfrentou críticas ferozes sobre seu apoio a Israel, mesmo dentro de seu próprio partido. Ele se manteve na corda bamba ao responder aos protestos nos campi, denunciando a violência e o comportamento de assédio e, ao mesmo tempo, tentando reconhecer a raiva pelas condições em Gaza. As autoridades de Saúde do enclave governado pelo grupo terrorista Hamas dizem que o número de mortos ultrapassou 34 mil palestinos, e as agências humanitárias alertam que os residentes estão à beira da fome. (Com The New York Times)
Fonte: O Globo