B20: Transformação digital pode reduzir desigualdades e impulsionar negócios, dizem especialistas

G20 no Brasil: ‘Live’ debate hoje como a transformação digital impulsiona os negócios
G20 no Brasil: ‘Live’ debate hoje como a transformação digital impulsiona os negócios — Foto: Reprodução

Investir em conectividade pode reduzir desigualdades sociais. Para isso, é necessário aumentar a cobertura das redes, diminuir o custo das tecnologias – de modo que pessoas e empresas possam pagar por elas – e ampliar os conhecimentos acerca do tema.

Essa é a receita que está em discussão pela força tarefa de Transformação Digital do B20, grupo de trabalho formado por companhias de diversos setores que debate recomendações de melhorias para o ambiente de negócios e que, posteriormente, serão enviadas ao G20.

— O que está nas nossas mãos é desenhar a transformação digital que pode trazer benefícios reais para todos — afirma Daniel Moraes, diretor de Inovação e Tecnologia da Tupy e Deputy Chair do grupo de trabalho do B20, durante live mediada por João Rosa, repórter especial do Valor Econômico, nesta quarta-feira.

O projeto G20 no Brasil tem o Governo do Estado do Rio de Janeiro como estado anfitrião, Rio capital do G20 como cidade anfitriã, patrocínio de JBS e realização dos jornais O GLOBO e Valor Econômico e da rádio CBN.

O debate é importante, pois há muita discrepância entre regiões. Por mais que existam 5,2 bilhões de usuários ativos da internet, eles estão concentrados nos países mais ricos. Na Europa, por exemplo, 87% da população usa internet, enquanto na África são apenas 33%.

Ingrid Barth, presidente da Abstartups e líder do Startup20, lembra que a tecnologia é meio, não o fim.

— O foco tem de ser o negócio. Isso significa que não é necessário ter o software de gestão mais avançado para que uma estratégia dê certo; às vezes, é mais interessante investir em redes sociais. O nosso grupo de engajamento discute como podemos facilitar esse investimento, seja por meio de políticas públicas, seja por meio de fundos de investimento privado e soberano — afirma.

Além disso, a Startup20 debate regulação, políticas públicas e ESG.

— Não dá para falar em transformação tecnológica quando existem pessoas à margem — diz Ingrid.

A especialista explica que o grupo, composto por pessoas da sociedade civil e não apenas do governo, nasceu da relevância das startups para o produto interno bruto do G20. Hoje, segundo estatísticas indianas, elas representam 15% do PIB do bloco econômico. Quando somadas às pequenas e médias empresas, esse percentual salta para 61%.

— É uma fatia muito relevante para a gente não discutir como melhorar indicadores, potencializar negócios e se beneficiar economicamente de temas, como empreendedorismo, tecnologia e inovação.

Já o grupo de transformação digital do B20, que conta com 165 integrantes de 64 países, tem como objetivo elaborar um documento com recomendações e até seis políticas de ação para compartilhar com os líderes do G20.

— O grande desafio é que precisa haver consenso entre as partes, mas a boa notícia é que estamos chegando perto da construção do documento— conta Moraes.

Ao todo, são três recomendações. A primeira é calcada na inclusão digital, ou seja, nos meios que podem ser adotados para aumentar a conectividade.

— Cerca de 33% da população mundial não têm conexão. É um percentual muito grande — diz Moraes. — A ideia não é que a pessoa vire um programador. Mas é como fazer com que ela use o Pix para comercializar algo, por exemplo.

A segunda recomendação está baseada em cibersegurança e dados. Aqui, o objetivo, de acordo com Moraes, é dar diretrizes de como criar uma colaboração internacional para proteger, investigar e coibir os crimes digitais.

— Lembrando que muitas vezes os hackers não veem fronteiras.

Também se discute como estabelecer um fluxo de dados, respeitando a privacidade das pessoas, para que se possa acelerar inovações, como o desenvolvimento de novos medicamentos.

Por fim, o grupo se debruça sobre inteligência artificial.

— O foco é criar uma zona de equilíbrio entre potencializar o poder transformador da IA e criar itens de responsabilidade de modo a não criar novos riscos para as pessoas, organizações e nações.

Ingrid acrescenta que a Startup20 também discute a regulamentação de IA.

— IA pode ser um meio para facilitar o entendimento das tecnologias. Afinal, não é necessário saber como elas funcionam para que elas ajudem no seu negócio. Também debatemos políticas públicas, e uma das coisas que venho batendo na tecla é entender quais são as vocações dos países, principalmente, falando em inovação. O mapeamento é muito importante para a gente pensar em educação tecnológica e empreendedora.”

Moraes lembra que a corrida da inteligência artificial ainda está em curso. Para ele, é necessário acelerar a IA em segmentos em que o Brasil tem relevância, de modo a buscar eficiência.

— Não precisamos começar do zero, podemos fazer boas aplicações em cima do que já existe, mas com responsabilidade.

Mas, para isso, um ponto importante, segundo o especialista, é definir um conceito, padronizar a terminologia em todo o mundo. Também é essencial definir princípios básicos a serem seguidos.

— É necessário ainda olhar a regulamentação com duas óticas: harmonizar as regulamentações que a gente já possui e fazer abordagem por risco.

Em 2023, o número de pessoas que acessam internet no Brasil aumentou três pontos percentuais em relação ao ano anterior, passando de 81% para 84% da população, de acordo com levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Mas há disparidades.

Na classe A, o índice chega a 97%, contra 69% nas classes D e E. O cenário também se repete em termos de escolaridade: enquanto entre os que têm ensino superior o percentual é de 97%, entre analfabetos o valor é de 32%.

— Temos que usar toda a inovação para trazer benefício físico para a vida das pessoas. Se a gente quer ter um futuro digital e inclusivo, o desafio é como desenhar isso de modo a não aumentar as desigualdades e, sim, diminuí-la. Afinal, no mundo há 735 milhões de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza, 40% da população não têm acesso à saúde básica e há a tendência de que haja aumento 1,5 ºC a temperatura do globo até 2030 — explica Moraes.

Para combater a exclusão, é necessário prover acesso, o que significa que a rede de telecomunicação tem de estar disponível em todas as regiões. Além disso, o preço tem que caber no bolso das pessoas.

— Para isso, é preciso criar modelos, como parcerias público-privadas, para tornar o custo da tecnologia acessível. Por fim, é importante que as pessoas saibam como extrair benefícios das inovações tecnológicas.

O especialista cita o caso do Pix, que viabilizou a criação de pequenos negócios em todo o Brasil, ao dar acesso a um sistema de pagamento de fácil compreensão. Outro exemplo vem do Peru que fez um trabalho de conexão para todos. Em três anos, 3,5 milhões de pessoas passaram a ter conectividade.

Fonte: O Globo

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