Assustados com a violência, moradores de bairro de BH passam a usar apito como alerta

O bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte
O bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte — Foto: Divulgação/PBH

A associação de moradores Vila São Vicente começou a distribuir na semana passada 300 apitos para quem mora no bairro Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, uma das regiões mais tradicionais da cidade. O sentimento de insegurança fez surgir a ideia de formar uma rede de vizinhos que possam se comunicar para coibir a criminalidade, em especial os casos de furtos e arrombamentos de residências e do comércio. Se alguém vir alguma situação suspeita, sopra o apito e o som é propagado pela rede de vizinhos.

As pessoas estão preocupadas, com medo e é ótimo que elas se unam para buscar alternativas para garantir mais segurança na região. A associação de moradores proporcionou esse debate na busca de soluções, mas a proposta, o apitaço, nos faz pensar em algumas questões: a ação pode efetivamente intimidar os criminosos?

Com tanta tecnologia atualmente, por que não adotar aplicativos ou mesmo um grupo de WhatsApp? Apitar por engano, uma criança por exemplo, não daria brecha para um pânico desnecessário? Como não cometer injustiças ao chamar a atenção de toda a comunidade para alguém que ‘pareça’ um bandido, e se não for?

O doutor em sociologia, especialista em segurança pública e coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública da PUC Minas, Luis Flávio Sapori, lembra que a rede de vizinhos protegidos é realizada em outros bairros de BH, tendo começado pelo bairro Caiçara, com relativo sucesso no aumento da vigilância das ruas do bairro. Entretanto, o que tem funcionado é o grupo de WhatsApp com a participação do policial militar que atua na região.

“O maior risco do apito é você achar suspeito, por exemplo, um entregador de pizza, o motoboy que está ali na região. Infelizmente, o sentimento de insegurança das pessoas das grandes cidades hoje as leva-as a terem muito estereótipos em relação a quem que é suspeito. Pode ser um motociclista circulando, geralmente da cor negra, alguém não tão bem vestido ou uma pessoa (desconhecida dos moradores) que está ali visitando um amigo uma amiga. E aí a gente está falando de reforço de estereótipos e não só com o apito até mesmo utilização de WhatsApp”, alerta Sapori.

Infelizmente não são raros no Brasil os casos em que pessoas são acusadas injustamente. A velocidade das redes sociais não dá nenhuma possibilidade de defesa. O tribunal da internet, ou de um grupo de Whatsapp, pode dar a sentença a um suspeito baseado em fake news.

Um dos casos mais revoltantes da nossa história digital foi o espancamento e morte de uma dona de casa por dezenas de moradores no Guarujá, litoral de São Paulo, em 2014. Ela foi assassinada depois de um boato postado em uma rede social que afirmava que a mulher sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Os sequestros nunca existiram e uma série de coincidências infelizes fizeram com que os vizinhos se mobilizassem para agredi-la.

Sapori recomenda buscar sempre o auxílio da Polícia Militar. “Não cabe a uma rede vizinhos protegidos querer assumir o trabalho, o papel da polícia, é esse o risco. Não podem querer de alguma maneira se tornarem justiceiros no bairro. É fundamental a participação da Polícia Militar porque é ela que tem que ser acionada. Esse entrosamento é o segredo do sucesso dessa experiência”, conclui.

Fonte: O Globo

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