Banco Central diz que acompanha impactos econômicos de tragédia no RS

Sede do Banco Central brasileiros em Brasília
Sede do Banco Central brasileiros em Brasília — Foto: Bloomberg

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou que a tragédia no Rio Grande do Sul terá impactos econômicos e que seguirá acompanhando os desdobramentos. Mais de 140 pessoas já morreram em decorrência das chuvas no estado e a maior parte do território gaúcho é afetado pelas enchentes.

“A tragédia no Rio Grande do Sul, além dos seus impactos humanitários, também terá desdobramentos econômicos e o Comitê seguirá acompanhando”, disse o BC na ata.

Na semana passada, o Copom reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, de 10,75% para 10,50% ao ano, em uma decisão apertada, de 5 votos a 4. No documento divulgado nesta terça-feira, o colegiado também avaliou que os dados mais recentes de inflação se mostraram mais favoráveis, tanto na inflação cheia quanto nos indicadores de tendência para frente. “Após uma sequência de surpresas altistas, notou-se arrefecimento dos núcleos de inflação, embora em níveis acima da meta.”

Parte do colegiado, contudo, mostrou preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, algo que pode ter influência da tragédia no Rio Grande do Sul. Outros diretores seguiram enfatizando o papel da inflação de serviços.

O Copom vem manifestando preocupação com a inflação de serviços em função do mercado de trabalho aquecido no Brasil. Na ata, o colegiado reforçou que há surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho. “A geração de empregos formais se mantém em níveis fortes e permanece uma proporção alta de desligamentos voluntários.”

Nesse sentido, os diretores do BC mencionaram, como evidência preliminar, que os serviços intensivos em trabalho, como manicure, cabelereiro, médico e dentista, tem mostrado aumento de preços “persistentemente acima do nível compatível com o cumprimento da meta”. “Por outro lado, mencionou-se que ainda não há evidências conclusivas de impacto do mercado de trabalho sobre a inflação.”

O Copom analisou ainda que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada. “Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”, disse o BC na ata.

No documento, o Copom ainda deu mais detalhes sobre o alerta feito em relação à política fiscal no comunicado. Em meados de abril, o governo alterou as metas fiscais de 2025 em diante. Para o ano que vem, o alvo saiu de superávit de 0,50% do Produto Interno Bruto (PIB) para zero.

“Ainda que as projeções de resultado primário e de trajetória da dívida não tenham se alterado significativamente, observou-se, no período, um aumento do prêmio de risco e uma percepção de piora da situação fiscal, de acordo com os agentes que respondem o Questionário Pré-Copom”, disse, citando a pesquisa que o Copom faz com o mercado antes das reuniões.

Segundo o colegiado, essa mudança pode ser uma das razões para o aumento das expectativas de inflação entre as reuniões de março e maio. Para 2025, a mediana para o IPCA – índice oficial de inflação – saiu de 3,52% para 3,64%, contra a meta de 3,0%. Outros motivos citados pelo Copom são a piora no cenário externo e a percepção de agentes econômicos sobre o compromisso do BC com o atingimento da meta nos próximos anos.

“O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira. O Comitê não se furtará de seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação”.

Fonte: O Globo

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