ATACMS: Ucrânia começa a usar contra a Rússia mísseis de longo alcance enviados ‘secretamente’ pelos EUA; conheça

Novos mísseis ATACMS são as mais novas armas usadas pela Ucrânia contra a Rússia
Novos mísseis ATACMS são as mais novas armas usadas pela Ucrânia contra a Rússia — Foto: Reprodução

Os Estados Unidos confirmaram ter entregue às forças ucranianas mísseis de longo alcance que, até então, o governo de Joe Biden se recusava a fornecer para o combate do aliado contra a Rússia. Um porta-voz do Pentágono, tenente-coronel Garron Garn, detalhou que os novos armamentos ATACMS (Sistemas de Mísseis Táticos do Exército) foram “discretamente” incluídos no pacote de ajuda de US$ 300 milhões anunciado em 12 de março e repassado a Kiev no início deste mês.

Segundo a CNN, Biden aprovou secretamente, em fevereiro, a transferência de mísseis ATACMS de longo alcance para o território ucraniano, depois de uma reavaliação de temores quanto ao impacto na prontidão militar de Washington e a um possível agravamento do conflito. Uma fonte disse à rede americana que Biden determinou a aquisição e a entrega dos armamentos depois que Moscou comprou e usou mísseis balísticos norte-coreanos contra a Ucrânia.

— Tínhamos alertado a Rússia contra a aquisição de mísseis balísticos norte-coreanos e contra a renovação dos seus ataques contra a infraestrutura civil da Ucrânia — disse outro porta-voz do Pentágono, major Charlie Dietz. — Com as nossas preocupações de prontidão resolvidas, conseguimos cumprir o nosso alerta e fornecer este arsenal de longo alcance à Ucrânia.

As autoridades americanas disseram que a entrega dos novos mísseis não foi anunciada publicamente para manter a “segurança operacional” da Ucrânia. Os mísseis ATACMS de longo alcance já foram usados ao menos uma vez, em ataques contra alvos russos na Crimeia.

As forças da Ucrânia usaram mísseis americanos ATACMS contra a Rússia pela primeira vez em outubro do ano passado, depois que Joe Biden superou a relutância em fornecer as armas. A decisão de enviar os mísseis, na ocasião, representou uma mudança por parte de Washington em um momento em que os militares ucranianos lutam em uma contraofensiva no Sul e no Leste do país. Biden temia que o envio de armas mais poderosas pudesse agravar o conflito.

A Ucrânia usou os mísseis ATACMS, naquele momento, para atacar duas bases aéreas em território ocupado pela Rússia, segundo uma autoridade americana familiarizada com o ataque. A versão do míssil enviado à época, porém, tinha alcance limitado, de até 160 quilômetros. A unidade de longo alcance dos ATACMS — agora à disposição de Kiev — pode atingir até 300 quilômetros.

Ainda de acordo com a CNN, os Estados Unidos trabalharam nos bastidores para resolver preocupações sobre a disponibilidade do armamento. Os mísseis ATACMS de longo alcance requerem tempo e componentes complexos para a produção. Um porta-voz da fabricante Lockheed Martin disse, em setembro, que aproximadamente 500 unidades são feitas por ano.

No fim do ano passado, uma das condições impostas aos ucranianos era que o ATACMS – que significa Sistema de Mísseis Táticos do Exército, e pronunciado “ems de ataque” – não fosse usado para atacar dentro do território russo, disse uma autoridade ao jornal The New York Times.

A versão do míssil ATACMS enviada aos ucranianos era uma munição cluster que dispara 950 pequenas bombas que podem causar danos numa vasta área. Armas desse tipo são proibidas por um acordo internacional que os Estados Unidos não assinaram.

Os mísseis ATACMS são o segundo tipo de arma de fragmentação que os EUA forneceram à Ucrânia. Em julho, a administração Biden começou a fornecer à Ucrânia projéteis de artilharia de 155 milímetros, cada um contendo 72 submunições menores projetadas para destruir veículos blindados e soldados inimigos.

Os mísseis eram armas mais antigas que, devido à proibição internacional, o Pentágono disse que não sabia como utilizar em um conflito envolvendo forças americanas e por isso concordou em fornecê-las à Ucrânia. As versões mais recentes do ATACMS têm uma única carga explosiva nas suas ogivas, e os EUA concluíram que o seu próprio arsenal era tão pequeno que não se podia dar ao luxo de abandoná-las.

Durante mais de um ano após o início da guerra, a Casa Branca rejeitou as exigências de Zelensky relativas às armas. Parte da preocupação era que a Ucrânia pudesse usar a versão de mísseis de maior alcance para atingir alvos no interior da Rússia e, durante algum tempo, as autoridades americanas acreditaram que o uso do ATACMS poderia cruzar uma das “linhas vermelhas” que levaria a Rússia a elevar sua escalada contra o país vizinho.

Mas esse pensamento mudou estimulado, pelo menos em parte, pelo fato de mísseis semelhantes de longo alcance terem sido fornecidos pela Grã-Bretanha e pela França no início de 2023, e a sua utilização em batalha não ter provocado uma grande reação russa.

Os sistemas de mísseis que os Estados Unidos entregaram em outubro poderiam atingir alvos a 160 quilômetros de distância. Isto significa que os mísseis SCALP franceses e os Storm Shadows britânicos que foram utilizados para atingir alvos russos, incluindo na Crimeia, continuavam a ser as armas de maior alcance da Ucrânia.

O ATACMS americano foi concebido no final da Guerra Fria para o que os militares chamam de missões de ataque profundo em alvos inimigos prioritários.

Na era pré-GPS, o míssil era uma rara arma guiada lançada no solo no campo de batalha das décadas de 1980 e 1990, construída para ser disparada do veículo de lançamento M270 do Exército, que podia transportar dois de cada vez. Em comparação, o veículo HIMARS menor, que o Pentágono forneceu a Kiev em 2022, só pode transportar um único ATACMS de cada vez.

Fonte: O Globo

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